Bolsonaro veta lei que repassa verbas para recuperar setor cultural
A proposta da Cรขmara deixava a definiรงรฃo das diretrizes do programa estabelecido pela lei a cargo da Secretaria Especial da Cultura, que tinha atรฉ 90 dias para realizar a aรงรฃo

Diamantino Junior
Publicado em: 06/04/2022 ร s 10:08 | Atualizado em: 06/04/2022 ร s 10:08
O presidente Jair Bolsonaro vetou um projeto de lei, batizado de “Lei Paulo Gustavo”, que previa o repasse de R$ 3,86 bilhรตes em recursos federais a estados e municรญpios para o enfrentamento dos efeitos da pandemia da covid-19 sobre o setor cultural.
A informaรงรฃo foi divulgada nesta terรงa-feira (05) pela Secretaria-Geral da Presidรชncia e o veto foi publicado na ediรงรฃo desta quarta-feira (06) do “Diรกrio Oficial da Uniรฃo (DOU)”. O Congresso ainda pode derrubar o veto.
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A proposta visava homenagear o ator e humorista Paulo Gustavoย que morreu em maio do ano passado, vรญtima da covid-19. Ele era um dos artistas mais populares do paรญs e faleceu aos 42 anos no Rio de Janeiro.
O projeto รฉ de autoria do senador Paulo Rocha (PT-PA) e foi aprovado pelo Senado em novembro de 2021. Em fevereiro, quando passou pela Cรขmara, foi modificado e, por isso, retornou para anรกlise dos senadores. Em marรงo, foi aprovado novamente pelo Senado e enviado para sanรงรฃo presidencial.
A proposta, vetada por Bolsonaro, estabelecia que seriam repassados 3,86 bilhรตes aos estados e municรญpios para o enfrentamento dos efeitos da pandemia da covid-19 sobre o setor cultural, destes: R$ 2,79 bilhรตes seriam destinados a aรงรตes no setor audiovisual e R$ 1,06 bilhรฃo para aรงรตes emergenciais no setor cultural.
Para custear o repasse, a proposta autorizava o uso de: dotaรงรตes orรงamentรกrias da Uniรฃo; superรกvit financeiro de receitas vinculadas ao Fundo Nacional de Cultura; e outras fontes nรฃo especificadas no projeto.
Entre os argumentos apresentados pela secretaria-geral da presidรชncia para o veto da proposta, estรก que o projeto contrariava o interesse pรบblico jรก que criava uma despesa sujeita ao teto de gastos โ regra que limita o crescimento da maior parte das despesas pรบblicas ร inflaรงรฃo โ e nรฃo apresentava “compensaรงรฃo na forma de reduรงรฃo de despesa, o que dificultaria o cumprimento do referido limite”.
Alรฉm disso, a pasta afirmou que “ao criar a obrigatoriedade do repasse pelo Governo federal de recursos provenientes de fundos como o Fundo Nacional de Cultura aos Estados, aos Municรญpios e ao Distrito Federal, a proposiรงรฃo legislativa enfraqueceria as regras de controle, eficiรชncia, gestรฃo e transparรชncia elaboradas para auditar os recursos federais e a sua execuรงรฃo”.
O governo disse ainda que o projeto iria comprimir outras despesas discricionรกrias (nรฃo obrigatรณrias) em outras รกreas que “se encontram em nรญveis criticamente baixos”. Entre elas, “aquelas relacionadas ร s รกreas de saรบde, educaรงรฃo e investimentos pรบblicos, com enrijecimento do orรงamento pรบblico, o que implicaria dano do ponto de vista fiscal”.
Bolsonaristas criticavam a proposta
Quando o projeto foi aprovado no Senado, o entรฃo secretรกrio especial de Cultura, Mario Frias, disse em suas redes sociais que a proposta era inconstitucional.
“ร um absurdo. A manobra feita รฉ completamente inconstitucional. A Cรขmara dos Deputados tinha conseguido apresentar uma proposta razoรกvel, mas foi completamente descartada”, afirmou Frias.
A proposta da Cรขmara deixava a definiรงรฃo das diretrizes do programa estabelecido pela lei a cargo da Secretaria Especial da Cultura, que tinha atรฉ 90 dias para realizar a aรงรฃo.
Na prรกtica, a modificaรงรฃo ampliava o poder do governo federal sobre os repasses. No Senado, essa mudanรงa foi rejeitada.
Na ocasiรฃo, o deputado deputadoย Eduardo Bolsonaroย (PL-SP) tambรฉm se manifestou em suas redes. “Nรฃo queremos mais uma CPI da Rouanet, mas agora com o nome do artista. Trabalhemos pelo veto na Cรขmara e sua manutenรงรฃo”, disse o parlamentar.
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Foto: Alan Santos/Agรชncia Brasil