Da Redação
O candidato ao Senado e professor da Ufam, Luiz Fernando Santos (PSOL), declarou, em entrevista ao BNC , que nunca houve uma bancada “tão medíocre” do Amazonas em Brasília.
O cientista social foi entrevistado nesta quinta-feira, dia 30, na rodada de entrevistas com os pretendentes das duas vagas do Amazonas no Senado pelos jornalistas Eustáquio Libório e Rosiene Carvalho.
Luiz Fernando Santos fez duras críticas aos nomes que tentam voltar ao Senado e que, na opinião, dele se vangloriam de “engodos” sobre a defesa da Zona Franca e de geração de emprego e renda na região por serem subservientes ao poder central e incapazes de representar a periferia, os indígenas e o caboco do Amazonas.
“O Senado amazonense, e não só o Senado, o parlamento federal amazonense, é um dos mais medíocres que a história da política amazonense já teve. Eu era menino e me lembro de Fábio Lucena, Jefferson Peres. Tivemos grandes parlamentares, grandes senadores e vivemos realmente um momento da mediocridade”, declarou.
Luiz Fernando disse também que os parlamentares do Amazonas são linha de frente do momento mais nefasto da política brasileira.
“A posição de subserviência é assustadora, de todos os parlamentares da Amazônia. A história recente do parlamento brasileiro, por exemplo, no caso do impeachment de Dilma, os parlamentares da Amazônia assumem a dianteira de dirigir os momentos mais nefastos da política brasileira. Isso é terrível. Assustador”, analisou.
Luiz Fernando deu sua opinião sobre os candidatos que já passaram pelo cargo de senadores e quem novo mandato de oito anos.
“Tem candidato ao Senado que passou a legislatura ajudando na construção de um conjunto jurídico que desmontou o mundo do trabalho e agora diz que vai defender a Zona Franca para garantir geração de emprego e renda para o Amazonas. Isso é um engodo. Você não pode cair nessa”, declarou.
“Portos construídos são maquiagens (…) São quimeras, que precisam ser desmontadas”
Alfredo Nascimento
“Tem um falando do que ele fez: 42 portos construídos no interior do Amazonas. E aí ele me diz que a saída é a BR-319 e que lutou pela BR-319. Portos construídos são maquiagens. Portos eram para escoamento de produção, para desenvolvimento tecnológico como tem o Porto de Santos. Esses portos são quimeras, que precisam ser desmontadas. É terrível”, declarou.
Vanessa Grazziotin
Luiz Fernado disse reconhecer que políticas econômicas do País melhoraram a vida das pessoas mais pobres, mas afirmou que a política salarial poderia ter sido melhor e ter diminuído a diferença de renda entre as classes sociais.
“E a senadora (Vanessa Grazziotin) apoiava essa política. A política de salário, a política para a universidade. que veio no desmonte do trabalho docente. A senadora não fez a crítica disso, ela apoiou esse projeto”, declarou.
O outro que já foi governador e hoje é senador e que promete geração de emprego e renda, a defesa da ZFM esteve à frente de um partido que promoveu uma infecção profunda na política brasileira (…) Esse candidato é ponta de lança desse partido que tem desmontado a vida da nação
Eduardo Braga
“O outro que já foi governador e hoje é senador e que promete geração de emprego e renda, a defesa da ZFM esteve à frente de um partido que promoveu uma infecção profunda na política brasileira. Ainda hoje pela manhã o presidente do partido dele anuncia uma mudança na lei orgânica da assistência social, que fere de morte o SUS. O SUS deixará de ser universal. Esse candidato é ponta de lança desse partido que tem desmontado a vida da nação”, declarou.
Para Luiz Fernando, Eduardo Braga não representa os interesses da população amazonense: “Ele não nos representa do ponto de vista daquilo que a periferia da Amazônia vive, a massa de trabalhadores, indígenas, cabocos do Estado do Amazonas necessitam. Ele não nos representa”, disse.
Defender a ZFM, para que efetivamente seja capaz de promover o desenvolvimento local, significa defender no Senado a revogação de um conjunto de reformas que atingiram profundamente os trabalhadores.
Projeto alternativo
Luiz Fernando é professor do curso de Ciências Sociais da Ufam e da UEA e tem estudos sobre a Amazônia e disse que a candidatura dele representa um coletivo do PSOL que quer discutir alternativas políticas para a Amazônia.
“Minha candidatura não é um projeto individual. Nasce a partir de um diálogo de correntes do interior do PSOL que acreditam que é possível construir um projeto alternativo à esquerda para a Amazônia e para o Amazonas”, disse.
Luiz Fernando disse que a sua principal proposta é a inclusão da população nas políticas públicas de governo. “Proposta de uma alternativa de modelo econômico, que as propostas de segurança pública sejam pensadas não pela criminalização da periferia, que a negritude, LGBTS, mulheres, etc, possam se sentir seguras e humanizadas neste sentido”, disse.
O candidato disse que defende a revogação de reformas que prejudicaram a população brasileira. “Porque defender a ZFM, para que efetivamente seja capaz de promover o desenvolvimento local, significa defender no Senado, e é isso que nos propomos, defender a revogação de um conjunto de reformas que atingiram profundamente os trabalhadores: reforma trabalhista, reforma do ensino médio, a proposta de reforma da previdência”, disse.
Nos anos 80, 80, a esquerda se identificava com a periferia e a periferia se identificava com a esquerda. Isso desapareceu. Nós perdemos espaço para o discurso conservador
Contradições da esquerda
Luiz Fernando foi questionado sobre as divergências de opiniões, declarações e posturas entre os candidatos majoritários do PSOL nas Eleições 2018.
“Não diria um racha, diria diferença de concepção de sociedade e das táticas para a construção de táticas para uma sociedade que seja diferente do que nós temos (…) Eu diria que a gente não tem convergência na educação, segurança pública, projeto de desenvolvimento da Amazônia”, disse.
As divergências de discursos, Luiz Fernando atribuiu a uma amadurecimento que ainda não ocorreu nem nos partidos de esquerda desde as manifestações de junho de 2013.
“A esquerda ainda está aprendendo a fazer a leitura da mudança radical que ocorreu na sociedade brasileira. O junho de 2013 não acabou, ainda está tendo rebatimento. E por que digo isso? Porque tivemos em vários pontos do País, ocupação de escolas, de universidades, a primavera feminista e o PSOL na esteira dessas grandes transformações esteve colado. A candidatura da Luciana Genro era a expressão dessas lutas (eleição de 2014)”, avaliou.
Luiz Fernando disse que candidaturas que destoam das bandeiras e estatutos dos partidos de esquerda ocorrem em função da falta de discussão de projetos que sintonizem a política com a necessidade da população.
“Falta discutir um projeto que se sintonize com as contradições da vida como de fato ela é, da concretude da vida (…) Se você lembrar nos anos 80, anos 90, a esquerda tinha um trabalho na base com a periferia. Trabalho de nucleação na periferia. A esquerda se identificava com a periferia e a periferia se identificava com a esquerda. Isso desapareceu. Nós perdemos para o discurso conservador, o espaço e a presença na base, na periferia. Isso precisa ser reconstruído”, declarou.
Senado é um lugar extramente elitizado do ponto de vista politico, do poder econômico e familismo.
Senado
Luiz Fernando afirmou que o Senado nasceu na monarquia, na primeira Constituição, e só quem poderia ocupar o cargo eram os “senhores justos” e “donos das grandes riquezas”.
O sociólogo candidato afirmou que a República e as constituições foram aprimorando essas estruturas, mas muito da tradição permaneceu.
“Muito disso permaneceu do ponto de vista cultural. Existem estudos que mostram que chapas ao Senado, na sua grande maioria, é composta por alguém que tem tradição na política. A suplência é composta por empresários: 35% são compostas assim. Senado é um lugar extramente elitizado do ponto de vista politico, do poder econômico e familismo.”, disse.
Luiz Fernando conclui que a característica do Senado brasileira é herança histórica. “Isso não é algo acidental é parte da herança monárquica que temos”, disse.
Foto: BNC
Assista na íntegra a entrevista do candidato ao Senado do PSOL, Luiz Fernando:
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