O partido está iniciando um ciclo de debates internos sobre seus novos desafios diante da emergência de novas relações no mundo do trabalho, o que impõe estratégias diferenciadas das que existem hoje.
O debate é necessário na construção política, mas não é suficiente para enfrentar os novos desafios da realidade brasileira se não se transformar em tecnologias de organização e inserção social.
O PT sofreu um desmonte da sua organização original, que mesmo sendo estatutária não foi preservada ou mesmo ampliada. Esse desmonte foi orquestrado pela sua força política majoritária e teve pelo menos dois objetivos.
O primeiro dele foi retirar o caráter orgânico de partido revolucionário, desmobilizando os núcleos de base por local de moradia, estudo e trabalho.
Esse movimento sepultou o perfil classista do partido e jogou o PT para a centro-esquerda, muito próximo de uma socialdemocracia que busca relativizar a exploração capitalista.
O segundo objetivo foi garantir a hegemonia da força majoritária do PT , que poderia perder seu domínio dentro de uma organização de perfil de esquerda e revolucionária. A antiga Articulação Unidade na Luta, hoje Construindo um Novo Brasil – CNB, não se afina com o pensamento da transformação social.
Esse projeto teve êxito. Ele sepultou a luta de classes e fez do partido uma frente de luta identitária, afastando o PT da sua base originária e fundadora, o que motivou hoje uma crise de identidade.
O partido não voltará às suas bases sociais se não se reestruturar internamente como partido que busca a transformação social e a superação do capitalismo como sistema expropriador da classe trabalhadora.
Não adianta fazer o debate se ele não servir para uma retomada histórica.
Tenho minhas dúvidas se haverá esse retorno do PT à luta de classes, ampliando sua leitura para as novas relações do mundo do trabalho e para crescente influência da extrema direita no Brasil. Isso precisaria de novas composições internas, o que me parece improvável.
Isto posto, podemos dizer que o problema do PT não é se ele vai acabar, diminuir sua influência ou não, mas qual projeto vai apresentar para a sociedade.
Se vai continuar encobrindo a história com a possibilidade de um “capitalismo bonzinho” ou se vai dizer para o povo brasileiro quem são os responsáveis pela miséria, pela exclusão e desigualdade social e pela exploração dos trabalhadores.
O autor é sociólogo .
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