Ramos quer independência no PL para se posicionar sobre Bolsonaro

Marcelo Ramos, do PL, disse que não vai integrar base aliada do "centrão" que está sendo articulada por Bolsonaro na Câmara dos Deputados

Vice da Câmara

Iram Alfaia, de Brasília    

Publicado em: 29/04/2020 às 14:46 | Atualizado em: 29/04/2020 às 14:46

Para barrar eventual processo de impeachment na Câmara dos Deputados, o presidente da República, Jair Bolsonaro, avança sobre o “centrão”. E faz isso por meio de negociação de cargos com lideranças desses partidos.

Do “centrão” participam o Progressistas, com 40 deputados, PL (39), PSD (37), Solidariedade (14), PTB (12) e Republicanos (31).

À exceção do oposicionista José Ricardo (PT), todos os demais deputados do Amazonas, em tese, estariam nessa nova base aliada a Bolsonaro.

Cotado para suceder a Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara, Marcelo Ramos (PL) avisou que não fará parte dessa base bolsonarista.

“Acho legítimo que os partidos que apoiam o governo ajudem a governar, mas eu já comuniquei ao meu partido que não tenho interesse de indicar cargo”.

Conforme Ramos, sua posição é porque quer manter independência no exercício do mandato em relação a Bolsonaro e ao governo. De acordo com ele, isso já havia sido sinalizado nas redes sociais.

“Dizem que o ‘centrão’ negocia cargos no governo. Eu só quero uma coisa do governo federal: ajuda para o meu Amazonas que agoniza por conta do covid. Cargos não salvam a vida das pessoas”, escreveu no Twitter.

Condenado no caso do mensalão, Valdemar da Costa Neto, líder do PL, negocia com Bolsonaro a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (Ministério da Saúde), a presidência do Banco do Nordeste e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit).

 

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Progressistas

O deputado Átila Lins (Progressistas), que está no seu oitavo mandato, disse que as negociações de Bolsonaro são feitas pelo presidente Ciro Nogueira (PI). Além deste, participa Arthur Lira (AL), um dos preferidos de Bolsonaro para substituir Maia.

Líderes do Progressistas negociam, por exemplo, cargos no Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE), de orçamento de R$ 54 bilhões.

Nogueira, réu no STF por corrupção, deve ficar ainda com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e da Parnaíba (Codevasp).

 

PSD

O PSD, do deputado Sidney Leite, já está em negociação avançada com Bolsonaro. Como resultado, o presidente da sigla e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab deve ganhar a pasta da agricultura.

Por enquanto, Leite demonstra que não estaria bem na nova base aliada. Na briga entre Bolsonaro e Sérgio Moro, ele escolheu um lado, portanto.

“O ato de Sérgio Moro mostra coragem e compromisso com o combate à corrupção. Iremos defender a autonomia da Polícia Federal e trabalhar para salvar vidas. Nosso mandato está sempre à disposição de quem faz o certo”, escreveu no Twitter.

Conforme ele, a sociedade brasileira perdeu com a saída de Moro do Ministério da Justiça.

“A presença de Moro no ministério era uma forte sinalização de combate à corrupção e independência dos órgãos de investigação. As acusações feitas na entrevista coletiva são extremamente graves”.

 

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Solidariedade

O deputado Bosco Saraiva não respondeu ao questionamento sobre a investida de Bolsonaro sobre o seu partido, o Solidariedade.

Contudo, o presidente da sigla e deputado Paulinho da Força (SP) foi um dos poucos a falar abertamente sobre o encontro com Bolsonaro.

“Me ofereceram o porto de Santos e eu não vou aceitar, não vou para o governo uma hora dessa. O ideal agora é fazer um entendimento entre Maia e Bolsonaro e garantir a governabilidade”.

 

PSL

O deputado Delegado Pablo (PSL) também não comentou as negociações. No rompimento de Bolsonaro com a sigla, o parlamentar sempre declarou apoio ao presidente.

No entanto, Pablo calcula que o presidente tem amparo em 50% da bancada do Amazonas, de oito deputados.

 

Republicanos

Os deputados republicanos Capitão Alberto Neto e Silas Câmara são aliados de Bolsonaro.

Na condição de presidente da Frente Evangélica da Câmara dos Deputados, Silas emitiu nota nesta terça (28) elogiando o governo pela nomeação do “terrivelmente evangélico” André Mendonça para lugar de Moro.

“Advogado da União; especialista, mestre e doutor em direito; professor universitário. Esses são alguns dos notórios predicados desse abnegado servidor público que se mostrou ‘terrivelmente’ competente ao comandar a Advocacia – Geral da União nos últimos 16 meses”, diz trecho da nota.

De acordo com a nota, Bolsonaro cumpriu um compromisso de campanha com a nomeação do evangélico.

“Mendonça é teólogo e pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, o que nos garante que os valores cristãos e da família – tão bem insculpidos pelo constituinte originário na carta magna brasileira – serão defendidos e respeitados”, escreveu ainda Silas.

Conforme Alberto Neto, se disse apoiador de Bolsonaro e que votará “sempre o que for melhor para o país e de acordo com meu eleitorado”.

E completou:

“Nosso voto representa o que nós acreditamos, e isso é inegociável. Sou um apoiador do presidente e do Brasil. Vou votar”.

 

Foto: BNC Amazonas