Biden e Bolsonaro costuram acordo sobre Amazônia e desagradam ong

Acordo articulado pelos dois presidentes sobre o clima desagrada a ao menos 200 organizações não governamentais que fazem oposição ao governo brasileiro

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Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 06/04/2021 às 20:40 | Atualizado em: 06/04/2021 às 21:08

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Cerca de 200 organizações não governamentais (ong) encaminharam carta ao presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, para que ele evite um acordo com o presidente Jair Bolsonaro sobre a Amazônia. 

O presidente estadunidense chegou a cogitar um investimento de US$ 20 bilhões na região. A expectativa é que um acordo entre os dois países seja anunciado na cúpula sobre o clima convocada por Biden para os próximos dias 22 e 23. 

Na carta, encaminhada nesta terça-feira (6), as entidades dizem que as negociações ocorrem longe dos olhos da sociedade. 

As ongs argumentam que não é razoável esperar que as soluções para a Amazônia e seus povos venham de negociações feitas a portas fechadas com seu pior inimigo.  

“Qualquer projeto para ajudar o Brasil deve ser construído a partir do diálogo com a sociedade civil, os governos subnacionais, a academia e, sobretudo, com as populações locais que até hoje souberam proteger a floresta e todos os bens que ela abriga”, diz um trecho do documento. 

Para as organizações, nenhuma tratativa deve ser considerada antes da redução do desmatamento aos níveis exigidos pela legislação brasileira de clima e o fim da agenda de retrocessos encaminhada pelo governo ao Congresso Nacional.  

“Negociar com Bolsonaro não é o mesmo que ajudar o Brasil a solucionar seus problemas atuais. Negociações e acordos que não respeitem tais pré-requisitos representam um endosso à tragédia humanitária e ao retrocesso ambiental e civilizatório imposto por Bolsonaro”, criticam.

Coerência 

As entidades cobraram ainda coerência do presidente Biden, lembrando do seu discurso de posse no qual elencou como desafios a luta contra a pandemia, o combate ao racismo estrutural, a mudança climática e o papel dos Estados Unidos no mundo. 

“Tal discurso está sob teste agora, enquanto a administração Biden trava conversas com o governo de Jair Bolsonaro, do Brasil, sobre a agenda ambiental. As negociações ocorrem longe dos olhos da sociedade civil, que o presidente brasileiro já comparou a um câncer.” 

Na carta, as organizações dizem que o presidente dos EUA precisa escolher entre cumprir seu discurso de posse e dar recursos e prestígio político a Bolsonaro. “Impossível ter ambos.”

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Destacaram que, internamente, Bolsonaro promove a destruição da floresta amazônica e outros biomas, aumentando as emissões de CO2 do país. 

Além disso, o presidente brasileiro compromete o Acordo de Paris ao retroceder na ambição da meta climática brasileira. 

“Negacionista da pandemia, transformou seu país num berçário de variantes do coronavírus, condenando à morte parte da própria população.”

Questão ambiental 

Com relação a política ambiental, as entidades afirmam que o governo Bolsonaro desmontou órgãos de fiscalização, promoveu o enfraquecimento da legislação e incentiva invasões de territórios indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e áreas protegidas.  

“A presença de invasores leva ao aumento da violência e de doenças como a Covid junto aos habitantes da floresta. Recentemente, Bolsonaro foi denunciado por indígenas ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade”, lembraram. 

“O governo Bolsonaro tenta a todo custo legalizar a exploração da Amazônia, trazendo prejuízos irreversíveis para nossos territórios, povos e para a vida no planeta”, disse Alberto Terena, coordenador- executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), uma das organizações signatárias da carta.

Márcio Astrini, do Observatório do Clima
Foto: epbr/reprodução

 

“O Brasil é hoje um país dividido. De um lado, estão os indígenas, quilombolas, cientistas, ambientalistas e pessoas que atuam contra o desmatamento e pela vida. De outro, está o governo Bolsonaro, que ameaça os direitos humanos, a democracia e coloca em risco a Amazônia. Biden precisa escolher de que lado ficará”, afirmou Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Foto: Daniel Valverde/CIT/arquivo