Maduro adere ao capitalismo e estimula retorno de venezuelanos 

Sanções impostas pelo governo americano e o isolamento do paĂ­s levaram NicolĂ¡s Maduro a aceitar a abertura econĂ´mica

maduro, capitalismo, retorno, venezuelanos

Publicado em: 10/07/2022 Ă s 14:07 | Atualizado em: 10/07/2022 Ă s 14:07

O presidente socialista da Venezuela, NicolĂ¡s Maduro, decidiu adotar medidas da economia livre para tirar o paĂ­s do caos com a inflaĂ§Ă£o chegando aos 800% ao ano. No momento, a inflaĂ§Ă£o navega na mĂ©dia mensal de 3%.

Desde 2013 mais de 6 milhões de venezuelanos abandonarem o paĂ­s por falta de comida, desemprego e elevado custo de vida, conforme publicaĂ§Ă£o da BBC News, reproduzida por G1 (na foto, venezuelanos em Manaus, AM).

Em 2016, quando a economia da Venezuela caĂ­a 18,6%, e a inflaĂ§Ă£o batia todos os recordes, chegando perto de 800%, FĂ¡tima Camacho foi um dos milhões de venezuelanos que empacotaram suas vidas e partiram para o exterior. 

Naquela Ă©poca, a fome, o desemprego, o alto custo de vida e o salĂ¡rio mĂ­nimo baixo, que era insuficiente para pagar atĂ© uma cesta bĂ¡sica, impulsionaram muitos a buscar uma vida melhor em outros paĂ­ses da AmĂ©rica do Sul e do mundo. 

De volta para casa

Ainda que muitos destes problemas permaneçam para a imensa maioria, em abril passado, Camacho, de 31 anos, decidiu que era o momento de retornar ao seu paĂ­s. 

Ela voltou a empacotar tudo o que tinha e pegou novamente a estrada que a havia levado ao Peru seis anos antes. 

Mas, desta vez, se mudou com o filho de trĂªs anos para MaturĂ­n, no leste da Venezuela. 

“O isolamento que vivemos em Lima afetou muito o meu filho. Tivemos que levĂ¡-lo para fazer vĂ¡rias terapias. Culturalmente, tambĂ©m nunca conseguimos nos adaptar ao Peru”, explica a jovem em entrevista Ă  BBC News Mundo, o serviço de notĂ­cias em espanhol da BBC.

FĂ¡tima Camacho, voltando para casa
Foto: arquivo pessoal

“AlĂ©m disso, ouvi dizer que a economia melhorou um pouco e queria passar mais tempo com a minha famĂ­lia. Quero que meu filho desfrute do contato com ela”, acrescentou. 

Camacho Ă© parte de um novo fenĂ´meno que se faz cada vez mais visĂ­vel em todas as cidades venezuelanas: o retorno de emigrantes que haviam deixado a Venezuela para viver, em sua maioria, em outros paĂ­ses da AmĂ©rica do Sul. 

Apesar dos familiares de Camacho dizerem que a situaĂ§Ă£o estĂ¡ “mais estĂ¡vel”, ela foi precavida: “Deixei meu marido em Lima. NĂ£o nos arriscamos a vir os dois, porque nĂ£o tĂ­nhamos certeza de que as coisas estavam boas.”

Leia mais

Refugiados: 717 mil venezuelanos chegaram ao Brasil desde 2017 

Sinais de recuperaĂ§Ă£o 

A grave crise econĂ´mica que afeta a Venezuela desde 2013 e que levou mais de 6 milhões de venezuelanos a abandonarem o paĂ­s, parece ter chegado a um limite, segundo especialistas. 

De fato, faz alguns meses que a economia venezuelana mostra alguns sinais de recuperaĂ§Ă£o. 

Em março, o paĂ­s sul-americano registrou uma taxa mensal de inflaĂ§Ă£o de 1,4%, a mais baixa desde setembro de 2012.

Em abril, subiu para 4,4%, mesmo assim bem abaixo dos 24,6% registrados em abril de 2021. 

AlĂ©m disso, a produĂ§Ă£o de petrĂ³leo, principal fonte de riqueza do paĂ­s, começou a aumentar no final do ano passado, depois de alcançar um mĂ­nimo histĂ³rico em 2020, quando caiu para 434 mil barris por dia. 

Em dezembro do ano passado, a Venezuela produziu 718 mil barris por dia e, desde entĂ£o, a produĂ§Ă£o se mantĂ©m pouco abaixo dos 700 mil barris. 

Ainda que esta quantidade ainda seja muito pequena para um paĂ­s que produzia mais de 3 milhões de barris por dia em 1998, e que tem as maiores reservas de petrĂ³leo bruto do mundo, ela quase duplicou em comparaĂ§Ă£o com a queda histĂ³rica de 2020.

Dados otimistas

A ComissĂ£o EconĂ´mica para a AmĂ©rica Latina (Cepal) prevĂª que neste ano a Venezuela serĂ¡ um dos paĂ­ses que mais vĂ£o crescer na regiĂ£o.

A previsĂ£o Ă© de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O Fundo MonetĂ¡rio Internacional, por outro lado, prevĂª um crescimento mais modesto da Venezuela: 1,5%. 

O economista venezuelano Luis Vicente LeĂ³n explica que Ă© uma melhora “sobre uma pequena parte do que costumava ser” a economia venezuelana. 

Ele avalia que as sanções impostas pelos Estados Unidos e o isolamento do governo obrigaram o presidente NicolĂ¡s Maduro a aceitar uma abertura econĂ´mica. 

“A pressĂ£o e a perda de controle do governo sobre a economia o obrigaram a permitir uma dolarizaĂ§Ă£o de fato da economia e tambĂ©m levou a processos de abertura de preços e de menor hostilidade com o setor privado”, diz LeĂ³n, que tambĂ©m Ă© presidente da consultoria DatanĂ¡lisis. 

“A economia segue sendo pequena, mas estĂ¡ em melhor condiĂ§Ă£o que hĂ¡ dois anos.

Leia mais no G1 

Foto: Karla Vieira/Semcom