Os inimigos da Zona Franca de Manaus (ZFM) estão comemorando vitória hoje, 28, dia em que o modelo completa 53 anos. Em mais de meio século de história, eles nunca haviam avançado tanto.
Na última batalha, a dos incentivos fiscais do setor de concentrados de bebidas, os algozes ergueram bandeira para festejar trágica decisão. Essa decisão foi do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que elevou alíquota de 4 para 8%, mas só por seis meses.
Esse tributo é o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que dá vantagem competitiva à ZFM de acordo com a alíquota.
Contudo, há ainda um detalhe mais sórdido nessa comemoração dos seus inimigos. É que eles fazem festa no quartel ocupado, a Suframa, que um dia já foi fortaleza de luta pelo polo industrial do Amazonas.
Isso foi em um tempo em que as ofensivas vinham de longe, porque não era fogo amigo, de dentro de casa.
Portanto, havia uma chance de se desviar da artilharia, e tempo para uma contraofensiva.
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Planos contra o modelo
Nos dias de hoje, porém, a tropa escalada por Paulo Guedes, o “general” da Economia, obedece cegamente ao plano de guerra do capitão Bolsonaro.
É o mesmo Guedes que nunca escondeu o desejo de acabar com a competitividade das indústrias da ZFM. Ainda que faça isso por via transversa.
Tal desejo já deixou claro, publicamente, mais de uma vez. Uma delas foi na polêmica entrevista ao canal Globo News, em 2019. Nessa oportunidade, afirmou que trabalhava no STF para derrotar o modelo em batalha judicial.
Depois, sustentou seu posicionamento no Ceará. Em junho do ano passado, tachou a ZFM de ruim e cara, porque custa bilhões ao país.
E foi mais além. Na ida ao Amazonas, em julho passado, Guedes disse que o estado pode abrir mão da ZFM e sobreviver de outros meios. Por exemplo, venda de carbono e oxigênio.
Esse gesto, consequentemente, foi visto como final na intenção do governo de minar a ZFM. Havia uma expectativa de que Guedes, com Bolsonaro ao lado, anunciasse um aceno que fosse de valorização do modelo. Exatamente o modelo, único desde os anos 60 do século passado, criado para desenvolver a região Norte. E mais do que isso, para dar algum equilíbrio às desigualdades cada dia mais profundas entre o norte e o sul do país.
Mas, não. Guedes e Bolsonaro, apoiados por uma claque aquartelada na Suframa, desprezam um projeto que é pai e mãe e a fé da população desta parte da Amazônia.
Por conta disso, a trincheira de defesa da ZFM e de milhares de amazônidas que dela dependem nunca esteve tão fragilizada, exposta e desfavorecida.
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Coronelato e as ordens superiores
E, dessa maneira, não há lucidez nos debates. E nem haverá enquanto a Suframa estiver ocupada pela tropa politicamente escalada por Bolsonaro. Isso porque o coronelato lá acomodado não compreende a complexidade do problema. Explique-se: essa tropa não foi preparada para pensar. Apenas para seguir ordens.
Portanto, resta aos aquartelados festejar os resultados da ZFM em 2019 . Se são bons números, estão muito distantes dos melhores momentos do modelo em meio século de vida.
Até mesmo essa festa fora de hora é prova de que não há boa intenção com a ZFM. Porque, se houvesse, esse isolado e restrito grupo pegaria esse resultado de 2019 para dar uma mensagem aos seus superiores hierárquicos.
Tal mensagem seria de que a ZFM voltaria a resultados bem melhores se no próprio governo não estivessem seus maiores inimigos.
Além disso, e igualmente ruim, é ver que forças locais já capitularam frente aos inimigos. Já não emitem qualquer sinal de reação às investidas contra a ZFM. Ficaram entorpecidas.
Mas, a última atalaia da ZFM e da Amazônia ainda não sucumbiu. E até que chegue esse momento, e até que o último homem sucumba, a luta vai continuar. Renhidamente. Podem apostar.
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Foto: BNC Amazonas