O contorcionismo de parte do jornalismo engajado

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Publicado em: 12/10/2017 ร s 12:22 | Atualizado em: 17/06/2018 ร s 06:05

Por Adalberto Piotto*

 

ร‰ mais um exemplo de visรฃo distorcida e omissa dessa gente que tem problemas em conviver 
com crรญยญticas e falta de coragem de se autoavaliar, reconhecer excessos, entender o
outro lado. Gente que se vitima sendo algoz pelos mesmos erros de intolerรขncia que 
julgam ter apenas o outro lado

 

O contorcionismo de parte do jornalismo engajado no mundinho artรญstico, tรญpico de quem tem problemas pra justificar o injustificรกvel, beira a hipocrisia. E tem levado muita gente a incorrer em erro de avaliaรงรฃo ao singularizar um fato de consequรชncias plurais.

Deram agora pra dizer que a nudez choca ao que eles denominam, ร  distรขncia, de sociedade brasileira. Seria a simples nudez, no entender dos pretensos iluministas de plantรฃo, a razรฃo de toda a polรชmica acerca da mostra do MAM de Sรฃo Paulo e as reaรงรตes inflamadas das pessoas.

Simplรณrio e maniqueรญsta.

E mais um exemplo de visรฃo distorcida e omissa dessa gente que tem problemas em conviver com crรญticas e falta de coragem de se autoavaliar, reconhecer excessos, entender o outro lado. Gente que se vitima sendo algoz pelos mesmos erros de intolerรขncia que julgam ter apenas o outro lado.

A nudez no Brasil nรฃo choca, carรญssimos. Vide o carnaval, as praias brasileiras e os selfs de redes sociais.

Tirem a crianรงa da sala โ€“ e consequentemente da foto โ€“ e o ator pelado declamando poesia, grunhindo ou calado serรก apenas uma performance de descolados, artistas, vanguardistas. No mรกximo, um bando de โ€œsem vergonhaโ€, para os mais puritanos. E acaba ali.

Mas tirem a crianรงa da sala! Isso รฉ essencial.

Depois, num exercรญcio sociolรณgico de se entender parte de um todo, compreendam que, sim, a classe artรญstica nรฃo estรก imune a crรญticas. Nem a reaรงรตes da sociedade brasileira que se tornou complexa, fruto de sua evoluรงรฃo, jรก falei disso.

Esses segmentos de artistas, jornalistas ou crรญticos, precisam aprender que eles tambรฉm tรชm apedrejado outros setores da sociedade, mesmo que metaforicamente, e nรฃo tรชm medido a pedra nem a forรงa com que a arremessam na vidraรงa alheia, sempre chamada, em tom inegavelmente pejorativo, de conservadora.

Embora eu nรฃo tenha nenhum apreรงo pelos excessos e condene a violรชncia sob metรกforas ou agressรตes verbais ou fรญsicas, o ativismo social รฉ um bem comum, disponรญvel a todos e, vimos, extremamente usado pelo coletivo.

Nรฃo hรก mais saรญda fรกcil nem iluminados que apontarรฃo o caminho como lรญderes inquestionรกveis e donos absolutos da vanguarda.

Serรก uma travessia por entre os tempos em conjunto, passo a passo, de uma sociedade que nรฃo estรก mais inerte.

Em tempo: e nos casos de uso de lei Rouanet, dinheiro pรบblico, a vigilรขncia serรก maior. Deve ser o tal orรงamento participativo.

 

*O autor รฉ jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba com especializaรงรฃo em economia pela Fipe-USP. Apresentador do โ€œCenรกrio Econรดmicoโ€, programa fruto da parceria da TV Brasil com a BM&FBovespa. ร‰ diretor e produtor do filme-documentรกrio โ€œOrgulho de ser brasileiroโ€ (2013), de sua autoria, que disseca o estilo de ser do brasileiro com todas as suas nuances e oscilaรงรตes de sentimento enquanto cidadรฃo. De 1999 a 2011, foi รขncora da CBN em Sรฃo Paulo, onde comeรงou como repรณrter. Em 2014, de julho atรฉ o inรญcio de dezembro, foi รขncora do โ€œJornal da Manhรฃโ€, noticiรกrio transmitido pela Jovem Pan. ร‰ palestrante nas รกreas de economia, realidade social brasileira e jornalismo.

 

Foto: Reproduรงรฃo/portal Comunique-se