Cerca de 100 pesquisadores, analistas e técnicos do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) divulgaram na segunda-feira (14) manifesto de solidariedade ao professor Henrique dos Santos Pereira (foto)
Da mesma forma, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC ) veio a público manifestar solidariedade ao professor da Ufam.
Titular da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Henrique é um dos quatro doutores que avançaram na seleção para a lista tríplice da nova direção do Inpa.
Os demais concorrentes são: Bruce Forsberg, Carlos Cleomir e Marina Anciães.
Única mulher na disputa, Anciães, aparece como candidata da atual diretora do instituto, Antônia Ramos Pereira, que teve indicação durante o governo de Jair Bolsonaro.
“Repudiamos, veementemente, as difamações e calúnias que visam manchar a reputação do professor Henrique Pereira, mediante acusações sem fundamentos de uma suposta atuação tendenciosa e antiética durante o enfrentamento da pandemia de covid-19 em Manaus” , diz o manifesto.
Dentre os 100 pesquisadores e servidores, pelos menos três ex-diretores do instituto assinam o manifesto: Marcus Barros, José Gomes e Adalberto Val.
Além de cientistas como Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (Musa), Fernanda Sobral, professora emérita da UnB.
Também, o físico Marcílio de Freitas, Marilene Correa, professora-doutora da Ufam e Paulo Artaxo, professor da USP e pesquisador convidado do Inpa.
Motivos
Resta saber por qual motivo pesquisadores e cientistas da Amazônia se levantaram para manifestar apoio ao professor Henrique Pereira.
A primeira informação, que chegou ao BNC, tem ligação com o grupo bolsonarista do Inpa, capitaneado pela atual diretora Antônia Pereira, que quer “melar” a candidatura favorita do professor-doutor da Ufam.
Porém, as supostas difamações contra Henrique Pereira vieram na revista Cenarium do último dia 10 de agosto.
De acordo com publicação, Henrique Pereira defendeu que o novo coronavírus, causador da covid-19, sofreria uma remissão ‘por conta própria’ em 2020.
Por causa disso, fez com que gestores públicos afrouxassem as medidas sanitárias em Manaus.
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Contestação
“O cenário real foi de um alto índice de transmissão do vírus, propiciando o surgimento da variante P.1, o que levou ao colapso do sistema de saúde do Amazonas”, diz a Cenarium.
Por outro lado, a revista amazonense diz ainda que a pesquisa de Henrique Pereira constou do Boletim Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Atlas Amazonas (ODS Atlas Amazonas), no dia 10 de maio de 2020.
Tal estudo, na época, foi contestado por oito pesquisadores de seis instituições brasileiras que colocaram em xeque as informações no artigo científico.
Entre os pesquisadores discordantes estavam Lucas Ferrante (Ufam), Wilhelm Steinmetz, da federal de Minas Gerais, Ruth Camargo, do Instituto Butantan, e Philip Fearnside, do Inpa.
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Repúdio
Portanto, foi a publicação da revista que causou tanta indignação nos pesquisadores do Inpa.
Com toda a trajetória acadêmica e militante de Henrique Pereira, o documento mostra a sua atuação durante a pandemia de covid-19.
Afirma ainda que o pesquisador esteve na linha de frente dos esforços de articulação para o seu enfrentamento.
Apesar de pertencer a um campo político oposto ao do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os assinantes do manifesto dizem também que Pereira esteve corajosamente à frente do boletim ODS Atlas Amazonas.
E ainda empreendeu esforços na coleta de dados científicos públicos, que subsidiaram artigos científicos junto com outros pesquisadores.
Ciência x política
Na avaliação dos manifestantes, é fundamental distinguir o debate científico legítimo de acusações infundadas de uma fraude.
Especialmente durante a pandemia de covid-19, em um cenário de grandes incertezas, é necessário reconhecer os esforços científicos empreendidos.
“Nós, que valorizamos a ética na ciência, entendemos que as divergências políticas e acadêmicas devem ser colocadas de maneira transparente e respeitosa”.
Sensacionalismo
Assim sendo, prossegue o documento com os 100 apoiadores:
“Mentiras, ofensas e sensacionalismo, com o objetivo de manchar a reputação de um cientista não contribuem para elevar o nível do debate público e desinformam o público a respeito das reais disputas em torno das indicações para cargos de direção institucional”,
Por fim, os pesquisadores, analistas e técnicos do Inpa prestam solidariedade a Henrique Santos Pereira e dizem que mantém o apoio a sua candidatura ao cargo de diretor do Inpa.
“Sua vasta contribuição para a ciência amazônica e sua habilidade notável de gestão e diálogo o credenciam de maneira inequívoca”, encerra o manifesto.
Apoio da SBPC
No mesmo tom de desagravo, os membros da SBPC dizem defender qualquer candidatura com base na seleção de critérios acadêmicos.
Mas, o que a entidade repudia é o uso político, neste momento de eleições no Inpa, extrapolando o desejável debate no campo científico, para influenciar incorretamente o resultado da escolha do comitê.
“Por princípio, a SBPC entende que é fundamental distinguir o debate científico, que é legítimo, de acusações sem fundamento com o objetivo de prejudicar a participação de qualquer candidato em um processo democrático” , diz a nota da entidade científica.
Próximo passos
Em suma, o próximo passo é avaliação individual dos quatro candidatos homologados pelo Comitê de Busca, presidido por Eron Bezerra.
Essa avaliação individual ocorrerá em Manaus, na sede do Inpa, entre os dias 21 e 25 deste mês.
Por fim, os três nomes sob escolha do comitê irão à ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, que decidirá entre eles o novo diretor ou diretora do Inpa para mandato de quatro anos.
Foto: divulgação