O cigarro eletrônico está proibido no Brasil. Com isso, especialistas alertam para complicações cardiovasculares e pulmonares que esses cigarros causam à saúde.
Conforme reportagem do Estadão, consumido entre os jovens, podem ser porta de entrada para o tabagismo e colocar em xeque avanços no combate à dependência química da nicotina.
O funcionamento do cigarro acontece após uma bateria esquentar o líquido (e-liquid, em inglês) que, em geral, é uma mistura de água, aromatizante alimentar, nicotina, propilenoglicol e glicerina vegetal.
Dessa forma, eles aquecem a nicotina em vez da combustão dos cigarros comuns.
Por conseguinte, na fumaça do tradicional, há alcatrão, que contém produtos químicos potencialmente cancerígenos, e monóxido de carbono, que aumenta a chance de infarto e dificulta o transporte de oxigênio das células.
Além disso, o aerossol do dispositivo pode conter substâncias nocivas, alertam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Ao mesmo tempo, os especialistas destacam, também, que é difícil saber quais substâncias o produto contém.
Ou seja, por vezes, no lugar da nicotina, o aparelho é usado para vaporizar outras drogas, como maconha. Alguns, ditos livres de nicotina, apresentaram a substância em análises.
Toxicidade
Paulo Corrêa, coordenador da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), diz que o eletrônico tem toxicidade aumentada em relação ao cigarro convencional, por causa da forma de produção do aerossol.
“Ele tem um filamento, que deve ser aquecido. O filamento é revestido por níquel e outros metais, como latão e cobre. O nível de níquel que tem nos cigarros eletrônicos é de duas a 100 vezes maior do que nos tradicionais. O níquel é considerado cancerígeno.”
Assim, a taxa de prevalência, segundo especialistas, não é “confortável”. Eles alertam que os jovens são os principais usuários.
Por exemplo, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) mostrou que, em 2019, 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico.
Já na faixa de 13 a 15 anos, a prevalência foi de 13,6%. Nos de 16 até 17 anos, de 22,7%.
Contudo, mesmo com a proibição, o produto está na mão do brasileiro.
O preço do dispositivo varia de R$ 60 até R$ 680 – os mais baratos eram descartáveis.
Em suma, especialistas alertam que há uma série de riscos associados ao uso do aparelho.
Há perigos relacionados à nicotina, e outros específicos da tecnologia. Efeitos a longo-prazo ainda carecem de estudos, por se tratar de uma tecnologia relativamente recente – ainda não completou 20 anos.
Perfuração no pulmão
Ainda sobre o assunto, O Estadão apresenta, um caso de um manaura. Trata-se de Allan Doug.
Neste ano, o carnaval de Allan Doug, funcionário de banco, de 30 anos, começou no Rio e terminou em uma unidade de terapia intensiva (UTI), em Manaus.
O motivo: perfuração do pulmão devido ao uso excessivo de cigarro eletrônico.
O manauara fumava cigarro tradicional “há algum tempo”, mas só socialmente. Passou a usar o eletrônico, conta, nos últimos cinco meses.
“Comecei a usar porque achava bonita a fumaça. Achava aquilo legal.” Utilizava de forma esporádica, em festas. Doug afirma que não costumava tragar, apenas “aspirar”. Também diz que o dispositivo que usava não tinha nicotina.
No Rio durante duas semanas, sem ter de trabalhar, o uso se tornou diário e exagerado. Quando faltavam poucos dias para voltar para casa, no dia 28 de fevereiro, começou a tossir ao final de uma festa.
“Comecei também a sentir falta de ar e o meu peito começou a doer muito”, lembra. Por isso, se dirigiu a uma unidade de saúde da capital fluminense. “Lá, só me colocaram no soro e me deram um remédio.” Ele conta que, após o atendimento, passou a se sentir melhor.
UTI
Assim sendo, de volta a Manaus, na madrugada da quinta-feira, 3 de março, acordou com muita dor no peito. Procurou um hospital privado, onde logo fez um exame de imagem.
“No raio-X identificaram umas perfurações e muito líquido (no pulmão)”, afirma. Quando o médico lhe mostrou a diferença entre um pulmão saudável e o dele, Doug ficou em choque. “Fiquei muito assustado.”
Depois do exame, conta, tudo foi muito rápido. Foi logo levado à UTI, onde permaneceu por três dias, para expulsar o líquido do órgão. Precisou ficar internado mais 11, em um leito de enfermaria, em acompanhamento, enquanto fazia tratamento com antibiótico.
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Foto: Divulgação/Ministério da Saúde