Aguinaldo Rodrigues , da Redação
Definitivamente, desenvolvimento pelos caminhos da modernidade para os povos da Amazônia não é algo que passa pela mente do ministro da Economia, Paulo Guedes. Após a região viver a era de ouro do ciclo da borracha, extraída dos seringais no meio da floresta, a ideia do governo federal agora é usar milhões de hectares das terras amazônicas para plantar cacau.
Tecnologia, apesar de o Amazonas sediar dos maiores centros da América Latina, com a Zona Franca de Manaus (ZFM), de onde saem produtos de última geração para todo o mundo, só deve existir para as regiões mais ricas do Brasil, o Sul e o Sudeste.
Enquanto todo o Norte e Nordeste espera que o ministro anuncie algum projeto para a indústria 4.0 da ZFM, por exemplo, ele insiste em criar entraves para o maior polo industrial brasileiro. Paradoxalmente, é o mesmo que nasceu da visão de um governo militar de tentar compensar o desequilíbrio, hoje cada vez maior, entre as regiões do país, e o que Guedes agora maquina contra, incentivando o extrativismo, como no período colonial.
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Financiando o extrativismo colonial
Seu ministério, que já implantou uma junta militar no comando da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), nas mãos de um coronel do PSL, o partido do presidente da República, portanto, empregado por indicação política, agora teve a brilhante ideia de alavancar a economia do Norte-Nordeste com financiamento ao plantio de cacau na floresta amazônica.
O plano é usar 70 milhões de hectares da Amazônia para atender a indústria cacaueira. Não é que o governo federal tenha elaborado um projeto para incentivar a agricultura nos estados amazônicos. Nada disso. É apenas uma cultura, para atender a um setor empresarial específico.
E nem chega a ser uma ideia original, porque o Amazonas, que preserva mais de 90% de sua floresta em pé, já planta cacau e o produtor pouco ou nenhum incentivo tem para isso. O Pará, campeão em terras desmatadas entre os estados do Norte, era até 2018 o maior produtor brasileiro de cacau e um dos dez primeiros do mundo.
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Agro não é pop na Amazônia
O que Paulo Guedes articula hoje é a venda de títulos verdes, os chamados green bonds. “Houve um sequestro da agenda ambiental por grupo anticapitalista e queremos trazê-la para um ambiente de negócios, preservando e gerando riqueza”, disse um subsecretário do ministério.
Para fazer valer o “agro é pop” na floresta amazônica, Guedes envolveria o Ministério da Agricultura com o Banco Mundial e o BNDES.
A semente está sendo amadurecida, afirma o jornal O Estado de São Paulo nesta terça, dia 19, e deve ser lançada no meio do ano.
Na mente de Guedes, plantar cacau vai brecar desmatamento.
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Foto: Reprodução/Ceplac