Aguinaldo Rodrigues , da Redação
Do alto de sua larga experiência de mais de quatro décadas de atuação no setor agropecuário do Amazonas, o engenheiro agrônomo Valdenor Cardoso, conhecido como “Bolacha”, reagiu com risos ao plano do Ministério da Economia, de Paulo Guedes, de incentivar com financiamento o plantio de cacau em 70 milhões de hectares na Amazônia.
“Chega a ser extravagante essa proposta, que pode promover grandes impactos socioeconômico, socioambiental e sociopolítico. Nem estrutura de serviço e suporte técnico se tem para tanto”, afirmou.
Cardoso conta que, em 36 anos como agente federal da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), órgão de pesquisa do Ministério da Agricultura, se foi plantado 270 mil hectares de cacau na Amazônia foi muito.
Ele disse que a Ceplac atua na região há mais de 40 anos, e nos últimos governos foi abandonada em estado de inanição.
“Uma vez reestruturada a Ceplac, uma meta de 50 mil hectares por ano seria factível, embora não muito fácil”, afirma Cardoso, que é ex-secretário de Produção Rural do Amazonas (Sepror) e ex-deputado estadual.
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Setor primário abandonado
Mestre em extensão rural pela Universidade Federal de Viçosa (MG), especialista em agricultura familiar, Cardoso chefiou a Ceplac no Amazonas e Pará e chegou a ser o dirigente maior do órgão na Amazônia. Há muito tempo manifesta preocupação com o setor agropecuário amazonense, que é não contemplado nos planos de governo.
Até as escolas agrotécnicas que existiam no país para formar técnicos para o setor foram extintas, transformadas em institutos que direcionam o conhecimento para outras áreas.
No Amazonas, milhares de técnicos agropecuários nunca sequer foram aproveitados para contribuir com o desenvolvimento da produção do setor primário. O estado importa de outros estados até produtos básicos da mesa do amazonense, como frutas e verduras.
Órgãos de assistência técnica ao produtor, como a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), foi extinta pelo Governo do Amazonas há décadas.
Cardoso sempre cita a pecuária de seu município natal, Parintins, como um grande exemplo. Líder da criação de gado bovino no estado em tempos não muito distante, hoje o setor definha ano após ano, como recentemente declarou ao site Parintins Amazonas.
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Suframa e o Distrito Agropecuário
De modo geral, o setor primário não tem incentivo financeiro à produção, há questões agrárias a resolver, a tecnologia inexiste, o conhecimento do produtor ainda é o empírico, sem contar a questão ambiental, que amarra qualquer possibilidade de o homem amazônico explorar suas riquezas.
O Distrito Agropecuário, parte do projeto que implantou a Zona Franca de Manaus (ZFM), nunca passou de letra morta. E nem vai avançar, porque é assunto até hoje sequer abordado pelo novo comando militar da Superintendência da ZFM (Suframa).
Por tudo isso, a estranheza agora de Cardoso e de milhares de amazônidas com a ideia extravagante do ministério de Paulo Guedes de faturar em cima do sacrifício da Amazônia com o recrudescimento da política extrativista de monocultura.
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Foto: BNC Amazonas