A disseminação rápida do coronavírus pelo mundo já altera a rotina de empresas com operações globalizadas, em setores que vão de alimentos a energia, autopeças e eletrônicos.
Empresas que dependem de componentes chineses para montagem de celulares tiveram de paralisar linhas de montagem temporariamente em fevereiro.
A Samsung, maior produtora de smartphones do mundo, tem sua principal planta fora da Ásia na Zona Franca de Manaus (ZFM) e, até o momento, a unidade de Manaus não paralisou atividades, mas está em alerta caso o surto não seja contido.
A empresa liberou os funcionários por cinco dias, mas explicou que foi por conta do período de carnaval.
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No entanto, a unidade de Campinas, que monta celulares, tablets e notebooks paralisou atividades entre os dias 12 e 14 deste mês por falta de peças, segundo o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Campinas, Cidalino Orsi.
A Samsung informou que a unidade funciona normalmente.
Na Flextronics, que monta aparelhos da Motorola em Jaguariúna (SP), levou à paralisação das atividades por 15 dias na segunda metade deste mês, diz o sindicato dos metalúrgicos local.
Pelo menos 70% dos mais de 4 mil trabalhadores ficaram parados.
Segundo a entidade, a empresa comunicou nesta quinta-feira a parada por mais 15 dias.
Procurada, Motorola e Flextronics não comentaram.
As companhias que operam no Brasil optam pelo cancelamento de viagens internacionais, dão preferência a reuniões por teleconferência e adotam home office para colaboradores que estiveram em áreas afetadas, entre outras ações.
Alimentos
A Nestlé, multinacional de alimentos e bebidas – presente em 190 países e com 308 mil funcionários pelo mundo (sendo 32 mil no Brasil) – recomendou a suspensão de viagens e pediu que os funcionários utilizem “métodos alternativos” de comunicação sempre que possível.
Funcionários que tenham viajado para regiões afetadas pelo vírus nos últimos 14 dias devem informar o chefe imediato e trabalhar de casa por duas semanas.
A multinacional informou que adotou medidas de biossegurança nas fábricas, escritórios e centros de distribuição, com medidas de controle de infecções estendidas a fornecedores.
Beleza
O grupo L’Oréal, do setor de beleza e cosméticos com sede na França, também suspendeu todas as viagens até 31 de março, como medida preventiva.
Outras companhias restringiram os destinos permitidos.
Setor energético
A Enel, do setor de energia e com matriz na Itália, interrompeu viagens de e para China, Hong Kong, Macau e Taipé, incluindo escalas nesses países.
Para os demais destinos, as viagens serão feitas apenas quando consideradas como essenciais para os negócios e de acordo com as determinações das autoridades.
Grupo italiano
Outro grupo italiano, o Ferrero, dono de marcas como Nutella e Kinder e que tem operações no Brasil, não suspendeu as viagens, mas recomenda que sejam realizadas apenas quando “extremamente necessárias”.
No entanto, funcionários que viajaram para China, Cingapura, Hong Kong, Coreia e para o Norte da Itália estão sendo orientados a trabalhem em casa por 14 dias após o retorno a seu país.
A medida vale também para quem tem um familiar regressando de uma dessas áreas.
Restrições
A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, dona das marcas Sadia e Perdigão e com operações em mais de 140 países, ampliou a lista com restrições de viagens.
Além da China, estão nela Coreia do Sul, Irã e Itália.
Ao realizar viagens a outros destinos, os funcionários já seguem diretrizes de biossegurança, diz a BRF, cumprindo o “vazio sanitário”, período em que eles não têm acesso a pessoas ou instalações da empresa, como fábricas e centros de distribuição.
Agora, esse prazo subiu de dois a três dias para 14. A empresa criou um grupo de trabalho que monitora os mercados onde a BRF atua para atualizar os funcionários sobre a evolução da doença e medidas preventivas.
Alimentos
Restrições semelhantes estão sendo adotadas no frigorífico Minerva, um dos maiores processadores de proteína animal in natura do mundo.
Segundo o presidente Fernando Galletti de Queiroz, a orientação é evitar viagens internacionais desnecessárias e seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), como disponibilizar desinfetantes e álcool em gel aos empregados, entre outras medidas.
Cartilhas
Pelo menos 12 milhões de trabalhadores do comércio e serviços no país já estão recebendo cartilhas virtuais com recomendações para se prevenir contra o coronavírus.
O material foi enviado a 1,3 mil sindicatos filiados à União Geral dos Trabalhadores (UGT).
“A ideia é que esse material seja difundido via redes sociais para mais pessoas. E vamos imprimir 1 milhão de exemplares para distribuir à população em geral”, disse Ricardo Patah, presidente da UGT.
Fábrica na China
Sediada em Caxias do Sul, a Randon, fabricante gaúcha de autopeças, emprega 130 pessoas numa fábrica nos arredores de Xangai.
A unidade, parada desde o feriado de Ano Novo chinês, retomou as atividades em 10 de fevereiro.
“Todos que voltaram a trabalhar passaram por exames médicos”, diz a empresa. Os executivos que voltaram de viagens internacionais estão passando por 14 dias de quarentena domiciliar. Saídas do Brasil estão sendo adiadas.
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Foto: Alex Pazuelo/Agecom