Wilson Nogueira [texto e fotos]
Os mercados, por vários motivos, estão vinculados aos sentimentos mais sublimes dos moradores das cidades. Geralmente, porque são um dos primeiros logradouros públicos.
Lugar de convergência humana, os mercados comportam hábitos, gostos, cheiros, gestos, lazer, arte e trabalho. No centro, nos bairros, na beira das rodovias ou na beira dos rios, os mercados unem as diferenças.
Quando menino, imaginava viver a velhice transitando, pela manhã, nos corredores do Mercado Municipal de Parintins, um prédio do século 19, para depois jogar conversa fora nos bancos da Praça da Prefeitura. Projetava-me no hábito dos velhos de chapéus de murumuru e suas ambas largas que frequentavam esses lugares diariamente.
Por isso, custei acreditar que um dos prefeitos de Parintins quase concluía um mandato seis anos sem visitar o mercado que ficava, na época, a uns cem metros do seu gabinete.
Contou-me esse fato o ex-prefeito Benedito Azedo, que convidou o então alcaide e amigo para tomar um cafezinho na banca do saudoso Floriano. “Aceito. Assim, aproveito para visitar o mercado, coisa que nunca fiz desde que assumi”, disse-lhe o gestor, já em fim de mandato.
Não fosse Benedito Azedo fonte ilibada, custaria acreditar nessa história. Mas é vero.
Eu, prefeito, passaria por lá todos os dias.
Eu, escritor, inspirei-me no burburinho do setor de hortifrutigranjeiros do mercado municipal de Parintins para tecer O Andaluz (Editora Valer, 2005), minha primeira ficção para adultos. Narrei os cenários e cenas dessa passagem com todas as forças do meu espírito telúrico.
No mês passado, estive em Parintins e vi que o mercadão será reinaugurado em breve, todo reformado, ampliado e com mobília novíssima. Os usuários, entre os quais, os turistas do período o festival folclórico e da festa de Nossa Senhora do Carmo, em junho e julho respectivamente, terão um terraço com vista para o rio Amazonas.
É preciso vê-lo devolvido aos parintinenses para avaliar a importância que lhe será atribuída por meio da gentileza aos frequentados, do cuidado com o mobiliário e da limpeza das lojas, bancas e corredores.
De antemão, já se pode afirmar que o principal mercado de Parintins reassume o seu posto de cartão postal.
E, se o prefeito caprichar no bom gosto, deve reinaugurá-lo com atividades artísticas, com direito a uma bandinha de carnaval.