Este artigo foi escrito por mim já tem dez anos, modifiquei o lapso temporal e reescrevo para relembrar meus filhos e meus netos que são filhos duas vezes.
Sinto que economizamos nossos sentimentos, seja consciente ou inconscientemente, mesmo tendo como mote a vida é um sopro, somos levados pela maré do comodismo nos relacionamentos e arrastados pela onda do corre-corre da vida contemporânea.
Mas, hoje faço uma homenagem como pai e avô, uma reflexão de todos estes anos de convivência, ensinamentos e aprendizado; e de esperança em construir um alicerce seguro que possa suportar para sempre, em qualquer época, os solavancos desta vida, para que sejam sólidos de educação, caráter, dignidade, honra, respeito ao próximo e religiosidade.
Ficamos inertes em palavras e gestos com aqueles que amamos, incluindo ai, infelizmente, nossos próprios pais.
Por vezes, permanecemos à espera, quiçá, do dia dos pais para dar um presente, nem sempre agregado a um cartão que expresse nossos sentimentos e muito menos junto a um “eu te amo”.
Entretanto, nos achamos cada vez mais donos do nosso próprio nariz, independentes e detentores das rédeas de nosso próprio destino e nos esquecemos de que, se fomos vencedores da efusiva corrida pela vida – da concepção do espermatozóide campeão ao óvulo – tal vitória apenas foi possível de ser obtida, a partir da sublime e espetacular oportunidade de viver dada por nossos pais.
E o nascimento representa apenas o primeiro momento de uma longa jornada, pois é a partir dele que os genitores da criança começam a aprender o que de fato representa a palavra pai/mãe.
Imaginemos o que seria de nós, se eles não tivessem cuidado, dia após dia, de nossa saúde e educação.
Se hoje podemos caminhar com nossas próprias pernas, isso só foi possível após a luta incansável de nossos pais na batalha da criação, hoje vencida através de nossas próprias vidas.
É por essas e outras razões que, em homenagem aos pais, traduzo neste artigo a alegria indecifrável que é a experiência de poder gerar, cuidar, educar e amar um filho.
Ao mesmo tempo em que, cada dia mais, percebo, amadureço e solidifico a certeza da inigualável alegria que é ser filho.
Sempre achei interessante um trecho da música “Pais e filhos”, escrita por Renato Russo:
“Sou uma gota d’água / Sou um grão de areia / Você me diz que seus pais não lhe entendem / Mas você não entende seus pais / Você culpa seus pais por tudo / Isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser / Quando você crescer?”.
Ela nos faz perceber que nós, filhos hoje, somos os pais do futuro e, como tal, devemos buscar compreender mais nossos pais.
Felizes, pois, os filhos que ainda têm seus pais e podem participar dessa troca de experiências formidável.
Eu me considero feliz por ser filho do homem (infelizmente já partiu) e da mulher que Deus escolheu para serem meus pais, pois eles foram minha estrela guia, meu farol, meu alicerce, minha razão de viver.
Sempre me deram o exemplo da honestidade, da gratidão, da luta, da perseverança e me orgulham por servirem de espelho naquilo que fizeram e fazem.
Acho que também dei essa lição de vida e de amor aos meus filhos.
Por isso, você filho(a) não deixe para depois a palavra ou o gesto de carinho guardado a sete chaves.
Abra seu coração, pois amanhã pode ser tarde.
Como cantava Renato Russo, no refrão da canção já citada:
“É preciso amar as pessoas / Como se não houvesse amanhã / Por que se você parar, pra pensar / Na verdade não há.”
Feliz Dia dos Pais!
Aos meus filhos Rafael e Gabriel e aos meus netos Matheus e Bernardo.
*O autor é mestre e doutor em administração pública.
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