Pela quarta vez em pouco mais de um mês, o presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, tenta incriminar indígenas críticos do presidente Jair Bolsonaro.
Agora, o órgão denunciou ao MPF (Ministério Público Federal) quatro representantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) por descumprir a quarentena da covid-19.
Em ofício protocolado em 10 de junho, Xavier afirma que o grupo entrou na Terra Indígena Vale do Javari, com presença de índios isolados, sem seguir a ADPF (arguição de descumprimento de preceito fundamental) 709, referendada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto de 2020, após provocação do movimento indígena, incluindo a Univaja.
A ação prevê uma quarentena de 14 dias para ingresso em terra indígena com presença de povos indígenas isolados.
No dia seguinte, a procuradora Aline Morais dos Santos, lotada em Tabatinga (AM), abriu um procedimento administrativo no qual intima a Univaja a explicar o “possível descumprimento de quarentena”.
Ela cita um ofício do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) Vale do Javari, do Ministério da Saúde, que também relatou a suposta irregularidade apontada pela Funai.
Acionada, a assessoria jurídica da Univaja teve acesso ao processo aberto pelo MPF, incluindo os anexos.
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A viagem de quatro integrantes da Univaja, incluindo o coordenador-geral, Paulo Kenampa, teve início em 9 de junho, para atender a uma demanda urgente na aldeia Paulinho, às margens do rio Ituí.
Tanto os participantes da missão quanto a comunidade visitada são do povo marubo.
Dois dias antes, indígenas isolados haviam raptado uma mulher de 37 anos da aldeia Paulinho, na Terra Indígena Vale do Javari, segundo a aldeia informou via rádio. Ela teria sido levada às 15h30, quando estava próxima à sua maloca.
Os raptores laçaram o pescoço com cipó, taparam a boca com uma fita feita com fibras vegetais e colocaram barro nos ouvidos. O sequestro foi percebido pela mãe ao encontrar as sandálias. Em seguida, guerreiros marubos começaram a fazer uma busca pela floresta.
A mulher foi encontrada na mata por volta das 19h. Segundo os marubos, ela estava sozinha, com as mãos amarradas para trás. Não houve confronto com os isolados.
Desde 31 de outubro, quando os isolados tentaram raptar uma adolescente de 14 anos, os marubos pedem intervenção da Funai. Após esse primeiro incidente, os isolados tentaram levar três vezes a mesma mulher de 37 anos.
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Foto: Arquivo pessoal