Garimpeiros em terras ianomâmis no AM e RR já chegam a 20 mil

indígenas ianomâmis

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 19/05/2019 às 14:26 | Atualizado em: 19/05/2019 às 14:26

A invasão de garimpeiros à terra indígena dos ianomâmis, no Amazonas e Roraima, é crescente e já chega a 20 mil pessoas, segundo disse líder de aldeia à Folha. Ao lado de outros caciques, Davi Kopenawa foi aos ministérios da Justiça e da Defesa e na Funai, em Brasília, denunciar a situação e pedir providências.

Os índios estão sendo ameaçados de morte por garimpeiros, que andam armados de espingardas e pistolas, segundo os líderes.

Há fugitivos de presídios atuando nesses locais. “Lá para cima, onde está o garimpo, muito lixo, muito podre. Jogam coisas no lixo e às vezes cadáver também. Eles se matam lá. Tem fugitivos de penitenciária, tem drogas, bebidas”, disse outro líder indígena.

 

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Rios poluídos

Quatro rios da região foram tomados e poluídos pelas balsas dos garimpeiros, que já construíram até vila com pista de pouso e tudo para levar o ouro para outros lugares, deixando só o prejuízo ambiental e outros para os índios ianomâmis.

“Eles não estão trazendo nada [de bom]. Só estão trazendo problema. A doença que cria é a malária, já aumentou nesse lugar. Lá no Amazonas, na região Marari, a malária aumentou. Já matou quatro crianças”, disse Kopenawa.

A água dos rios ficou suja e barrenta, o que acabou com a pesca dos índios. O barulho de motores e das dragas nos rios espanta os animais e caçar ficou difícil.

 

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Aliciamento de jovens

Outro problema é o aliciamento de jovens indígenas pelos garimpeiros nas aldeias “Hoje em dia os jovens estão preocupados com o dinheiro. E jovens já estão envolvidos, são aliciados pelo garimpo […] Naquela região tem muitas corredeiras e os indígenas têm conhecimento para não bater em tocos [de madeira] e pedras”.

Até o ano passado, segundo os indígenas, o Exército atuava na região tentando coibir o garimpo, ainda que sem muitos resultados práticos. De setembro para cá, contudo, as atividades cessaram.

Os militares disseram aos indígenas que hoje os recursos estão sendo dirigidos para a operação de acolhimento de refugiados da Venezuela. Os indígenas apontam que as duas atividades são urgentes.

 

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Desconfiados com Bolsonaro

Kopenawa disse que a maioria dos ianomâmis é contrária à exploração mineral em suas terras.

“Eu tô achando que o governo Bolsonaro é muito difícil, [tem] pensamento diferente. Pensamento para ele [é que o garimpo] é bom. Mas, para nós, não é bom. O governo não vai apoiar a retirada dos garimpeiros. Eu acredito que não vai apoiar. Porque ele está querendo que os garimpeiros continuem”, afirmou Kopenawa.

Leia o que disseram os órgãos do governo na reportagem de Rubens Valente, na Folha.

 

Foto: Reprodução/selesnafes.com