O juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato, não foi poupado por seguidores do PT e de Lula na noite da entrevista no programa “Roda Viva”.
Os manifestantes estiveram na frente do prédio da TV Cultura e aproveitaram para xingar jornalistas, chamando-os de “golpistas”.
“A fama é passageira. Hoje você é incensado, mais adiante pode sofrer um apedrejamento moral”.
Esta foi a resposta do juiz federal à pergunta sobre como se sentia por ter se tornado uma celebridade internacional em razão da operação Lava Jato.
O magistrado de Curitiba deu sua primeira entrevista ao vivo a uma atração de TV no ‘Roda Viva’ exibido, nesta segunda-feira (26), na TV Cultura de São Paulo.
“Estou aqui por ter feito uma promessa”, disse o juiz.
Ele havia se comprometido com Augusto Nunes a ocupar a poltrona no centro do ‘Roda Viva’.
“Dr. Moro relutou em aceitar para não se expor”, comentou o apresentador.
A propagada edição com Moro foi a última comandada pelo âncora.
Nunes deixa a emissora pública paulista após quatro anos e meio como âncora do mais tradicional programa de entrevistas da televisão brasileira.
A presença do juiz inimigo número 1 do PT e dos lulistas gerou uma manifestação diante da sede da TV Cultura, na Água Branca, bairro da zona oeste da capital paulista.
A Polícia Militar montou duas barreiras de isolamento diante do portão principal da emissora.
Alguns jornalistas foram xingados de ‘golpistas’ na chegada para participar da bancada de entrevistadores.
“A primeira vez (de ser chamado de ‘golpista’) a gente nunca esquece”, ironizou Daniela Pinheiro, da revista ‘Época’, pertencente ao Grupo Globo.
Logo no primeiro bloco, iniciado às 22h15, o ‘Roda Viva’ chegou ao topo do Trending Topics do Twitter, ranking dos assuntos mais comentados e repercutidos no microblog.
A entrevista, no ar até meia-noite, mobilizou mais tuiteiros do que o clipe da música ‘Indecente’, de Anitta, lançado às 22h45 no YouTube.
No Ibope , o ‘Roda Viva’ surpreendeu com média de 4 pontos, de acordo com dados prévios.
Este índice representa 800 mil telespectadores somente na Grande São Paulo.
Em alguns momentos, a atração disputou o terceiro lugar no ranking com a Record TV.
Um desempenho inédito para o programa transmitido ininterruptamente desde 1986.
Sérgio Moro e filmes
Entre as dezenas de perguntas a Moro, o editor-executivo da ‘Folha de S. Paulo’, Sérgio Dávila, questionou o juiz a respeito do filme ‘Polícia Federal: A Lei é Para Todos’ (no qual o magistrado foi interpretado pelo ator Marcelo Serrado) e a polêmica minissérie ‘O Mecanismo’, do cineasta José Padilha, recém-estreada na Netflix.
O jornalista ressaltou a cena de sexo protagonizada na recente produção pelo juiz Paulo Rigo (Otto Jr.), personagem inspirado em Sérgio Moro.
O juiz esboçou um sorriso, mas não comentou a sequência picante.
“Não sou crítico de cinema ou televisão. Meu gosto é mais rasteiro. Sou uma pessoa curiosa, vi o filme e a série, os dois produtos têm qualidades”, disse o guardião da Lava Jato na Justiça Federal.
“Existe uma série de liberdades criativas. Nem a série nem o filme retratam exatamente como aconteceu, mas existem situações que conferem com a realidade”.
Na opinião dele, é importante que o cinema e a televisão retratem a corrupção sistêmica que assola o Brasil para “chamar a atenção para esse problema”.
No seu derradeiro encerramento do ‘Roda Viva’, Augusto Nunes (foto ) agradeceu a presença de Moro: “Não poderia haver para mim uma despedida mais honrosa”.
O apresentador, que será sucedido pelo também jornalista Ricardo Lessa, fez referência à nova etapa do programa.
“Espero que o ‘Roda Viva’ continue percorrendo a rota do jornalismo independente. É uma rota perigosa, mas é a única que conduz ao porto seguro do Estado de direito”.
Condenação de Lula
O juiz afirmou que as discussões envolvendo prisões em segunda instância vão além da operação e da condenação do ex-presidente Lula, e que esperar o fim de todos os recursos para executar prisões de condenados seria um ‘desastre’.
Moto afirmou que das 114 execuções de pena ordenadas por ele na 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), onde atua, e confirmadas em 2ª instância, apenas 12 envolvem a Lava Jato.
“Têm lá peculatos milionários, dinheiro desviado da saúde, da educação, e que faz falta para a população. Tem traficante, tem pedófilo, doleiros, e isso estou falando dentro de um universo pequeno, de onde eu trabalho”.
Fotos: Divulgação/TV Cultura