Aguinaldo Rodrigues , da Redação
A discussão era sobre o futuro da Zona Franca de Manaus (ZFM) e alternativas ao atual modelo de incentivos fiscais. No palco e na plateia, representantes e especialistas da indústria do Amazonas e do país, como a Eletros, maior entidade dos empresários do setor eletrônico. Mas, ninguém do governo federal e muito menos da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) compareceu.
Era o seminário “Zona Franca de Manaus: impacto na economia nacional e alternativas para o crescimento”, promovido nesta segunda, dia 24, pelo jornal Folha de S.Paulo, em sua sede.
Convidado para a segunda das duas mesas montadas para discutir o tema, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), atacou de pronto a ausência total dos dirigentes do modelo.
“É um protesto muito claro. Lamento profundamente a ausência de representante do Ministério da Economia [órgão do governo federal que comanda a Suframa]. Deveriam ter interesse de discutir uma região estratégica, importante, a mais importante região estratégica do país”, afirmou.
Na rodada com Virgílio Neto estavam Maurício Mendonça, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e André Perfeito, economista.
A plateia tinha, entre outros, o presidente da Eletros, José Jorge Júnior, o presidente do Centro da Indústria do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, o vice-presidente da Federação da Indústria do Amazonas (Fieam), o ex-superintendente da ZFM (Suframa) Thomaz Nogueira, e os deputados federais Marcelo Ramos (PL) e Alberto Neto (PRB).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), foram cobrados por Virgílio Neto sobre declarações de compromisso com a ZFM.
“O presidente Jair Bolsonaro declarou em campanha que era a favor de fortalecer a Zona Franca de Manaus. Então, vejo isso como palavra empenhada e palavra que será cumprida”.
Quanto a Guedes, o prefeito amazonense cobrou sua declaração à bancada federal do Amazonas de que a ZFM não sairá prejudicada na reforma tributária em suas vantagens comparativas.
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Plano Dubai, de Guedes
O ministro foi ainda alvo de Virgílio Neto por ter espalhado que a ZFM representava uma renúncia de IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) da ordem de R$ 20 a 30 bilhões. Cálculos técnicos contrariaram Guedes, que admitiu depois que o valor é de apenas R$ 2,3 bilhões. “Ele [como ministro dessa área] tem o dever da exatidão, e deve ter apego à verdade dos fatos”.
Sobrou crítica também ao plano Dubai , que Guedes desenha para substituir os atuais incentivos fiscais pela implantação de polos econômicos na mineração, turismo e outros.
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Setor automobilístico
Citando vários exemplos de uso dos incentivos fiscais para o desenvolvimento econômico em vários países, Virgílio Neto disse que não foi o Amazonas e a ZFM que inventaram esse modelo no Brasil e no mundo.
“A ZFM tem desde 1967, e a indústria automobilística desde Juscelino Kubitschek (1956-1961)”, afirmou ao comparar o polo de produção de carros e o polo industrial de Manaus.
Para ele, se o país perdesse o polo automobilístico, seria de se lamentar, mas logo se recuperaria com a vinda de outras empresas. “Agora, o Brasil não pode perder a floresta amazônica. Um dos sustentáculos da floresta é precisamente a atividade econômica produzida pela ZFM. É do resultado dali que se sustentam 80% da economia da região”, disse o prefeito.
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Sucesso e dor de cabeça
Virgílio Neto foi muito aplaudido ao final de sua fala no seminário quando disse que “a ZFM é o mais exitoso modelo de desenvolvimento regional que este país já conheceu. É preciso as pessoas tirarem a venda dos olhos e perceberem que lá tem uma região importante sob qualquer aspecto: militar, ecológico, econômico”.
E alertou o governo federal da dor de cabeça que terá se tentar acabar com a ZFM e seu papel na preservação da floresta amazônica. “[Haverá] tensões diplomáticas e até militares pela importância da região para o mundo”.
Foto: Reprodução/Facebook