Ministro do STF censura reportagens de site e revista sobre Toffoli

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 15/04/2019 ร s 19:45 | Atualizado em: 15/04/2019 ร s 19:45
O site โO Antagonistaโ e a revista โCrusoรฉโ sofreram censura, nesta segunda-feira (15), pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes (foto) a pedido do presidente da corte, ministro Dias Toffoli. A ordem foi a retirada do ar de reportagens e notas que citam Toffoli, conforme publicaรงรฃo do Portal G1.
Segundo o portal, Moraes estipulou multa diรกria de R$ 100 mil e mandou a Polรญcia Federal ouvir os responsรกveis do site e da revista em atรฉ 72 horas.
“Determino que o site ‘O Antagonista’ e a revista ‘Crusoรฉ’ retirem, imediatamente, dos respectivos ambientes virtuais a matรฉria intitulada ‘O amigo do amigo de meu pai’ e todas as postagens subsequentes que tratem sobre o assunto, sob pena de multa diรกria de R$ 100.000,00 (cem mil reais), cujo prazo serรก contado a partir da intimaรงรฃo dos responsรกveis. A Polรญcia Federal deverรก intimar os responsรกveis pelo site ‘O Antagonista’ e pela Revista ‘Crusoรฉ’ para que prestem depoimentos no prazo de 72 horas”, diz a decisรฃo.
Alexandre de Moraes decidiu sobre a questรฃo porque รฉ relator de um inquรฉrito aberto no mรชs passado para apurar notรญcias fraudulentas que possam ferir a honra dos ministros ou vazamentos de informaรงรตes sobre integrantes da corte.
Segundo reportagem publicada pela revista na quinta (11), a defesa do empresรกrio Marcelo Odebrecht juntou em um dos processos contra ele na Justiรงa Federal em Curitiba um documento no qual esclareceu que um personagem mencionado em email, o “amigo do amigo do meu pai”, era Dias Toffoli, que, na รฉpoca, era advogado-geral da Uniรฃo.
Conforme a reportagem, no e-mail, Marcelo tratava com o advogado da empresa โ Adriano Maia โ e com outro executivo da Odebrecht โ Irineu Meireles โ sobre se tinham “fechado” com o “amigo do amigo”.
Nรฃo hรก menรงรฃo a dinheiro ou a pagamentos de nenhuma espรฉcie no e-mail.
Ao ser questionado pela forรงa-tarefa da Lava Jato, o empresรกrio respondeu: “Refere-se a tratativas que Adriano Maia tinha com a AGU sobre temas envolvendo as hidrelรฉtricas do Rio Madeira.
โAmigo do amigo de meu paiโ se refere a Josรฉ Antรดnio Dias Toffoli”.
Toffoli era o advogado-geral da Uniรฃo entre 2007 e 2009, no governo Luiz Inรกcio Lula da Silva.
Segundo a Crusoรฉ , o conteรบdo foi enviado ร Procuradoria Geral da Repรบblica para que Raquel Dodge analise se quer ou nรฃo investigar o fato.
PGR nega ter recebido material
Em nota oficial divulgada na sexta, a PGR afirmou que nรฃo recebeu nenhum material e nรฃo comentou o conteรบdo da reportagem: “Ao contrรกrio do que afirma o site ‘O Antagonista’, a Procuradoria-Geral da Repรบblica (PGR) nรฃo recebeu nem da forรงa-tarefa Lava Jato no Paranรก e nem do delegado que preside o inquรฉrito 1365/2015 qualquer informaรงรฃo que teria sido entregue pelo colaborador Marcelo Odebrecht em que ele afirma que a descriรงรฃo ‘amigo do amigo de meu pai’ refere-se ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli”.
Na prรณpria sexta, segundo a decisรฃo de Alexandre de Moraes, Toffoli mandou mensagem pedindo apuraรงรฃo, com o seguinte teor:
“Permita-me o uso desse meio para uma formalizaรงรฃo, haja vista estar fora do Brasil. Diante de mentiras e ataques e da nota ora divulgada pela PGR que encaminho abaixo, requeiro a V. Exa. Autorizando transformar em termo estรก mensagem, a devida apuraรงรฃo das mentiras recรฉm divulgadas por pessoas e sites ignรณbeis que querem atingir as instituiรงรตes brasileiras”, afirmou o presidente do Supremo.
Na decisรฃo, o ministro Alexandre de Moraes cita que o esclarecimento feito pela PGR “tornam falsas as afirmaรงรตes veiculadas na matรฉria โO amigo do amigo de meu paiโ, em tรณpico exemplo de fake news โ o que exige a intervenรงรฃo do Poder Judiciรกrio”.
“A plena proteรงรฃo constitucional da exteriorizaรงรฃo da opiniรฃo (aspecto positivo) nรฃo constitui clรกusula de isenรงรฃo de eventual responsabilidade por publicaรงรตes injuriosas e difamatรณrias, que, contudo, deverรฃo ser analisadas sempre a posteriori, jamais como restriรงรฃo prรฉvia e genรฉrica ร liberdade de manifestaรงรฃo”, afirmou.
Foto: Marcelo Camargo/ABr