Corpo de Bombeiros adota protocolo de câmara hiperbárica para mergulho
Com a medida, profissionais de mergulho ganham melhores condições de proteção de doenças causadas pela descompressão

Publicado em: 09/06/2020 às 08:58 | Atualizado em: 09/06/2020 às 09:04
O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas iniciou a adoção de protocolo de saúde por meio de câmara hiperbárica para seus mergulhadores.
Com isso, o profissional do mergulho em águas profundas ganha melhores condições de proteção de doenças causadas pela descompressão.
De acordo com o comandante-geral do Bombeiros, coronel Danízio Valente, o procedimento faz parte de um trabalho de monitoramento iniciado no ano passado.
“Com a chegada de tenente médico cardiologista [Luiz César Clos], planejamos um acompanhamento específico para os mergulhadores devido à exposição durante os atendimentos das ocorrências. É uma atividade que exige concentração e, principalmente, estar com a saúde em dia”.
Conforme o instrutor de mergulho e major Ricardo Rocha, durante o mergulho autônomo, o organismo é submetido a diversas pressões e variações de volume.
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Efeitos do mergulho
“No mergulho, à medida em que o militar desce, a pressão vai aumentando gradativamente. Por exemplo: a cada dez metros que ele desce ao nível do mar, aumenta mais uma atmosfera. Conforme a descida, maior é a pressão e menor o volume de ar no pulmão”.
Devido a essas variações de pressão, o mergulhador pode sentir os efeitos dessa atividade, informou Rocha.
“Existem os efeitos diretos e os efeitos indiretos. A câmara hiperbárica é basicamente para trabalhar nos efeitos indiretos. Em uma situação hipotética, se eu tiver uma cárie, for descer 10 metros de profundidade e acumular uma bolha de ar no meu dente, ao voltar à superfície, essa bolha aumentará e a dor de dente também. Nesse caso, teria um barotrauma, que não seria resolvido pela câmara hiperbárica, visto que essa dor no dente é um efeito direto”.
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Como age a câmara
O instrutor explica que a câmara hiperbárica é utilizada para retirar grande quantidade de nitrogênio que se acumula no organismo durante o mergulho.
“O mergulhador, durante a ocorrência, não respira oxigênio puro. Ele respira ar, que é composto por 72% de nitrogênio e 18% de oxigênio. Todos nós temos uma pequena quantidade de nitrogênio no nosso organismo e que não faz mal. Acontece que quando estamos submetidos a grandes pressões, esse nitrogênio também acumula-se no nosso organismo em grandes quantidades”.
Para o tenente Clos, que é médico cardiologista, esse procedimento de uso da câmara é uma necessidade para o mergulhador.
“Nosso protocolo exige que esses militares sejam submetidos a exames e o tratamento em uma câmara hiperbárica para eliminar o nitrogênio. Pois, durante a atividade de mergulho, eles acumulam grande quantidade dessa substância no organismo. É importante que esses mergulhadores realizem esse exame”.
De conformidade com ele, o nitrogênio, com o tempo, começa a se acumular na corrente sanguínea, formando êmbolos gasosos. Clos explicou ainda que isso gera sequelas que podem levar à morte. “Por isso, a necessidade de fazer esse procedimento duas vezes ao ano”.
Caso ocorra um acidente, o instrutor explicou que o equipamento hospitalar pode ajudar na recuperação do mergulhador.
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Normas de mergulho
Mesmo com o novo acompanhamento médico, os bombeiros que atuam nas buscas submersas respeitam rigorosamente as normas das tabelas de mergulho.
“Nós trabalhamos com as tabelas de mergulho. Por exemplo, se eu vou descer a uma profundidade de vinte metros, eu tenho um tempo limite para permanecer nesse ambiente porque é o período que o corpo permite ficar imerso sem causar acúmulo dessa substância no organismo. Assim, posso subir para a superfície e não ter dano algum”.
De outro lado, segundo Rocha, se o tempo estabelecido for ultrapassado, a subida terá de ser aos poucos, com paradas para o mergulhador respirar. Com isso, ele vai eliminar esse nitrogênio na nova pressão, pois o nitrogênio só é eliminado por meio da respiração.
“Dependendo da profundidade, as paradas podem demorar horas, por isso não compensa passar do tempo limite. O ideal é respeitar o tempo de cada profundidade conforme a tabela de mergulho, fazer as buscas e subir com segurança”, disse o major.
Fotos: Divulgação/Secom