Ato de coronel-chefe da Suframa coloca Bolsonaro em “saia justa”

Deputado vai denunciar Menezes Júnior a órgãos de controle federal

Bolsonaro

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 28/01/2020 às 12:29 | Atualizado em: 28/01/2020 às 17:05

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), deu nesta terça-feira, dia 28, mais uma demonstração de que é intolerante com atos que deponham contra a ética que diz empregar na sua administração. Ele mandou exonerar secretário-executivo da Casa Civil que usou avião do governo para viajar à Índia.

Também hoje, Bolsonaro declarou à imprensa: “A ordem é não passar a mão na cabeça de ninguém. Expõe logo o negócio e resolve”. Ele se referia ao episódio no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que gastou R$ 48 milhões em auditoria que não deu resultado eficiente. “Tá errado, tá errado”, afirmou o presidente.

É por esse motivo que fontes de Brasília acreditam que medida do superintendente da Zona Franca de Manaus (ZFM), coronel reservista Alfredo Menezes Júnior (ex-PSL, em migração para o futuro Aliança pelo Brasil), pode colocar Bolsonaro e seu discurso ético em xeque.

A razão do desconforto nacional a que o coronel aposentado pode ter submetido o compadre presidente é a “contratação escandalosa” de empresa de um amigo para a realização de serviços à Suframa, conforme denunciado pelo deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM).

Segundo a denúncia, que Ramos reafirmo hoje que levar a órgãos de controle do serviço público, como Ministério Público Federal/Procuradoria-Geral da República, Polícia Federal, Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU), o superintendente direcionou licitações para empresário com quem teria fortes relações de amizade.

 

Entenda o caso

 

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Imagem arranhada, confiança cai

Para o deputado, além de abalar a imagem do presidente da República, a medida do dirigente maior da ZFM pode arranhar a confiança dos empresários do polo industrial do Amazonas.

Diante da repercussão que o caso pode tomar, Bolsonaro deve ser obrigado a se manifestar sobre o episódio, o que não lhe será nada prazeroso. Afinal, ele sempre correspondeu aos gestos do seu indicado político para a Suframa, que por sua vez não perde nenhuma oportunidade de se gabar publicamente de ser próximo e gozar da amizade do compadre presidente.

A última exibição desses laços foi no sábado, em Manaus, durante evento para coleta de assinaturas para fundação do Aliança pelo Brasil.

Mesmo estando do outro lado do mundo, na Índia, Bolsonaro fez questão de fazer uma chamada de vídeo pelo WhatsApp para Menezes Júnior, que aproveitou para fazer disso um show de exibição.

O coronel inativo do serviço do Exército é apontado em Manaus como um dos nomes em quem Bolsonaro pode apostar para disputar a prefeitura da capital neste ano.

 

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Denunciante e denunciado

O jornalista Ronaldo Tiradentes, apresentador do programa “Manhã de Notícias”, na Rede Tiradentes, abriu espaço na manhã desta terça, dia 28, para repercutir o caso com o deputado Marcelo Ramos e o superintendente da ZFM, Menezes Júnior.

Ramos aproveitou a oportunidade para reafirmar sua denúncia. E ampliar as acusações contra o titular da Suframa.

“Não discuto com o coronel Menezes porque não vou me trocar com quem não tem nenhum voto. Agora, o que tenho dever de fazer como parlamentar é fiscalizar o trabalho de um agente público, indicado e não eleito, como ele gasta o dinheiro da autarquia que dirige. É minha obrigação, é meu dever, cobrar que ele assuma suas responsabilidades na defesa dos interesses da Zona Franca de Manaus”.

O deputado acusa o superintendente de ter contratado a empresa do amigo por uma ata de registro de preço para manutenção predial, mas estaria faturando com a realização de obras. Ou seja, desvio de finalidade da licitação.

“Isso é improbidade administrativa, é desvio de finalidade. O que tenho pra tratar com ele agora não é na política, é na polícia”.

Menezes Júnior se calou e não deu resposta ao programa.

 

Foto: BNC Amazonas