Por Iram Alfaia , de Brasília
Os ex-ministros do Meio Ambiente Carlos Minc e Izabella Teixeira se manifestaram sobre as insinuações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a respeito dos interesses da Alemanha e Noruega no Fundo Amazônia, maior programa do país de preservação florestal e desenvolvimento sustentável.
Sobre a Alemanha, o presidente diz que ao congelar a doação para o fundo o país “vai deixar de comprar à prestação (Amazônia)” ou “não ajudam o Nordeste porque tem menos mineral do que na região amazônica”.
Em entrevista ao site ((o))eco , Carlos Minc, que comandava a pasta quando o primeiro contrato do Fundo Amazônia foi assinado, disse que não procedem as insinuações presidenciais.
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Segundo ele, a preocupação da Noruega, por exemplo, está relacionada aos impactos do aquecimento global, mais especificamente à elevação do nível do mar.
“Quando assinamos o contrato com a Noruega, o ministro do meio ambiente daquele país usou uma frase que dizia mais ou menos o seguinte: ‘a Noruega é um pequeno país ao lado da Groenlândia, quando aquilo derreter, nós seremos um dos primeiros países a submergir, então, para nós, a questão climática é uma questão de sobrevivência. O que estamos assinando hoje não é um ato de bondade, é um seguro de vida’. Isso não foi ninguém que me contou, eu estava lá e ouvi ele falar”, lembrou o ex-ministro ao ((o))eco.
Gelo derretendo
O site especializado em jornalismo ambiental citou estudo recente, publicado pela Norwegian Mapping Authority, dando conta de que o derretimento das geleiras da Groelândia elevaria o nível do mar na costa do país escandinavo em até10%.
O ex-ministro acredita que o fundo vai continuar por ser um mecanismo consolidado. Até que o governo e os doadores cheguem a uma conclusão.
“Sabe-se que o mecanismo funciona. Ele não será destruído, porque um dia isso vai mudar, Bolsonaro e Salles vão passar. Mas a execução dos programas a curto prazo foi pro espaço sideral”, disse Minc.
Alemanha
Quanto à Alemanha, a ex-ministra Izabella Teixeira disse que já havia uma tradição de colaboração do país com o Brasil. Em 2010, ela era ministra quando a Alemanha fez sua primeira doação ao fundo.
Lembrou que o país já tinha cooperação com o Brasil sobre a Amazônia em 1990 por conta do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG7).
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“A parceria com o Fundo Amazônia se deu pelo reconhecimento dos esforços do governo brasileiro para acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia Legal e da adoção de políticas socioambientais e de apoio à ciência. São sérios e cooperam com o Brasil desde a década de 60. Um erro sem precedentes buscar desmerecer uma cooperação bilateral tão robusta e cujos resultados são reconhecidos internacionalmente”, disse Izabella Teixeira, referindo-se ao acordo com a Alemanha.
A fala da ex-ministra foi compartilhada pela Embaixada da Alemanha que publicou a seguinte nota:
“A Alemanha apoia mais de 250 iniciativas florestais em mais de 30 países. O financiamento se concentra na construção de novas florestas, bem como na proteção e uso sustentável das florestas para reduzir os gases do efeito estufa. O programa PPG-7, Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, de 1991, foi um dos primeiros do gênero. Na cúpula do clima em Paris, em 2015, a Alemanha, juntamente com a Noruega e o Reino Unido, anunciou que forneceria 5 bilhões de dólares para programas eficazes de conservação florestal até 2020.”
Já foram doados ao Fundo Amazônia R$ 3,4 bilhões, sendo 93,8% oriundos do governo da Noruega, 5,7% do governo da Alemanha, 0,5% da Petrobras.
Foto: Banco de Imagens ANA/2010