O líder da oposição no Senado , Randolfe Rodrigues (Rede-AP), prevê que o avanço das investigações de uma eventual CPI do MEC vai revelar o envolvimento do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos casos de corrupção da pasta.
“A CPI não pode convocar o presidente da República, mas eu tenho certeza que no curso da investigação nós chegaremos até ele. Não podemos quebrar os sigilos do presidente, mas, se os elementos todos apontam para a responsabilidade dele, nós podemos indiciá-lo”, disse ele ao jornal Folha de S.Paulo.
Autor do pedido de CPI, Randolfe está na expectativa de que o requerimento de instalação da comissão seja lido nesta semana no Senado para que os líderes dos partidos e blocos indiquem seus membros.
O governo trabalha ainda para retirada de nomes do documento. São 31 assinaturas de apoio, quatro a mais do mínimo necessário, 27.
Do Amazonas, os senadores Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB) assinaram o documento. Plínio Valério (PSDB) alega que não é contra o colegiado, mas quer ver primeiro a instalação da CPI das ONGS, que foi um requerimento de sua autoria.
De acordo com Randolfe, o primeiro passo do colegiado será requisitar, para acompanhar as investigações, o trabalho do delegado Bruno Calandrini.
“Nada melhor que o delegado que esteve na investigação esteja trabalhando junto com a CPI. Depois temos que ouvir os pastores, o ex-ministro, o empresário que denunciou”, afirmou. A criação do colegiado ganhou força após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e da revelação de gravação telefônica demonstrando que Bolsonaro pode ter interferido nas investigações.
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Entenda o caso
Em março, diversos prefeitos acusaram os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura, próximo ao então ministro, de pedirem propina em troca de liberação de recursos da pasta, sobretudo para a construção de escolas e creches nos seus municípios.
A saída de Ribeiro ocorreu uma semana após o escândalo. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que colocaria “a cara no fogo” pelo ministro. Nas conversas gravadas, Ribeiro admitiu atender aos pedidos dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar, porque foi um pedido especial que o presidente fez para mim”, declarou o ministro envolvendo Bolsonaro no caso.
No dia 22 de junho, a Polícia Federal (PF) prendeu o ex-ministro e os pastores pela existência de um “gabinete paralelo” dentro do MEC controlado pelos evangélicos.
As investigações também revelaram uma gravação telefônica, no último dia 9, na qual Ribeiro diz a sua filha que Bolsonaro lhe telefonou avisando que poderia ter busca e apreensão contra ele pela Polícia Federal (PF).
“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né? O trecho está em investigação da Polícia Federal”, disse o ex-ministro na ligação à filha.
“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, questionou a filha. “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, disse Ribeiro.
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado