Bolsonaro perdeu “compasso moral” em meio a pandemia, diz revista “The Lancet”.
Em editorial, publicação científica afirma que presidente talvez seja a maior ameaça à resposta do país à covid-19.
Após demissão de Mandetta e Moro, Bolsonaro “precisa mudar de curso ou terá de ser próximo a sair”, diz.
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Num veemente editorial intitulado Covid-19 no Brasil: “E daí?”, em que critica a gestão da pandemia do coronavírus Sars-Cov-2, a revista científica britânica The Lancet escreveu que “talvez a maior ameaça à resposta do país à covid-19 seja seu presidente, Jair Bolsonaro”
O título do texto, publicado nesta quinta-feira (07), destacou a declaração pronunciada por Bolsonaro depois que o Brasil ultrapassou 5 mil óbitos em consequência da covid-19, a doença causada pelo coronavírus.
“E daí, quer que eu faça o quê? Sou Messias, não faço milagres”, disse a repórteres, após ser questionado sobre o veloz aumento das mortes no país.
A publicação destaca que Bolsonaro “não só semeia confusão ao escarnecer e desencorajar medidas sensatas de distanciamento social e lockdown (bloqueio total)” adotadas por governadores estaduais e cidades em todo o país, mas que também perdeu “dois importantes e influentes” ministros nas últimas três semanas: o da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro.
“Tal desordem no coração do governo é uma distração fatal em meio a uma emergência de saúde pública e também um sinal forte de que a liderança do Brasil perdeu seu compasso moral – se é que jamais teve algum”, diz o texto.
Vácuo político
A The Lancet afirmou ainda que combater a pandemia de covid-19 no Brasil já seria difícil mesmo sem “vácuo de ações políticas”, devido ao fato de cerca de 13 milhões de pessoas viverem em favelas, onde a alta densidade populacional torna difícil a implementação de medidas de distanciamento.
A publicação exemplificou ainda ações tomadas pelas comunidades científicas e de saúde e pela sociedade civil “num país conhecido por seu ativismo e sua oposição clara a injustiças e desigualdades, e onde a saúde é um direito constitucional”
Por outro lado, “liderança no mais alto nível governamental é crucial para evitar rapidamente o pior desfecho desta pandemia, como ficou evidente em outros países”.
“Como país, o Brasil precisa se unir para dar uma resposta clara ao ‘E daí?’ de seu presidente. Ele precisa mudar drasticamente de curso ou terá que ser o próximo a sair”.
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Foto: Marcos Correa/PR