Bancada evangélica escolhe substituto de Silas Câmara na liderança

Os dois postulantes são Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e Cezinha de Madureira (PSD-SP), mas a tendência, segundo integrantes da Frente Parlamentar Evangélica, é que um acordo seja construído para que não haja votação

Ministro do STF nega a Silas

Diamantino Junior

Publicado em: 16/12/2020 às 11:17 | Atualizado em: 16/12/2020 às 11:19

A bancada evangélica será recebida nesta quarta-feira (16) pelo presidente Jair Bolsonaro para um culto de Natal, enquanto ainda tenta resolver a disputa política que definirá quem comandará o grupo, que reúne cerca de cem deputados, no ano que vem.

Os dois postulantes são Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e Cezinha de Madureira (PSD-SP), mas a tendência, segundo integrantes da Frente Parlamentar Evangélica, é que um acordo seja construído para que não haja votação.

A expectativa é de que Cezinha seja o novo presidente da frente, com Sóstenes como um dos cinco vices.

 

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Cezinha já havia demonstrado interesse em presidir a frente em 2019, antes mesmo de ter assumido o mandato.

A movimentação gerou reação na bancada, que na ocasião acabou fechando um acordo em prol de Silas Câmara (Republicanos-AM).

Por causa da pandemia, os deputados não se reuniram para eleger um novo líder, e Câmara segue à frente da bancada.

Cezinha foi deputado estadual em São Paulo por um mandato (2015-2018) e foi eleito deputado federal em outubro de 2018.

A escolha do novo presidente do bloco estava prevista para esta quarta-feira, mas foi adiada.

Antes da definição, a bancada vai ao Palácio do Planalto acompanhar um culto de Natal e se reunir com Jair Bolsonaro.

Apesar de ser católico, o presidente da República tem na bancada e no eleitorado evangélico, que costuma ser mais ligado a pautas conservadoras, grande parte de seu apoio.

Segundo Sóstenes, a chancela ou não de Bolsonaro não tem influência na escolha da bancada.

“Ele nunca foi membro da Frente Parlamentar Evangélica”, disse o deputado ao GLOBO, descartando uma possível influência do presidente na escolha.

Segundo integrantes da bancada, Bolsonaro ainda não demonstrou preferência ou agiu por nenhum dos concorrentes à liderança da frente.

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVC), é padrinho político de Sóstenes e se reaproximou do Planalto após discordâncias públicas quando o presidente indicou Nunes Marques para a cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Durante a campanha à presidência e após assumir a cadeira, Bolsonaro havia afirmado que escolheria um nome “terrivelmente evangélico” para uma das vagas no STF.

A próxima escolha de Bolsonaro deve ser para a vaga de Marco Aurélio Mello, que completa 75 anos e se aposenta em julho de 2021.

 

Problemas

 

Após o nome do agora ministro ser revelado pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim, líderes religiosos se queixaram, afirmando que o então juiz federal não era conservador o suficiente.

Um deles foi Sóstenes, que afirmou que o escolhido do presidente era ligado ao PT, por ter uma foto ao lado do governador do Piauí, Wellington Dias (PT) — Kassio Nunes Marques nasceu no estado, onde já exerceu a magistratura.

 

Perdão de dívidas

 

Outro ponto que gerou tensão entre a bancada e o presidente foi o veto a um projeto de lei aprovado no Congresso que concedia perdão de dívidas previdenciárias e tributárias a igrejas e templos.

No início de setembro, Bolsonaro atendeu a pedido de sua equipe econômica e vetou um dispositivo que livrava igrejas e templos do recolhimento da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e cancelava autuações relacionadas às dívidas desses tributos.

O trecho também anulava as multas pelo não pagamento de contribuições previdenciárias que incidem sobre remunerações de pastores, padres e sacerdotes aplicadas antes de 2015, quando essas cobranças foram suspensas por outra lei.

Bolsonaro chegou a defender nas redes sociais a derrubada do próprio veto.

Ele afirmou que foi obrigado a derrubar o trecho para evitar um “quase certo processo de impeachment” por um “obstáculo jurídico incontornável”, que poderia implicar crime de responsabilidade. Ainda não há previsão de quando o veto será analisado.

A bancada evangélica também tem discordâncias com o presidente sobre a pauta armamentista, tendo inclusive tomado a linha de frente no ano passado na derrubada de decretos emitidos pelo presidente, forçando-o a recuar.

Mas apesar das divergências, o grupo é majoritariamente alinhado ao Planalto por entender que a relação lhe proporciona benefícios, sobretudo pelo discurso do presidente em defesa da pauta de costumes, ainda que esta pouco tenha andado.

 

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Foto: Reprodução/TV Câmara