Um dos principais entraves para a privatização da Eletrobrás, a influência latente da bancada do Norte no Senado está sendo, digamos, cortejada pelo governo para dar vazão aos planos de desestatização da empresa.
Os parlamentares da região mantêm os tentáculos sobre a operação da Eletronorte, braço da estatal no Norte historicamente ligado ao MDB do senador Eduardo Braga (AM), que é líder da sigla no Senado, e tem indicado os dirigentes a estatal na região Norte e no Amazonas.
Leia mais
Braga tem sido procurado por Bolsonaro, que quer incluir a Eletrobrás na privatização.
A equação é complicada.
Visando acelerar o processo de privatizações ainda este ano, dado o descalabro fiscal causado pela pandemia do novo coronavírus, o ministro da Economia, Paulo Guedes começou a a articular-se com os congressistas.
Planejando concluir os trâmites de concessão da Eletrobras ainda este ano, o ministro ouviu dos parlamentares as contrapartidas exigidas pela bancada para colocar o processo em prática.
Braga propõe fundo para “largar o osso”
Centralizando as discussões no senador Eduardo Braga, Guedes ouviu dos parlamentares o pedido da criação de um fundo para garantir a manutenção de tarifas baixas para a população da região Norte.
“Ninguém está pedindo que o Tesouro contribua. Com o aumento do consumo de energia, podemos criar um encargo mínimo, de centavos, que, em função do tamanho, poderia gerar um fundo de 1 bilhão de reais”, diz Braga.
“O setor é muito grande. Com um encargo pequeno, se tem um fundo gigantesco”, afirma o senador.
Mais barganha
Outro pedido dos parlamentares envolve a criação de uma golden share – um tipo de ação detida pelo poder público que dá à União o poder de tomada de ações, ainda que acionista minoritário – se a concessão for para a frente.
Apesar de expressas, as conversas ainda são embrionárias.
Dor de cabeça do ministro Guedes, a Eletrobras é, ao lado dos Correios, a joia da coroa das empresas na agulha para serem privatizadas.
A estatal demanda 14 bilhões de reais em investimentos anuais para que mantenha-se competitiva, e os dispêndios do governo giram em torno de míseros 3,5 bilhões de reais.
Auxiliares diretos do ministro Bento Albuquerque estimam que 72 mil regiões dentro da região amazônica demandam atuação para a chegada de luz elétrica no local, algo que, admitem, só seria possível por meio da atuação privada.
Leia mais Revista Veja
Foto: Pedro França/Agência Senado