O presidente Jair Bolsonaro mentiu na ONU nesta terça-feira, dia 22, ao dizer que os incêndios na Amazônia “acontecem praticamente, nos mesmo lugares, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas.”
É o que acusa a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) que protocolou uma ação interpelando o presidente no STF (Supremo Tribunal Federal) para que explique na Justiça “as mentiras que propaga e comunicou à ONU e os ataques feitos aos povos indígenas.”
“Ao culpabilizar novamente povos indígenas e comunidades tradicionais pelas queimadas na Amazônia, Bolsonaro consolidou a mentira como política de governo durante Assembleia Geral da ONU”, acusou a Apib.
A coordenadora-executiva da Apib, Sônia Guajajara, diz que Bolsonaro envergonha com sua subserviência, e culpa mais uma vez, os povos indígenas por crimes que na verdade são cometidos por seus compadres.
Membro da organização indígena Univaja, que luta pela proteção de 16 grupos isolados no Vale do Javari no Amazonas, Beto Marubo disse que Bolsonaro culpa quem é vítima no processo.
“Na ONU, o presidente da República sugeriu que queimadas são provocadas por índios e caboclos, justamente vítimas desse crime em série. Enquanto governo persistir em falácias e teses infundadas, o mundo e os próprios brasileiros ficarão sem resposta nessa questão ambiental”, criticou.
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Dados do Ipam
Com base numa nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a entidade explicou que apenas 6% das queimadas no ano passado ocorreram em terras indígenas.
Segundo relatório, as propriedades privadas responderam por 33% dos focos, 30% em áreas com destinação fundiária específica e 20% em florestas públicas, onde existiam um forte indicativo de grilagem de terras.
A pesquisa sobre temporada de fogo na região, realizada entre 1º de janeiro a 29 de agosto, revelou que terras indígenas e unidades de conservação são as categorias com menor incidência no ano, registrando 6% e 7% dos focos, respectivamente.
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ISA
O ISA (Instituto Socioambiental) afirmou em nota que Bolsonaro voltou a negar a grave crise de queimadas e desmatamento e sua responsabilidade sobre ela. “Distorceu informações e, sem provas, acusou indígenas em plena ONU para tentar se defender do desmonte ambiental que promove no Brasil.”
Adriana Ramos, assessora do ISA, considerou que o discurso de Bolsonaro só piorou a imagem do país no exterior.
“O presidente optou por aumentar a desconfiança sobre o Brasil, enchendo seu discurso de mentiras facilmente checáveis. O governo não assume sua responsabilidade com a reputação do país no exterior e depois quer culpar os satélites, os indígenas e as ONG”, criticou.
Fuga de investimento
Em nota, a coordenação do Observatório do Clima afirmou que o presidente mais uma vez expôs o país de forma constrangedora e confirmou as preocupações dos investidores internacionais que pensam em sair do Brasil.
Ao negar simultaneamente a crise ambiental e a pandemia, o presidente dá a trilha sonora para o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais no momento crítico de recuperação econômica pós-Covid”, diz.
Para a entidade, o discurso de Bolsonaro não foi voltado à comunidade internacional, mas sim à claque bolsonarista nas redes sociais.
“Não teve o objetivo real de prestar esclarecimentos sobre a situação do Brasil a parceiros comerciais e consumidores preocupados, muito menos de propor uma visão de país, como era a tradição, mas de combater a realidade e inventar inimigos imaginários”, diz.
“Ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Acusou um conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos, é Bolsonaro quem ameaça nossa economia”, afirmou.
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Foto: Marcos Corrêa/PR