Senador do AM quer impedir  CPI do MEC e pode ser atropelado

A proposta de instalação de uma CPI para investigar corrupção no MEC ganhou força no Senado após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro

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Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 24/06/2022 às 18:13 | Atualizado em: 26/06/2022 às 20:53

O senador Plínio Valério (PSDB) quer evitar a instalação da CPI do MEC.  Antes, quer que seja instalado seu pedido para outra comissão, a de investigação da atuação de Ongs na Amazônia.

De acordo com assessoria do parlamentar, ele já acionou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que seja respeitado a ordem de antiguidade dos pedidos.

Ocorre que a proposta de instalação de uma CPI para investigar corrupção no MEC ganhou força no Senado após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e da revelação de gravação telefônica. Nesta está demonstrada interferência no caso do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Na gravação, no último dia 9, o ex-ministro diz a uma filha que o presidente lhe avisou sobre possível operação de busca e apreensão contra ele pela Polícia Federal (PF).

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“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né? O trecho está em investigação da Polícia Federal”, disse o ex-ministro na ligação à filha.

“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, questiona a filha.

“Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, disse Ribeiro.

O clima na casa é favorável à instalação da CPI.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) espera dar entrada no pedido na próxima semana com 30 assinaturas, entre as quais estão a de Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB).

“Diante das últimas notícias, a CPI do MEC se faz cada vez mais necessária. Além disso, iremos ofertar denúncia ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra o presidente por obstrução à justiça e violação do sigilo profissional”, disse Ranfolfe.

O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) diz que não há dúvida sobre a necessidade de uma CPI do MEC.

 “Agora surgem informações concretas de interferências do presidente da República na investigação. É preciso investigar”.

“Bolsonaro ligou para Milton Ribeiro e avisou sobre buscas e apreensão na casa dele. Milton recebeu ligação da filha e comentou sobre a conversa que teve com Bolsonaro. Filha alertou o pai que estava falando no ‘celular normal’ e, então, pararam de falar sobre. Tudo é muito grave”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE), um dos maiores defensores da CPI.

Ongs

Valério argumenta que existe urgência em relação a preocupação com o agravamento do desmatamento e conflitos sobre a atuação das 115 mil ongs na Amazônia, o que tem causado comoção em todo o mundo.

“Não vamos aceitar ser atropelados novamente. Os problemas no MEC já estão sendo investigados pela Polícia Federal e Ministério Público e confiamos nessas instituições para apurar e punir os responsáveis”, disse.

Para ele, os conflitos e aumento do desmatamento na Amazônia são causas constantes de comoção mundial e precisa botar o dedo nessa ferida.

“Mas a pandemia, e agora o ano eleitoral, foram os argumentos para não instalação da CPI das ongs já lida em plenário”, afirmou.

Foto: BNC AMAZONAS