Em entrevista ao BNC Amazonas , neste fim de semana, o senador Plínio Valério (PSDB) disse que a bandeira do asfaltamento da BR-319 está mais forte do que nunca.
O senador considerou “vergonhosa” as cenas na estrada em que caminhões, transportando 100 mil m³ de oxigênio de Porto Velho a Manaus para pacientes com coronavírus (covid-19), encontravam-se em atoleiros.
De acordo com ele, o Brasil tomou conhecimento de forma “vergonhosa e vexatória” sobre o isolamento do estado. “E esse isolamento ampliou em muito o número de mortes”, disse.
“Eu não vejo como uma ONG (organização não governamental) internacional possa dizer que, nós amazonenses, não temos o direito de ver a BR-319 asfaltada”.
Plínio também defendeu o auxílio emergencial, mesmo que seja de R$ 300, com a indicação de uma fonte específica no orçamento.
Sobre a proposta de impeachment, o senador criticou o negacionismo do presidente Bolsonaro, mas acha que não é o momento de um processo contra ele.
Plínio foi um dos que apoiaram a CPI da Covid-19 no Senado, mas diz que não pretende atuar no colegiado. Ele lembrou que terá muito trabalho como novo ouvidor-geral do Senado, “uma espécie de olhos e ouvidos para receber questionamentos da sociedade”.
BNC : O parlamento está cobrando a volta do auxílio emergencial para ajudar os mais necessitados, mas o governo, especialmente o ministro Paulo Guedes, diz que não há recursos para bancar o benefício. Será possível conciliar essas duas posturas? O senhor é a favor do auxílio emergencial?
Plínio : Eu sou a favor da volta do auxílio emergencial mesmo que seja R$ 300. Eu entendo, porém, que precisa indicar a fonte, de onde vem e se tem dinheiro, dinheiro tem. Não tem dinheiro específico para isso, o auxílio emergencial, mas você pode sim cortar aqui, cortar ali, com certeza. O Brasil é um país rico, tem muito dinheiro. Tem dinheiro para muitas coisas e tem para auxílio emergencial. Defendo como diz a palavra emergencial, ou seja, agora numa emergência, e que não seja uma coisa fixa e definitiva, mas tem que se dizer de onde vem o dinheiro.
BNC : A pandemia de coronavírus continua fazendo muitas vítimas em todo o país, especialmente no Amazonas. O senhor é a favor da prorrogação do estado de calamidade pública e a manutenção do orçamento de guerra?
Plínio : Sim. A gente vive num estado de calamidade pública. É perigoso esse orçamento de guerra, desvios e tal, mas é importante. Nós estamos verdadeiramente numa guerra, número de mortes já ultrapassa guerras civis, guerra de países contra países.
BNC : Como o senhor avalia atuação do governo do Amazonas e da Prefeitura de Manaus na gestão da crise pandêmica de coronavírus? Há culpados pela crise ter se agravado tanto? Quais ações urgentes o senhor aconselha para crise sanitária no estado?
Plínio : O problema da saúde no Amazonas é antigo. Esse caos que se instalou é antigo, ele vem de décadas. A culpa não é apenas deste governo estadual e municipal, vem do outro, do outro, e do outro. Quer dizer: uma coisa antiga que estourou agora. Nós fomos pegos de surpresa. Aí é uma questão de competência. Os hospitais de campanha foram desativados, menosprezaram a segunda onda, acreditavam que não teria, parte da população também não cumpriu o distanciamento, acho que tudo isso contribuiu. Há culpados? Sim. Só acho que agora não é hora de apontar o dedo. É hora de arrumar soluções, de atravessar, levar o barco, esse navio a um porto seguro. Agora é nossa obrigação. Eu não tenho uma solução. Eu sigo o que as autoridades sanitárias aconselham. Eu acho que a gente tem muitos problemas durante e pós a pandemia. Dá pena ver garçons, artistas, vendedores, microempresários, todo mundo sem renda. É difícil, dói e a gente tem uma certa impotência diante de tudo isso, tenho contribuído como posso na liberação de equipamentos, de dinheiro, máquinas e usinas. A gente trabalha para isso, mas a solução tem que vir da área sanitária, tem que vir da área de saúde e eu estou aí para aprovar e apoiar essas soluções. Agora, sou a favor do distanciamento, sim. Eu acho que o distanciamento é muito importante, nós perdemos muitos amigos e parentes, mas conheço muita gente que tem se mantido sem a doença cumprindo o distanciamento. Agora é uma coisa muito complicada. O que eu posso fazer é ajudar, rezar, ter fé que Deus é pai e isso vai passar logo.
BNC : Sobre a CPI da Covid-19, como apoiador, o senhor pretende atuar na comissão caso ela seja instalada?
Plínio : Eu não pretendo atuar na comissão que vai apurar essas distorções durante a covid. Eu assinei e assino. Um grupo de senadores querem fazer esse trabalho. Agora como ouvidor-geral tenho bastante trabalho, muita dedicação. Eu apoio sim, mas não vou fazer parte da comissão.
BNC: O senhor também apresentou um projeto para punir os furas-filas da vacina. O que esperar dessa ação?
Plínio : Esse episódio dos fura-filas aconteceu no país inteiro e até lá fora. Essa vergonha que nós passamos aqui em Manaus, pessoas furando filas. Eu apresentei o projeto constrangido. Se a gente estivesse num país civilizado não precisaria de uma lei dessa, todo mundo respeita as regras e convenções. Eu espero que seja logo discutido, juntar com outros e colocar em prática. Precisa mais do que inibir, punir esses egoístas, as pessoas que não têm princípios, acham que são mais espertas e nem são, somos todos iguais. E, se lei for aprovada, espero que seja para isso: punir. E aumenta em 1/3 a punição para funcionários públicos que permitiu fura-fila, que proporcionou a pessoas de fora furar e, que ele próprio, usou a sua função para furar.
BNC : Há movimentos políticos e sociais em torno do pedido de impeachment do presidente Bolsonaro – 64 ao todo – por conta de sua atuação negacionista na pandemia. Assim como um pedido de CPMI a caminho na Câmara e no Senado. Qual a sua posição sobre esses dois movimentos?
Plínio : Recentemente o Brasil passou por dois impeachments e um terceiro agora. Num momento de pandemia, tempestade, o navio em alto mar com tempestade, com chuva, furacões, eu acho que não é o momento. A quantidade de pedido não quer dizer que sejam concretos, mas eu acho, sabe, a gente tem de entender que tem horas na vida e momentos para tudo, mas eu não vejo um movimento de impeachment do presidente da República. É claro que esse negacionismo que o presidente Bolsonaro tem durante esse tempo todo é uma coisa feia e horrorosa, mas eu não sei se isso é motivo de impeachment. Tem lá as pedaladas, há muitas alegações, só acho que não é o momento, não é mesmo.
BNC : Com o retorno das atividades parlamentares, como a bancada amazonense pode contribuir para minimizar todos esses problemas que vêm ocorrendo no estado?
Plínio : A bancada no Congresso Nacional tem sido eficiente, mas as nossas prerrogativas, nosso poder tem limite, por exemplo, a gente aprova as leis, leis boas para combater a pandemia, principalmente no lado sanitário com a liberação de verbas, usando prestigio para liberar as coisas para o Amazonas como também as leis que facilitam o crédito, que jogam dinheiro no mercado, mas demonstrou não ser suficiente, porque a gente vive o país com maus modos, erros e vícios. Nosso trabalho é esse. Alguns da população não entendem, gostariam de nos ver a frente do hospital, nosso trabalho é ajudar o hospital a ter os seus equipamentos e suas condições. E fica claro uma coisa: nós temos que pensar o futuro e o futuro já é hoje. Temos que pensar porque daqui pra frente o mundo será diferente. Nós temos que ter uma atuação diferente. Eu vejo nisso tudo falta de gestão, muitos erros, mas a gente tem daqui pra frente de consertá-los. A bancada tem trabalhado assim, unida, fazendo o que está ao nosso alcance.
Foto: Marco Oliveira/Agência Senado – 22/9/2020
BNC : Quais são as suas prioridades de atuação parlamentar em 2021?
Plínio : O novo presidente da Câmara (Arthur Lira) anunciou a prioridade, e o governo também, e nela está incluso a autonomia do Banco Central, um projeto de minha autoria que foi aprovado no Senado, que está na Câmara deve ser votado. Não é minha prioridade, mas é uma prioridade do país que vai ser levado em conta um projeto de um senador amazonense. A gente tem a CPI das ONG (organização não governamental) na Amazônia que até hoje não foi instalada, nós temos a reforma tributária, a reforma administrativa e ajuda emergencial, mas acima de tudo nós, amazonenses, temos como bandeira mais forte, desgraçadamente, de forma certa por linhas tortas, arrumamos argumentos para continuar construindo o asfaltamento da BR-319. Não vejo agora como, não vejo moral, mesmo levando em conta a hipocrisia dessa gente. Eu não vejo como uma ONG internacional possa dizer que, nós amazonenses, não temos o direito de ver a BR-319 asfaltada. O Brasil tomou conhecimento de forma vergonhosa e vexatória do nosso isolamento. E esse isolamento ampliou em muito o número de mortes no Amazonas, porque se num primeiro momento, na falta de oxigênio, tivéssemos a estrada asfaltada, Porto Velho teria nos socorrido. Nós estamos falando em oito horas de Porto Velho pra cá e numa estrada dessa tem de se levar dias com caminhões e carretas atoladas, uma vergonha que se passou e foi jogada na cara dos brasileiros. E aquele brasileiro que pensa como os estrangeiros, agora mudou de opinião. Agora essa bandeira está mais forte do que nunca, a BR-319. E a cartilha nossa: a Zona Franca de Manaus. Vou continuar na Comissão de Assuntos Econômicos, eu e Omar (Aziz). Devemos continuar para estar lá vigilante e não deixar passar nada contra a nossa zona franca.
Foto: Pedro França/Agência Senado – 6/11/2019