Dos vinte textos selecionados pelo Concurso Frauta de barro 2023, promovido pela Editora Valer, sete já estão impressos. Um deles já foi lançado e três chegam aos leitores neste mês (lista abaixo).
O prêmio homenageia o poeta amazonense Luiz Bacellar (1928-2012), autor do livro Frauta de barro , clássico da poesia brasileira contemporânea.
O poeta parintinense Venício Garcia lança, nesta sexta-feira (19/4), às 17h, no mercado municipal Leopoldo Neves, em Parintins (AM), o livro Poesia de beiradão (Valer).
Também na mesma data, a escritora Clarinda Ramos apresenta aos leitores Cantos e danças – uma antropologia da musicalidade Sateré-Mawé , sessão de autógrafos na Casa de Comida Indígena Biatüwi (rua Bernardo Ramos, n.º 97, Centro).
No dia 24, a pesquisadora Yone Chagas reúne a comunidade LGBTQI+, principalmente, na biblioteca do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos-Icbeu), para lançar o livro O casamento entre pares homoafetivos.
Parintinense
Garcia concilia a arte de poetizar com a de professor de Literatura e Artes (UFPA) do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Esse é o seu quinto livro, o primeiro pela Editora Valer.
A obra apresenta 75 poemas que expressam a experiência sensível do autor com o ambiente amazônico, tecido pela singularidade de suas terras, florestas, faunas, rios e sua gente.
Garcia não é só mais um poeta deslumbrado com as belezas cantadas e decantadas da Amazônia. Seus versos entrelaçam, também, a Amazônia vilipendiada, agredida e saqueada material e espiritualmente.
O poema Oráculo amazônico (abaixo) é exemplar dessa abordagem, porque nele Garcia resume, por meio de palavras amorosas, porém questionadoras, a apresentação da Amazônia e suas múltiplas culturas no espaço-tempo real e imaginário.
“Os poemas e versos deste livro vertem beleza e reflexão, tempestade e calmaria e outros contraditórios que transformam o beiradão amazônico na “metamorfose ambulante” da vida e das palavras arrumadas com zelo, para se proliferar em mil sentidos pela retina e mente dos leitores”, escreve o jornalista e escritor Wilson Nogueira, no prefácio da obra.
Ou, como aponta o próprio autor: “A poesia de beiradão retrata as lembranças da infância, os encantos da vida ribeirinha, a vida cabocla, as manhãs com cheiro de mato, o suave barulho do vento, o canto dos pássaros e o mergulho do boto em festa no tempo de piracema”.
Clarinda
Clarinda Maria Ramos é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS–Ufam) e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (Neai–Ufam).
O livro de Clarinda Ramos é resultado de pesquisa antropológica de campo realizada em comunidades do seu povo, no Baixo Amazonas, para compreender fenômenos históricos e cosmológicos expressados nos cantos e nas danças ancestrais.
A prefaciadora da obra de Clarinda Ramos, a antropóloga e pesquisadora Deise Lucy Oliveira Montardo, vinculada ao PPGAS-Ufam, assinala que ela, a autora, fez um forte reencontro com a sua própria história:
“Temos aqui uma leitura prazerosa e de profundo aprendizado para um público amplo, acadêmicos das artes e das humanidades, bem como para interessados nas questões indígenas e no entendimento do Brasil e da América Latina, de forma geral. Um texto escrito de dentro da Antropologia, com corpo e emoção, num lindo e forte re-encontro da Clarinda com sua história, uma literatura imprescindível”.
Evento em Parintins
O lançamento em Parintins cumprirá uma programação que coloca em evidência a apresentação do conteúdo da obra, para que os convidados (professores, estudantes, escritores, jornalistas etc.) se sintam partícipes da obra.
Assim, haverá música, recitação de poemas por membros da Comunidades de Leitores de Parintins (CPL) e sessão de autógrafo.
O espaço das artes do mercado municipal Leopoldo Neves, o Mercadão , está de frente para o rio Amazonas. Assim, proporciona aos seus frequentadores uma cena inigualável da massa de água barrenta correndo para o Atlântico, enquanto singra por pequenas e grandes embarcações.
Concurso
A editora lançou o edital de seleção das obras em maio, inicialmente para contemplar 12 obras, mas recebeu 150 inscrições.
Essa demanda levou a Valer a aumentar o número de obras escolhidas para 20.
Foram selecionados texto de poesia, prosa, ensaio, ficção, não-ficção; literatura infantil, ensaio biográfico, pesquisa cientifica etc.
O editor da Valer, jornalista Isaac Maciel, destaca que a iniciativa da empresa contemplou escritores profissionais, que estavam com suas obras esgotadas, e novos talentos, que não publicaram seus livros em razão dos custos com edição e distribuição.
Maciel assegura que toda a coleção do concurso sairá ainda neste primeiro semestre.
Livros publicados
Os que andam com os mortos , de Zemaria Pinto (lançado em março, na Casa da Pamonha, rua Barroso, Centro).
Poesia de Beiradão , de Venicio Garcia (será lançado dia 19, em Parintins)
Cantos e danças – uma antropologia da musicalidade Sateré-Mawé , de Clarinda Ramos (lançamento no dia 19, na Casa de Comida Indígena Biatüwi, rua Bernardo Ramos, n.º 97, Centro).
O casamento entre pares homoafetivos , de Yone Chagas (a ser lançado neste 25 de abril, na biblioteca do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos-Icbeu)
O silêncio da meia-noite , de Bruna Oliveira (lançamento sem data marcada)
Um conto nunca contado , de Jaime Diakara (lançamento sem data marcada)
O Circo , de Leyla Leong (lançamento sem data marcada)
Trecho
Oráculo Amazônico
Temporal metamorfose
Planeta placenta aquática
Cordão pássaro abissal
Canto estético mortal
Asas que renascem ao vento
Do feio ao belo argumento
Das asas destruição
Do voo verde balão
Branca luz de Zepelim
Que renasce o Curumim
Se alimentando do sal
Casulo alma amortal
Negra Fénix sem sol
Mistério volta do anzol
Cobertura de japá
Canoa e porantin
Viagem perto do fim
Paragem de beira em beira
Epitáfio cabeceira
Menina olhos do mundo
Pra bolsa de vagabundo
Que se alimenta de sangue
De Marias e Raimundos
Decifra-me ou devoto-te
Mundo Místico encantado
Da guerreira que foi Doroty