Em resposta ao pedido de socorro do governador do Amazonas para o oxigênio que estava acabando, no dia 11, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, montou uma força-tarefa para pressionar a rede de saúde de Manaus para o “tratamento precoce” do coronavírus (covid) com cloroquina, basicamente.
Para tanto, encarregou sua secretária Mayra Pinheiro para montar uma força-tarefa com médicos de vários estados para a missão de empurrar o estoque de cloroquina comprado pelo presidente Jair Bolsonaro nos amazonenses.
Mayra então convidou 11 médicos de fora do Amazonas para cumprir a missão recebida do chefe. E para isso usou do dinheiro público, em média, R$ 4,2 mil só com a passagem de avião. Portanto, sem incluir aí os gastos com hospedagem, diárias e alimentação.
Segundo valores disponibilizados no Painel de Viagens, do Ministério da Economia, os bilhetes de avião custaram entre R$ 2.783 e R$ 4.535, e cada um dos médicos recebeu diária de R$ 655, valor que é pago pelo governo federal para gastos com hospedagem e alimentação, por exemplo.
A anestesiologista Luciana Cruz, de São Paulo, disse ao Painel em reportagem publicada em 15 de janeiro que o grupo não havia recebido nada a não ser as estadias e o valor de alimentação, provavelmente se referindo aos R$ 655.
À época, pediu que a reportagem entrasse em contato com o Ministério da Saúde para saber quem havia arcado com as passagens aéreas.
Luciana ainda disse que os médicos brincavam que estavam pagando para estar lá, pois deixaram seus consultórios para participarem da força-tarefa.
Ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de Manaus pedia permissão à prefeitura para que esses profissionais fizessem essa ronda pelas UBSs para que fosse “difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.
O Painel obteve vídeo de uma dessas visitas. Nele, a médica dermatologista Helen Brandão, de Goiás, exalta o exemplo de Porto Feliz (SP), onde o prefeito, Dr. Cássio (PTB), optou por adotar o uso de hidroxicloroquina e ivermectina.
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A cidade desde então virou objeto da produção de fake news diversas, como as que dizem que 100% da população tomou hidroxicloroquina e que nenhuma pessoa morreu de covid-19 na cidade depois de tomar a medicação.
Em texto enviado por WhatsApp recentemente, Mayra Pinheiro queixou-se de “recursos escassos” na secretaria que comanda.
A coluna perguntou ao ministério se os gastos com a ação de disseminação da cloroquina eram prioridade nesse momento e durante a crise em Manaus, mas não teve resposta.
O Painel revelou em 15 de janeiro que o ministério tinha montado e financiado a chamada “Missão Manaus”, que contou com pelo menos 11 médicos de seis estados.
As medidas pró-medicamentos sem eficácia no Amazonas são um dos pontos da investigação autorizada pelo Supremo contra o ministro.
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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil