Em plena campanha eleitoral, jovens do Amazonas se mobilizam para exigir dos políticos respostas para a falta de políticas públicas na região.
São problemas comuns enfrentados pelas populações ribeirinhas, como as enchentes que invadem as casas todos os anos, questões socioambientais e climáticas .
Conforme eles, são mazelas regionais que se repetem há anos, sem que o poder público proponha ações efetivas para resolver a situação das comunidades da periferia de Manaus e no interior do estado.
Neste ano de eleição, a cobrança vem por meio de dois grupos sociais do Amazonas: o Instituto Capuaã e Ponta de Lança.
Os dois grupos foram selecionados pelo programa Inovação e Aceleração na Região Amazônica (Iara), desenvolvido pela Purpose .
Trata-se esta de uma organização não governamental que atua em seis continentes, com projetos e laboratórios interconectados.
A falta de políticas públicas para lidar com as enchentes que ocorrem no Amazonas todo ano, por exemplo, fez com que o Capuaã criasse a campanha “O Amazonas tá cheio”.
A ideia é envolver a juventude indígena, preta, ribeirinha, periférica e a diversidade local nesta fase de campanha eleitoral. E, dessa forma, defender o território e cobrar solução definitiva.
Segundo Celina Pinagé, diretora-executiva do instituto, o objetivo é influenciar a juventude amazonense, socialmente minorizada, a votar de forma consciente nestas eleições. Por consequência, eleger candidatos comprometidos com a pauta climática e com os povos originários e seus territórios.
“Queremos também que a juventude do Amazonas perceba que podemos mobilizar, cobrar, nossos direitos e pressionar os eleitos”, disse Celina.
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Basta de casas alagadas
O Capuaã existe há seis meses, mas criou a campanha porque todos os anos a população sofre com as enchentes dos rios, cada vez mais graves por causa das mudanças climáticas.
“É comum a gente ver nos noticiários e jornais pessoas que perderam a casa, escolas que foram inundadas e pessoas que perderam emprego na época de cheia, mas isso não deveria ser normal, então decidimos fazer algo”, afirmou a diretora-executiva.
Para envolver a população, especialmente os jovens, o instituto organizou no último dia 5 de setembro – Dia da Amazônia e do Amazonas – rodas de conversas para explicar as diferentes realidades do estado e sua relação com as mudanças climáticas.
Foi distribuída também uma cartilha informativa, com dados sobre a crise ambiental e seus reflexos no Amazonas.
Candidatos comprometidos
Na avaliação de Celina (foto ), a juventude precisa entender a importância de atuar como agente transformador dos bairros, comunidades e municípios e assim mudar a realidade e trazer bem-estar.
Reprodução/Rede Globo
De acordo com ela, no caso das enchentes, a cobrança é que as populações atingidas sejam atendidas por políticas públicas porque até agora não existem ações eficazes para lidar com o problema.
“A curto e médio prazos, queremos eleger deputados estaduais e federais que se comprometam com um mandato popular, com participação pública, escuta ativa e com justiça climática”.
Como resultado, o Capuaã pretende acompanhar ativamente os eleitos a partir de 2023, disse ela.
Pautas prioritárias
Também foi a ausência de políticas públicas para os grupos indígenas, negros e afro-religiosos que incomodou o grupo Ponta de Lança. E isso levou à criação da campanha “Rede Jurema, ancestralidade e incidência política”.
Durante as eleições presidenciais de 2018 o coletivo foi criado por um grupo de mulheres negras e periféricas que percebeu a necessidade de colocar em prática o conhecimento aprendido na faculdade como uma contrapartida para suas comunidades originárias.
“O propósito é trazer essas comunidades para a discussão, mostrando quais são as suas pautas prioritárias. Queremos que sejam consultados e mostrem sua visão sobre política para que seja respeitada”, afirmou Raquel Cardoso, idealizadora e cofundadora.
Raquel disse que o estado do Amazonas, na grande maioria, tem expressão política conservadora, pois sempre são os mesmos rostos e perfis eleitos.
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Vozes da comunidade
Ao trazer especialmente os jovens e as mulheres dessas comunidades para o centro da discussão política, o grupo quer ampliar as vozes da comunidade e, ao mesmo tempo, mostrar que eles podem contribuir com ideias para novos projetos.
Várias ações estão sendo elaboradas, como encontros mobilizadores nas comunidades para o levantamento do documento que vai nortear as pautas prioritárias e será apresentado como carta-compromisso aos candidatos.
Além de três plenárias populares, sendo a última a ser realizada na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), possivelmente ainda neste ano.
Também no Dia da Amazônia, em 5 de setembro, o Ponta de Lança organizou uma live com candidatos progressistas e representantes de cada um dos grupos dos movimentos negros, afro-religiosos e indígenas para que possam ouvir e serem ouvidos pelos candidatos.
Apoio aos coletivos
A iniciativa cidadã dos grupos do Amazonas conta com o apoio do programa Iara, desenvolvido pela agência Purpose.
A plataforma foi criada para fortalecer grupos e organizações ativistas, permitindo que eles tirem do papel seus projetos e mobilizem suas comunidades a conquistar as mudanças necessárias para um desenvolvimento mais sustentável.
“Colocamos nossas experiências e estruturas à disposição destes grupos para apoiá-los em seu crescimento e na construção de soluções inovadoras para os desafios que suas comunidades enfrentam”, disse Ana Clara Toledo, da Purpose.
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Emergência climática
A região amazônica foi eleita como a primeira a receber esse programa de aceleração do laboratório de clima da Purpose por exercer um papel central em relação aos desafios da emergência climática e seus desdobramentos econômicos e sociais.
Na primeira etapa, o Iara beneficiou sete organizações do Pará. Nesta segunda etapa, são dez organizações do Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará.
“Apesar da importância da Amazônia para o planeta, muitos dos debates e estratégias em busca de soluções para o bioma não incluem vozes locais e, portanto, não condizem com as realidades e os desafios que a região e seus cidadãos enfrentam.
A Iara foi criada para potencializar os grupos que já atuam e promovem mudanças no território amazônico e garantir que tenham mais metodologias, ferramentas e recursos ao alcance de suas mãos para crescer e assumir cada vez mais o papel de protagonistas da mudança”, afirma Ana Clara.
Foto: divulgação