Sergio Moro, ex-juiz federal da Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, está enfrentando um cenário político conturbado. Colegas do Senado já o consideram como “ex-senador em atividade”, “quase ex-senador” e “senador-zumbi”. Essas expressões foram compartilhadas com a coluna, mas os colegas pediram anonimato para evitar atritos políticos. Um deles ressaltou que a convivência política será breve.
No entanto, a preocupação com a etiqueta pode ser exagerada, uma vez que os políticos já consideram como certa a cassação de Moro e já estão se movimentando para a eleição suplementar que provavelmente será realizada no Paraná. A pré-pré-campanha para ocupar a vaga que pode ser aberta está em pleno andamento.
Moro é réu em ações relacionadas a abuso de poder econômico, caixa 2, uso indevido dos meios de comunicação e irregularidades em contratos, que tramitam no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR). Curiosamente, as ações foram apresentadas tanto pelo partido de Jair Bolsonaro, o PL, quanto pelo partido de Lula, o PT.
Senadores afirmam que se o TRE-PR decidir a favor de Moro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) provavelmente não tomará a mesma decisão. Eles citam como exemplo o caso da cassação da senadora Selma Arruda em Mato Grosso, em 2019, que resultou em novas eleições e na escolha de Carlos Fávaro (PSD) como novo senador.
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No PT, há interesse na vaga por parte de Roberto Requião, Zeca Dirceu e Gleisi Hoffmann. Entre os aliados de Bolsonaro, Ricardo Barros (PP) e Paulo Martins (PL) se colocaram à disposição dos partidos.
Alvaro Dias (Podemos), um defensor ferrenho da operação Lava Jato, foi um dos maiores entusiastas para que Moro ingressasse na política. Moro tentou a candidatura presidencial, mas acabou concorrendo ao Senado no Paraná e derrotando o padrinho político, o que gerou acusações de traição por parte dos eleitores de Dias.
Um dos senadores ouvidos expressou a sensação de que estão discutindo o legado de alguém que ainda está vivo. Outro destacou que Moro foi vítima de sua própria inexperiência na política partidária e da arrogância de acreditar que ainda estava no comando da 13ª Vara Federal de Curitiba durante sua candidatura. Todos concordam que ele é o único responsável por seu próprio destino.
Moro condenou Lula, abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro ao retirar o petista da eleição de 2018 e mantê-lo preso por 580 dias.
No entanto, com a revelação de mensagens de Telegram que indicavam colaboração entre Moro e procuradores da Lava Jato, seu trabalho foi questionado. O Supremo Tribunal Federal (STF) anulou sua condenação contra Lula e considerou Moro parcial no julgamento do caso.
Cristiano Zanin, advogado de Lula, com quem Moro teve embates ao longo do processo, ocupará uma cadeira de ministro no STF a partir de agosto – uma posição que Moro também ambicionava.
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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado