Os municípios amazonenses de Beruri e Boa Vista dos Ramos estão em uma lista de 14 dos que ficaram mais vulneráveis com o desmonte do programa Mais Médicos no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Por meio da Lei de Acesso à Informação, a revista Piauí obteve os dados de 2018 e 2019 mostrando que o programa exercia papel essencial em 119 municípios brasileiros, todos concentrados nas regiões Norte e Nordeste.
“No começo de 2018, esses 119 municípios mais necessitados reuniam 544 profissionais do Mais Médicos. Com a saída dos cubanos, o número caiu para 127. Nos doze meses de 2019, as vagas abertas pelos cubanos foram sendo preenchidas”, revelou a revista.
Em 14 deles, diz a publicação, houve a perda de todos os profissionais de atenção básica e não voltaram a ter o mesmo número de médicos de antes.
Neles, o total de mortes evitáveis de crianças de até 5 anos saltou 58%: no total, pulou de 60 em 2018 para 95 no ano seguinte.
A publicação citou o estudo do pesquisador Júlio Cesar Schweickardt, da Fiocruz Amazônia, que avaliou o impacto dos cubanos no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do alto rio Solimões, onde vivem 71 mil indígenas.
“A pesquisa revelou que os cubanos chegavam a fazer, em algumas ocasiões, cinquenta consultas diárias e, com o trabalho deles, o número de nascimentos antecedidos de pré-natal aumentou em até quinze pontos percentuais. A falta do pré-natal é uma das maiores causas de óbitos fetais e mortalidade materna”.
Além dos dois no Amazonas, estão na lista cinco do Pará (Cachoeira do Arari, Gurupá, Monte Alegre, Novo Repartimento e Pacajá), três no Maranhão (Matões do Norte, São Félix de Balsas e Sítio Novo), um do Acre (Manoel Urbano), um de Alagoas (Jacuípe), um de Minas Gerais (Alvorada de Minas) e um do Piauí (Matias Olímpio).
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“Estarrecedor”
O ministro-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, classificou a reportagem como “estarrecedora”.
“Mostra como o ex-presidente negacionista desidratou o Mais Médicos e pôs no lugar um ninho de falcatruas, com casos de nepotismo, irregularidades administrativas, denúncias de assédio moral e malversação de verba pública”.
De acordo com Padilha, o governo anterior prejudicou “enormemente” o atendimento à saúde dos brasileiros mais pobres.
“Os personagens envolvidos fazem parte da turma negacionista que insistiu na cloroquina, que ignorou e-mails da Pfizer oferecendo vacina, que está no epicentro da tragédia humanitária dos ianomâmis”.
No ano passado, diz o ministro, o ex-presidente deixou de preencher 5 mil vagas: 4 mil do Mais Médicos e 1 mil do Médicos pelo Brasil.
O governo do presidente Lula da Silva (PT) relançou o programa abrindo 6.252 vagas em todo o país, incluindo mil postos inéditos para a Amazônia Legal.
Desse total, o Amazonas terá 478 vagas para 57 municípios do estado.
Foto: Alejandro Zambrana/Ministério da Saúde