por Israel Conte , da redação
“Eu vou, mas o município tem que me dar casa, alimentação, internet, TV a cabo e mais R$ 10 mil de contra-partida”.
As exigências foram endereçadas à Secretaria Municipal de Saúde de Borba (a 151 km da capital) por uma profissional brasileira selecionada no novo edital do programa Mais Médicos .
No Careiro Castanho (a 88 km de Manaus), dos dois médicos que se apresentaram, uma já avisou que só fica no município pelo período de um ano, e o cirurgião propôs um acordo para receber integralmente mas só atender a população dois dias por semana.
Estas são algumas das dificuldades relatadas por gestores do interior ao Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems-AM) e que estão impedindo o preenchimento das vagas abertas pelos médicos cubanos.
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Cuba se retirou do Mais Médicos após as condições estabelecidas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para a manutenção do programa. Com a decisão, o País ficou com um déficit de 8.517 profissionais na Atenção Básica de Saúde.
No Amazonas, 322 médicos deixaram de atender a população. Apesar do novo edital lançado em novembro pelo Governo Federal, o interesse em ocupar as vagas tem ocorrido de forma lenta em razão das distâncias continentais e dificuldades de locomoção. E já acendeu o sinal de alerta.
Caos
“O caos se avizinha no interior. Sem a assistência médica básica, daqui a pouco acaba agudizando as condições crônicas como hipertensão e diabetes, saúde mental. E logo essas pessoas vão estar lotando as unidades hospitalares”, alertou o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems-AM), Januário Neto.
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Ainda segundo Januário, cada médico de equipe de Saúde da Família é responsável por aproximadamente 3 mil habitantes.
“Multiplicando os 3 mil pelas 322 vagas chegamos a quase 1 milhão de habitantes no estado sem assistência médica básica, ou 1/4 da população”, destacou.
Não se apresentaram
Há menos de uma semana, o relatório do Cosem-AM apontava que entre os 62 municípios, Jutaí e Juruá continuavam sem o preenchimento das vagas do edital. Juntos eles somam quase 30 mil habitantes.
Em São Sebastião do Uatumã (a 247 km da capital) as três médicas selecionadas desistiram de ocupar o posto. Em Itamarati ( a 985 km da capital), uma outra médica também declinou da vaga.
E o problema, que antes se resumia às cidades mais distantes da capital, chegou também para as grandes.
Em mensagem ao Cosem-AM, o secretário de Saúde de Parintins, Clerton Florêncio, informou que nenhum médico selecionado para o município ainda havia se apresentado.
No Brasil
De acordo com levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde na quinta-feira, dia 6, das 8.517 vagas disponíveis no edital, 8.394 haviam sido preenchidas. Destes selecionados, 3.721 ou menos da metade, se apresentaram nos municípios.