Diário de uma quarentena | 33º dia, 22 de abril – “Espero já ter sido contaminado”

Hoje é quarta-feira. São 19h02.

Como disse ontem, ainda não é seguro comemorar queda nos registros de casos do novo coronavírus (Covid-19) no Amazonas.

Do dia 14, quando a contaminação/dia chegou a 209 casos, até ontem, os números vinham caindo.

Mas hoje saltou para 209, depois dos 110 casos contados ontem.

Agora, o Estado chega a 2.479 infecções confirmadas e 207 mortes.

Nas ruas perto de casa, notei hoje que a vida começa a voltar ao normal, apesar do Governo e da Prefeitura ainda manterem medidas restritivas de isolamento social.

Vi congestionamento de carros e ônibus do transporte público superlotados.

Isso eu não via por aqui há mais de um mês.

Contudo, o fato de muita gente estar nos coletivos usando máscaras me fez crer que as pessoas já estão criando o que eu poderia chamar agora de cultura da pandemia.

Amazonas Pintado

Dia 2 de abril

Dia 22 de abril

Há 20 dias fotografei o nível de contaminação nos municípios amazonenses.

Naquele 2 de abril, oito cidades já registravam infecções pela doença. Hoje, são 32, incluindo a capital.

Isso significa dizer que o vírus já está em mais da metade dos 62 municípios que compõem o Amazonas.

Pode-se afirmar que a doença ataca o Estado de norte a sul e de leste a oeste.

Afrouxamento de isolamento 

Hoje, nove Estados brasileiros começaram a anunciar medidas de relaxamento da quarentena, que foi a primeira medida adotada pelos gestores públicos do País para tentar conter o grau de contaminação do vírus.

Há fé, literalmente, de que uso de máscaras e álcool em gel poderá ser a solução.

Mas a medida não tem apoio de especialistas que ainda acham cedo o relaxamento das medidas restritivas de comércio, transporte, indústria e outros setores da economia.

O governo central também já fala no pós-crise do coronavírus e apresentou um plano de investimento público em infraestrutura.

A OMS declarou hoje que o vírus não está controlado.

“Espero já ter sido contaminado”

Acordei rindo hoje. Ri porque despertei lembrando do sonho que tive.

O dia de ontem me impressionou tanto que até sonhei com a doença.

Mas o meu sonho era totalmente diferente do que penso.

E o que penso é que, com as medidas de isolamento e higiene que estou tendo, poderei, com sorte também, sair da crise sem contaminação.

Mas, no sonho, sentia dores e o corpo ardendo em febre e uma incrível dor de barriga que aliviava quando voltava do banheiro.

Numa dessas idas, aliviado, dizia para mim mesmo: “Se esse é o sofrimento, espero já ter sido contaminado pelo coronavírus”.

À tarde, senti dores no corpo e receei estar com febre, mas dormi e acordei muito bem.

*O autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas

Foto: BNC AMAZONAS