Empresa da ZFM vai inaugurar nova rota ao Pacífico
O novo caminho rompe a navegação pelo Atlântico, em meio a uma nova disputa marítima envolvendo China e Estados Unidos

Wilson Nogueira, especial para o BNC Amazonas
Publicado em: 23/05/2024 às 09:59 | Atualizado em: 23/05/2024 às 18:49
Enquanto as autoridades portuárias locais procuram uma solução mais barata para o comércio com os países asiáticos, a BDX Operações Portuárias, com matriz em Porto Velho RO), fará, daqui a 60 dias, a sua viagem inaugural entre Paita (Peru), no oceano Pacífico, e a capital da Zona França de Manaus (ZFM), no Amazonas.
A operação ocorrerá com o uso de transporte multimodal.
A partir daí, consolida-se, para a empresa, a nova rota para o comércio entre o Brasil e Ásia, através do Pacífico.
A BDX fará o transporte de 50 contêineres com eletroeletrônicos de uma grande companhia do polo industrial da ZFM até o porto amazonense.
A primeira e única viagem da BDX para Manaus aconteceu em 2008. Foi com um carregamento de 60 toneladas de fertilizantes, enquanto o Brasil importou, para a safra 2023/2024, quatro milhões de toneladas de adubos e fertilizantes.
Vantagens
Além de reduzir a viagem em 20 dias entre China e o Amazonas, em relação ao atalho do Canal do Panamá, o novo caminho é 1/3 mais barato. E a economia, por cada contêiner, é de US$ 3 mil, se comparada ao “custo Panamá”.
Os usuários do Canal do Panamá pagam US$ 10 mil por unidade de contêiner de 40 pés, enquanto custo da rota Manaus/Yurimaguas/Pacífico é de US$ 7 mil, segundo estimativa de empresas do setor.
“É só uma questão de tempo para essa rota se tornar um grande corredor comercial entre países asiáticos e o Norte e Centro-Oeste do Brasil”, prevê o diretor-presidente da BDX,
empresário Dário Lopes.
Carga de algodão
O empresário adiantou que está em fase de desembarque, em Porto Velho, uma carga de 20 mil toneladas de algodão do Mato Grosso do Sul, com destino à China. Enquanto isso, a BDX espera retornar com os contêineres carregados de eletroeletrônicos para Manaus.
Por outro lado, revela que outras empresas do PIM estão interessadas na logística da BDX.
Patagônia
Antes de Paita, a BDX e outros operadores multimodais chegavam ao mercado peruano através da Patagônia, no extremo sul da América do Sul, ou pelo contorno da costa atlântica brasileira, para atravessar Canal do Panamá, e alcançar os portos do Pacífico.
Lopes destaca que sua empresa opera no porto de Paita desde 2017, quando começou a transportar produtos de Rondônia, Mato Grosso e Rio Grande do Sul para o Peru.
O novo caminho começa em Porto Velho, pelo rio Madeira, até a sua foz, na altura de Itacoatiara (AM), sobe o rio Amazonas-Solimões até o porto peruano de Yurimaguas, no Departamento de Loreto.
De Yarumaguas, a carga segue em comboio de carretas por 900 quilômetros, pela rodovia Irrssa, até Paita.
Investimentos da China
As embarcações da DBX levam milho, frango, peixes e calçados e trazem arame, fertilizantes e rolamentos procedentes de Malásia, Japão e China principalmente.
Leia mais
Produtos da ZFM vão chegar à Ásia pelo porto de Chancay, no Peru
Chancay
Para Lopes, a rota Porto-Velho-Amazonas-Paita é uma realidade, enquanto Chancay ainda está em construção por meio de investimento chinês. O interesse por Chancay só reforça Paita como mais uma opção multimodal para a Oriente.
Lopes leva em consideração, também, que os chineses não investiriam na infraestrutura portuária do Peru senão para ter acesso aos mercados da América Latina, para escoar produtos acabados e semiacabados, mas, também, para importar alimentos e matéria-prima estratégica para a sua indústria.
Polo Industrial de Manaus
Embora esteja em atividade desde 2017, essa rota ainda não é utilizada pelas empresas do PIM. Só agora começa a despertar o interesse de transnacionais que dependem de insumos e peças fornecidos por companhias asiáticas.
Paradigma
Lopes entende que nunca é fácil quebrar um paradigma, principalmente no âmbito das grandes empresas. “Não é fácil arriscar em algo desconhecido. Tá pagando caro, mas está dando certo”, explica.
Lopes entende, por sua vez, que nem se trata de um caminho mais barato, mas, certamente, de mais uma opção de negócios para as empresas brasileiras.
“Agora as empresas estão chegando e nós estamos conversando com elas, para mostrar que essa rota para o Pacífico é viável e sustentável. Ela representa metade do tempo e metade do preço”, argumentou.
Cargas secas como suporte
O empresário acredita que, para o PIM, a rota Porto Velho-Paita será mais demandada a partir do aumento das cargas secas – milho, arroz, soja, algodão, minérios etc. – embarcadas em Porto Velho.
Assim, os contêineres de ida podem vir com cargas para a indústria e comércio de Manaus. Lopes lembra que, no ano passado, Rondônia, Mato Grasso e Goiás exportaram ao menos 22 milhões de toneladas de soja através da hidrovia do Madeira.
Isso representa, nas contas do empresário, cerca de 10% da safra de grãos do País. É possível que o corredor peruano para o Pacífico esteja no radar dos exportadores brasileiros do extremo Norte do Centro-Oeste.
Entre os maiores do mundo
A localização geográfica do porto de Paita determina como a zona natural de influência às regiões do Amazonas, Cajamarca, Lambayeque, Piura, Tumbes e San Martín
O porto foi construído em 1966 e reformado em 1966. Em 2008, se iniciou um novo reaparelhamento pela concessionária Terminais Euroandinas, inaugurado em 2014.
Com um investimento de US$ 155 milhões, o porto de Paita triplicou o rendimento do terminal. Hoje movimenta até 70 contêineres por hora/navio, enquanto em 2009 eram apenas de os 22 contêiners por hora/navio.
O equipamento tem capacidade para operar com navios de até 367 metros de comprimento, capacidade acima dos que cruzam o Canal do Panamá.
No ranque do setor, Paita é o terceiro maior porto do Peru.
Pioneirismo
A BDX, segundo Lopes, foi quem descobriu essa rota, a partir de contatos com operadores e órgãos do governo peruano interessados no desenvolvimento do Porto de Paita, em 2017.
Hoje, outras empresas operam nessa rota com sucesso.
“Rondônia aumentou seis vezes o seu comércio com o Peru [desde o novo caminho]”, informa Lopes.
“A tendência é aumentar ainda mais, uma vez que quanto mais produtos em um só comboio, mais diminuem os custos logísticos. O mesmo acontecerá com as empresas importadores e exportadoras amazonenses”, garante Lopes.
Foto: BNC Amazonas