Braga perde recurso para virar pardo e vai continuar branco

Mudanรงa de raรงa poderia lhe dar mais tempo de TV e mais recurso financeiro para sua campanha a governador

Eduardo Braga pardo

Neuton Corrรชa, do BNC AMAZONAS

Publicado em: 13/09/2022 ร s 05:08 | Atualizado em: 13/09/2022 ร s 05:08

O senador e candidato a governador do Amazonas Eduardo Braga (MDB) perdeu recurso no TRE-AM na sua tentativa de trocar de raรงa.

O parlamentar registrou candidatura como branco, mas no dia 24 de agosto ele pediu que sua raรงa fosse ajustada. Isso porque estava se autodeclarando pardo.

Imediatamente, a comissรฃo de registro de candidatura do TRE-AM operou a mudanรงa.

No entanto, o jornalista Ronaldo Tiradentes desconfiou da mudanรงa e impugnou o ajuste racial do candidato.

Ele desconfiava que Braga poderia usar o expediente para obter mais tempo de TV e mais recurso pรบblico de campanha.

Isso porque mudanรงas feitas na legislaรงรฃo eleitoral nos รบltimos anos beneficiam candidatos de origem africana.

Obstรกculo

Mas o relator do registro de candidatura de Braga, desembargador eleitoral Victor Liuzzi, de pronto, mandou desfazer o ajuste de pele.

O magistrado justificou que a mudanรงa de raรงa foi feita sem que ele, relator, tivesse sido consultado. Com isso, abriu prazo para ouvir o MPE e o prรณprio candidato.

Em sua resposta, Braga juntou seu certificado de dispensa do Exรฉrcito e fotos de seu pai (imagem do post) para provar que รฉ, sim, pardo, afrodescendente.

Recurso negado

Na รบltima decisรฃo do caso, tomada ontem pelo relator Victor Liuzzi, o magistrado mostrou que a mudanรงa nรฃo รฉ tรฃo simples como Braga imaginou que fosse.

Primeiro, lembrou que, em eleiรงรตes passadas, o polรญtico sempre se declarou branco. Depois, citou um julgado que diz que, para que um candidato seja incluรญdo em polรญticas de cota, precisa-se observar se ele tem alguma caracterรญstica que possa lhe causar preconceito.

“As aรงรตes afirmativas sรฃo polรญticas pรบblicas com o objetivo de corrigir desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos. Assim, para que algum candidato seja incluรญdo nas cotas รฉ necessรกrio que se observe, que ele tem fenรณtipo que pode lhe gerar preconceito”, cita o julgador.

O magistrado diz tambรฉm em sua decisรฃo que, embora haja essa possibilidade de mudanรงa de cor, a Justiรงa Eleitoral ainda nรฃo a regulamentou.

“Tanto no TSE como neste Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas nรฃo foi constituรญda uma comissรฃo de heteroidentificaรงรฃo para auxiliar nos eventuais questionamentos”, diz Liuzzi, citando o que jรก vem ocorrendo nas universidades pรบblicas.

“Esse formato fiscalizatรณrio para cota raciais, jรก vem sendo adotado nas principais universidade pรบblicas como forma de coibir eventuais fraudes ou abusos. Nas instituiรงรตes de ensino, a comissรฃo รฉ composta, geralmente, por cinco especialistas em questรตes raciais que atuem na unidade. Eles serรฃo responsรกveis por avaliar caracterรญsticas fenotรญpicas do candidato โ€” textura do cabelo, formato dos lรกbios e do nariz e a cor da pele โ€” para apurar se houve alguma irregularidade no preenchimento de autodeclaraรงรฃo”.

Foto: Reproduรงรฃo