Por Rosiene Carvalho , da Redação
Com cuidado em destacar que alianças regionais estão em discussão, os diretórios estadual e municipal do PT lançaram nesta segunda-feira, dia 11, a pré-candidatura do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Lula lidera pesquisas presidenciais, mas está preso há dois meses condenado por corrupção.
Apesar de toda polêmica em torno do projeto nacional da sigla, o assunto principal do ato no Amazonas, nas entrelinhas das declarações diretas e indiretas feitas à mídia presente no local, foi esclarecer que nenhuma aliança foi fechada em torno de David Almeida (PSB) e que uma coligação com o PDT de Amazonino Mendes não foi descartada pelo diretório estadual.
A cada entrevista a veículos diferentes presentes no ato, o deputado e presidente estadual do PT, Sinésio Campos, tinha o cuidado de destacar os dois pontos do debate sobre o palanque estadual. Quando a fala foi aberta para o vereador Sassá da Construção (PT) as primeiras palavras dele foram de que “há muito boato” sobre os apoios regionais, mas que o Sinésio ia esclarecer tudo.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Waldemir Santana, apareceu no final do ato de lançamento da pré-candidatura de Lula. Questionado sobre o assunto pelo BNC Amazonas, Santana disse que precisava ver se o PSB e PCdoB preenchem as exigências nacionais de criar palanque para o Lula e acrescentou: “O Amazonino disse que apoia”.
Coube a Sinésio Campos deixar o assunto mais claro, durante a entrevista:
“Não está nada descartado (aliança com o PDT). O PDT também é um partido que compõe este leque de diálogo (…) Nada está definido (aliança com David Almeida). O que tem sim é uma resolução que coloca como prioridade uma política de aliança com o PCdoB e PSB. Precisa deixar claro para a sociedade que existem pré-condições para que isso aconteça. Quais são as pré-condições? É que estes partidos apoiem o presidente Lula”, declarou Sinésio ao BNC Amazonas.
Maioria de delegados
Juntos, Sinésio e Waldemir Santana somam quase 60% dos delegados nas votações internas do PT-AM que definirão os rumos da sigla. Os dois são, respectivamente, das correntes Movimento PT (40% de delegados) e CNB (19% de delegados).
O problema é que a executiva nacional tem poder para derrubar as decisões regionais se elas contrariarem as definições e prioridades nacionais. E a nacional entrou em cabo de guerra com o PDT de Ciro Gomes pelo apoio ao PSB a Lula. O BNC apurou que a presidente nacional do PT, Gleise Hoffmann, já deixou novamente este poder claro para 2018.
Prova dessa demonstração de força na nacional ocorre em Pernambuco. Lá a vereadora Marília Arraes (PT), que desponta como ameaça à reeleição do atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), está com a candidatura ameaçada pela negociação nacional PSB e PT.
Executiva nacional sempre definiu
No Amazonas, não seria novidade que as tentativas de definições locais fiquem a reboque do balcão de definição nacional. Foi assim, em 2014, quando o PT começava a ensaiar mais uma vez uma candidatura local, como tentou em diversas ocasiões enquanto a sigla esteve no poder central, mas no final o então presidente da sigla, Rui Falcão, determinou que no estado o apoio do PT era para Eduardo Braga (MDB).
No ato de lançamento da pré-candidatura de Lula e de “esclarecimentos” sobre a indefinição do palanque estadual, estavam ausentes outras lideranças importantes do PT no Amazonas com o deputado estadual José Ricardo, que é da corrente Mensagem com 18% dos delegados, o ex-senador João Pedro do CNB Amazonas (dissidência do CNB de Santana) e do ex-deputado federal Francisco Praciano (DS, corrente com pouca representatividade de delegados).
Questionado sobre as ausências, Sinésio declarou que foram convidados e deveriam estar em outros compromissos. Disse que aquele era um ato do diretório e que os mesmos não são membros do diretório estadual
“Estou falado de forma oficial. Os outros falam de forma oficiosa”, declarou.
Estratégia para fragilizar David
Sinésio também destacou um ponto nas entrevistas que nos bastidores, por outros membros das correntes dele e de Santana, era repetido em tom de desafio aos partidos que buscam o apoio do PT no Amazonas.
“O palanque no Amazonas tem que ser assegurado pelo PSB e PCdoB”, destacou indicando que os possíveis candidatos majoritários e proporcionais destas siglas teriam que vestir a camisa do ex-presidente Lula e defendê-lo em suas campanhas.
O PCdoB, que no Amazonas já declarou apoio à pré-candidatura de David Almeida, hoje tem uma pré-candidata à presidência da República que é a deputada estadual do Paraná, Manoela D’ávila. Manoela chegou a declarar, na última semana, que retiraria sua pré-candidatura caso houvesse uma convergência entre os partidos de esquerda. Mas recuou deste gesto nesta segunda-feira, dia 11, indicando que sua sinalização não surtiu efeito na centro-esquerda.
Sem candidato à presidência, o PSB é disputado neste momento pelo PDT e pelo PT, nacionalmente. Lideranças do PT do Amazonas vêem dificuldade de, no estado, o PSB conseguir ser fiel ao Lula e tenta concentrar neste argumento a possibilidade de revés para David Almeida.
É que na sua caminhada pré-eleitoral David se aproximou de outros pré-candidatos à presidência e mantém em seus arco de aliança siglas com outros nomes como Álvaro Dias do Podemos e Jair Bolsonaro que, há um mês, deu uma pernada no aliado de David, o deputado Platiny Soares (PSB). David também mantém conversas com o Rede de Marina Silva.
Definições têm data
O diretório nacional do PT fecha as alianças do palanque à presidência em reunião marcada para ocorrer nos dias 21 e 22 de julho. As definições no Amazonas tem prazo de uma semana a mais e a reunião que vai oficializar a decisão do PT-AM está marcada para o dia 29 de julho.
Pelo calendário eleitoral, as convenções podem ser realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto. O prazo final para os registros de candidatura é o dia 15 de agosto.
Apoio a David é prioridade para PSB em negociação nacional com PT