A maioria da população brasileira diz que professar opiniões racistas não é direito, mas é contra a presença de casais gays em comerciais de televisão .
O resultado é de pesquisa Datafolha que analisou a concordância ou não com sete afirmações a respeito de temas presentes no debate social.
O levantamento foi feito entre os dias 13 e 16 de dezembro, com 3.666 entrevistas com pessoas de 16 anos ou mais em 191 municípios de todo o país.
A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Pouco mais de metade (51%) da população diz concordar totalmente ou em parte que “comerciais com casais homossexuais devem ser proibidos para proteger as crianças”.
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Afirmam discordar da frase totalmente ou em parte 45% dos entrevistados, e 2% declaram não saber.
A concordância é maior entre os homens (55%) e os menos escolarizados (57%) do que entre as mulheres (48%) e aqueles com ensino superior completo (39%).
A adesão a esse discurso é expressiva também entre evangélicos, chegando a 67% dos entrevistados neste segmento, em contraste com 50% dos católicos e 40% dos espíritas.
A afirmação tem também a concordância de quase 3 em cada 4 (74%) eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL), político com forte apoio do segmento evangélico e com um histórico de frases homofóbicas em sua trajetória.
As chamadas pautas de costumes tiveram peso importante no discurso da campanha de Bolsonaro na eleição de 2018, mas não chegaram a se traduzir em vitórias no Congresso, principalmente com a aliança do presidente ao chamado centrão.
A aparição de casais gays em comerciais já acontecia antes, mas foi alvo de uma onda de ataques homofóbicos em 2015 em uma propaganda de O Boticário para o Dia dos Namorados. Desde então, ocorreu outras vezes, mas a polêmica não cessou.
Mesmo com as críticas, para especialistas no mercado publicitário, campanhas com diversidade trazem ganhos às empresas , uma vez que aumentam a ligação com consumidores alinhados ao discurso de maior tolerância.
Na Hungria, o governo de direita radical de Viktor Orbán, que tem a simpatia de alas bolsonaristas, processou no início do ano um grupo de mídia por veicular propaganda com famílias LGBTQI+ .
A visão de casais homossexuais na televisão como uma ameaça às crianças contrasta com a aceitação da liberdade de orientação sexual constatada por outra pesquisa Datafolha há três anos.
Em 2018, 74% dos entrevistados declaravam que a homossexualidade deveria ser aceita , e apenas 18% diziam que ela deveria ser desencorajada.
Outras pautas da agenda bolsonarista, como o apoio a uma maior liberação das armas, também não tinham aceitação majoritária.
A visão negativa sobre o armamentismo permanece, segundo a pesquisa Datafolha realizada neste mês.
No total, 78% dizem discordar da afirmação de que “quanto mais armas as pessoas tiverem, mais segura estará a população”. Outros 21% afirmam concordar.
A concordância é maior entre homens do que entre mulheres (28% ante 15%), entre os mais ricos do que entre os mais pobres (35% ante 18%) e entre brancos do que entre pretos (26% ante 17%).
O dado é coerente com as estatísticas de segurança pública. Segundo estudo do Instituto Sou da Paz, crianças negras morrem 3,6 vezes mais por arma de fogo do que as não negras.
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Foto: Pixabay