Uma carta recebida pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM) de 50 jovens indígenas, moradores da comunidade Castelo Branco, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, está dando o que falar.
De posse da correspondência, Valério foi à tribuna do Senado, na volta dos trabalhos legislativos e leu a mensagem dos curumins da etnia baniwa, com críticas à atuação de ongs (organizações não-governamentais) na região que, segundo eles, impede o desenvolvimento e a independência da comunidade.
Além disso, indígenas do rio Içana, afirma o senador amazonense, pedem liberdade e não admitem ser tutelados por essas organizações.
“Eles se insurgem não apenas contra a sujeição em que são mantidos pelo Estado, mas também contra a visão de mundo dessas organizações, que pretendem agir em seu nome”, disse Valério.
Em um dos trechos da carta, os jovens baniwas afirmam:
“Aqui na região do alto rio Negro, existem instituições ongs com visão e objetivo de que os indígenas se mantenham em estado de observadores da natureza, mantendo apenas a sua sobrevivência, ou seja, ter o direito de comer e dormir, nada mais”.
Segundo o senador, fica muito claro que a comunidade não aprova e rejeita a situação. Ele disse ainda que eles sonham, assim como ele, com um futuro de liberdade dessas leis “que são paridas em outros lugares e desse movimento hipócrita que arrecada recursos em nome das comunidades indígenas e que não chegam na ponta”.
O parlamentar amazonense leu outro trecho do documento em que os índios clamam pelo direito de ter uma atividade financeira, trabalhar e produzir.
“Não queremos ser dependentes da Bolsa-Família eternamente. Não queremos ser um peso para o Brasil. Nós queremos ser indígenas que pagam impostos, mas a lei nos engessa e algumas entidades, principalmente o Instituto Socioambiental (ISA) ficam buzinando nas cabeças de algumas lideranças dizendo que isto é errado”, afirmam.
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CPI das ongs
Na ocasião, Valério cobrou mais uma vez a instalação da CPI das ongs. “Nós precisamos instalar a CPI das ongs, para separar o joio do trigo, para provar essa hipocrisia que permeia, que reina, para mostrar a você, brasileiro, a você, brasileira, que a Amazônia é essa aí desses índios […] que tudo o que querem é sobreviver e ter o direito de se sustentar e autossustentar com o suor do trabalho, e não com promessas, e não com enganações, e não com esmolas”, afirmou.
Lideranças desconhecem carta
Ao tomar conhecimento da carta dos jovens baniwas e do discurso de Valério no Senado, a Organização Baniwa e Koripako Nadzoeri, que congrega e representa 85 comunidades e 10 associações do povo Baniwa e Koripako, veio a público esclarecer os fatos.
A Nadzoeri, coordenadoria da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), afirma que desconhece o conteúdo da carta feita por apenas uma das 85 comunidades e assinada por somente 50 pessoas, de uma população total de 6 mil indígenas que habitam a bacia do rio Içana.
“Nós, lideranças indígenas, afirmamos que essa carta não representa os interesses do povo Baniwa e Koripako e sequer chegou ao conhecimento das suas lideranças tradicionais e de líderes eleitos e reconhecidos pelas organizações sociais e políticas do nosso povo”, diz a nota de esclarecimento divulgada pela Foirn.
Para as entidades e lideranças do alto rio Negro, Valério tenta criar um ambiente de hostilidade e de acusações infundadas contra organizações da sociedade civil que lutam pelos direitos indígenas no noroeste Amazônico há mais de duas décadas e lutam por políticas públicas efetivas para o desenvolvimento da região e do bem viver dos povos indígenas.
“Lamentamos que um senador do Amazonas demonstre tamanho desconhecimento sobre a nossa região do noroeste amazônico e tente, por interesses econômicos, manipular a opinião pública contra organizações que trabalham em prol das populações indígenas na Amazônia brasileira”, diz a nota da Foirn.
Leia aqui íntegra da manifestação e do discurso senador:
Foto: Roque de Sá/Agência Senado