Uso do Bolsa-FamĂ­lia nas apostas das bets deve ser impedido

Ministro Luiz Fux, do STF, ordena a proibiĂ§Ă£o imediata do uso de benefĂ­cios sociais em apostas online e a restriĂ§Ă£o de publicidade de sites de apostas voltada a menores.

Publicado em: 13/11/2024 Ă s 18:05 | Atualizado em: 13/11/2024 Ă s 18:06

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governo implemente imediatamente medidas de “proteĂ§Ă£o especial” para evitar que recursos de programas sociais, como o Bolsa-FamĂ­lia e o BenefĂ­cio de PrestaĂ§Ă£o Continuada (BPC), sejam utilizados em apostas on-line, conhecidas como bets. A decisĂ£o foi proferida nesta terça-feira (12/11).

AlĂ©m disso, o ministro determinou a aplicaĂ§Ă£o imediata de regras previstas em uma portaria do governo federal que proĂ­be a veiculaĂ§Ă£o de publicidade de sites de apostas para crianças e adolescentes. Inicialmente, essas regras estavam previstas para entrar em vigor apenas em janeiro de 2025, mas com a nova decisĂ£o, entram em vigor de imediato.

As medidas cautelares impostas por Fux tĂªm efeito imediato, mas ainda serĂ£o submetidas ao colegiado de ministros do STF para uma anĂ¡lise mais aprofundada.

A decisĂ£o foi tomada no contexto de uma AĂ§Ă£o Direta de Inconstitucionalidade (ADI), apresentada pela ConfederaĂ§Ă£o Nacional do ComĂ©rcio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), da qual Fux Ă© o relator.

A CNC questiona a legalidade de pontos da chamada “Lei das Bets”, alegando que algumas disposições da regulamentaĂ§Ă£o podem gerar prejuĂ­zos financeiros Ă s famĂ­lias brasileiras, especialmente devido ao comportamento arriscado de alguns apostadores.

O Supremo tem realizado audiĂªncias pĂºblicas com entidades governamentais e organizações da sociedade civil para discutir os riscos associados aos sites de apostas, como o endividamento, a dependĂªncia em jogos de azar (ludopatia) e o possĂ­vel uso dessas plataformas para lavagem de dinheiro.

Impacto ainda em avaliaĂ§Ă£o

Durante uma audiĂªncia realizada na segunda-feira (11/11), membros do governo afirmaram que ainda Ă© cedo para medir o impacto completo da regulamentaĂ§Ă£o das apostas on-line, que estĂ¡ prevista para começar a valer em janeiro de 2025.

Entretanto, reconheceram que as famĂ­lias mais vulnerĂ¡veis sĂ£o as mais suscetĂ­veis aos riscos financeiros associados Ă s apostas, algo jĂ¡ alertado pelo presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT).

A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, MacaĂ© Evaristo, afirmou que o fĂ¡cil acesso aos jogos de apostas online transforma cada celular em um “cassino no bolso”, o que pode ter consequĂªncias devastadoras para as famĂ­lias brasileiras.

JĂ¡ o advogado-geral da UniĂ£o, Jorge Messias, destacou dados que indicam que o setor de apostas on-line movimenta bilhões de reais no Brasil, potencialmente desviando parte significativa da renda familiar para os jogos de azar.

Por sua vez, o representante da AssociaĂ§Ă£o Brasileira de Emissoras de RĂ¡dio e TelevisĂ£o (Abert), Gustavo Binenbojm, reconheceu a realidade das apostas on-line e defendeu a regulamentaĂ§Ă£o jĂ¡ estabelecida pelo governo, que proĂ­be publicidades enganosas e abusivas.

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Ele ressaltou que a Lei 14.790, aprovada em 2023, representa um marco regulatĂ³rio rigoroso e alinhado com as melhores prĂ¡ticas internacionais.

A legislaĂ§Ă£o tambĂ©m proĂ­be qualquer mensagem que possa induzir o apostador a associar as apostas ao sucesso financeiro ou pessoal, alĂ©m de exigir alertas sobre os riscos de perdas econĂ´micas.

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Foto: Carlos Moura/SCO/STF