Para um paciente grave de covid-19, com pulmão que perdeu a capacidade de oxigenar o sangue, a intubação pode aliviar as dores e ser a única esperança de sobrevivência.
Mas, no Brasil, o percentual alto de mortes entre os infectados que precisam de ventilação mecânica assusta: a média foi de cerca de 80% de fevereiro a dezembro de 2020, segundo dados de uma pesquisa inédita obtidos com exclusividade pela BBC News Brasil.
Ou seja, oito em cada 10 pacientes intubados ao longo do primeiro ano de pandemia morreram.
Os dados obtidos pela BBC Brasil com os pesquisadores mostram grandes diferenças na taxa de mortes por região.
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No Norte, a mortalidade de pacientes intubados sobe para 86,7% e, no Nordeste, para 83,7%.
No Centro-Oeste, o percentual também é acima da média (83,6%).
Já no Sul e Sudeste, a taxa fica em 76,8%.
Segundo o pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Otavio Ranzani, que também é um dos autores do estudo, o percentual brasileiro é maior que a média mundial, de cerca de 50%, conforme estudo que analisou dados de 69 países, publicado noAmerican Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.
A média de mortalidade de pacientes com covid intubados na Ásia é de 47%, na Europa, é de 36% e, na América do Norte, é de 46%, completa o Ranzani, que também é pesquisador da Institute for Global Health, em Barcelona. “A taxa de mortalidade brasileira para uso de ventilação mecânica (invasiva) é semelhante à do México, de 80,9%”, acrescenta.
Agora, no pior momento da pandemia no Brasil, médicos de UTIs ouvidos pela BBC News Brasil também alertam para o provável aumento da taxa de mortalidade entre pacientes intubados em todas as regiões do país.
Isso porque, a superlotação de hospitais de Norte a Sul está levando à demora na intubação de pacientes graves, agravando o quadro deles. E profissionais de saúde sem experiência em ventilação mecânica estão sendo alocados para UTIs improvisadas. Além disso, médicos e associações farmacêuticas alertam que o estoque de medicamentos necessários para intubação está perto de acabar.
“O problema é você ter um paciente muito grave, com comprometimento de vários órgãos, e você tratar ele numa situação de sobrecarga, de improviso, com equipes mal treinadas e isso contribui com números ainda mais preocupantes”, disse à BBC News Brasil o médico intensivista Ederlon Rezende, que coordena a UTI do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo.
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Foto: Marcello Casal Jr./ABr