Confira crimes que Bolsonaro pode sancionar como abuso de autoridade

Neuto Segundo
Publicado em: 15/08/2019 ร s 11:52 | Atualizado em: 15/08/2019 ร s 11:52
O Plenรกrio da Cรขmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, dia 14, o Projeto de Lei 7596/17, do Senado, que define os crimes de abuso de autoridade cometidos por agente pรบblico, servidor ou nรฃo no exercรญcio de suas funรงรตes. A matรฉria agora segue ร sanรงรฃo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Os deputados aprovaram lista de 37 aรงรตes que poderรฃo ser consideradas abuso. Entre elas, obter provas por meios ilรญcitos, mobilizar veรญculos, pessoal ou armamento de forma ostensiva, para expor o investigado a vexame e impedir encontro reservado entre um preso e seu advogado.
Segundo o texto, essas condutas serรฃo consideradas crime se praticadas com a finalidade especรญfica de prejudicar outra pessoa ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro.
Jรก a divergรชncia na interpretaรงรฃo de lei ou na avaliaรงรฃo de fatos e provas nรฃo serรก considerada, por si sรณ, abuso de autoridade.
Estรฃo sujeitos a responderem por esses crimes qualquer agente pรบblico, servidor ou nรฃo, da administraรงรฃo direta, indireta ou fundacional de qualquer dos poderes da Uniรฃo, dos estados, do Distrito Federal e dos municรญpios.
Incluem-se nesse rol, portanto, os servidores pรบblicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; e membros do Legislativo; do Executivo; do Judiciรกrio; do Ministรฉrio Pรบblico; e dos tribunais ou conselhos de contas.
A nova lei serรก aplicada ainda a todo aquele que exercer, mesmo de forma transitรณria e sem remuneraรงรฃo, qualquer forma de vรญnculo, mandato, cargo, emprego ou funรงรฃo em รณrgรฃo ou entidade pรบblica.
Para o relator, deputado Ricardo Barros (PP-PR), o projeto permite uma atualizaรงรฃo do tema tratado na Lei 4.898/65, que รฉ revogada pelo projeto.
โQuem, em geral, vai denunciar รฉ o Ministรฉrio Pรบblico e quem vai julgar รฉ o juiz, por isso nรฃo cabe dizer que estรก havendo uma perseguiรงรฃo a esses agentes pรบblicosโ, afirmou.
Indenizaรงรฃo e perda do cargo
O projeto considera como efeitos da condenaรงรฃo criminal outras penalidades, como obrigaรงรฃo de indenizar o dano causado segundo fixado pelo juiz na sentenรงa; a inabilitaรงรฃo para o exercรญcio de cargo, mandato ou funรงรฃo pรบblica pelo perรญodo de 1 a 5 anos; e a perda dessas mesmas funรงรตes.
Entretanto, a inabilitaรงรฃo para o cargo ou sua perda somente serรฃo aplicados nos casos de reincidรชncia em crime de abuso de autoridade e nรฃo sรฃo automรกticos, devendo ser declarados os motivos na sentenรงa.
Penas restritivas de direitos
Como as penas para os crimes tipificados sรฃo de detenรงรฃo, ou seja, de baixo potencial ofensivo, o prรณprio projeto prevรช penas substitutivas: prestaรงรฃo de serviรงos ร comunidade ou a entidades pรบblicas; suspensรฃo do exercรญcio do cargo, da funรงรฃo ou do mandato pelo prazo de 1 a 6 meses, com a perda da remuneraรงรฃo e das vantagens; e proibiรงรฃo de exercer funรงรตes de natureza policial ou militar no municรญpio em que tiver sido praticado o crime e naquele em que residir ou trabalhar a vรญtima pelo prazo de 1 a 3 anos.
Crianรงa e adolescente
No Estatuto da Crianรงa e do Adolescente (Lei 8.069/90), o projeto determina que a perda do cargo, do mandato ou da funรงรฃo pรบblica somente ocorrerรก se houver reincidรชncia nos crimes praticados com abuso de autoridade contra crianรงa ou adolescente tipificados no estatuto.
Essa perda de cargo estรก prevista no Cรณdigo Penal (Decreto-Lei 2.848/1940) e รฉ aplicada quando a pena privativa de liberdade for por tempo igual ou superior a um ano.
Um dos crimes tipificados no estatuto, por exemplo, รฉ o de produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explรญcito ou pornogrรกfica, envolvendo crianรงa ou adolescente.
A pena de reclusรฃo de 4 a 8 anos e multa aumenta de 1/3 se o crime for praticado por agente no exercรญcio de cargo ou funรงรฃo pรบblica ou a pretexto de exercรช-la.
Aรงรฃo penal
Os crimes de abuso de autoridade serรฃo apurados com base em aรงรฃo penal pรบblica incondicionada, ou seja, nรฃo dependerรก de queixa do ofendido para se oferecer a denรบncia contra o suspeito.
Entretanto, se a aรงรฃo penal pรบblica nรฃo for apresentada no prazo legal, poderรก haver a aรงรฃo privada; e o Ministรฉrio Pรบblico poderรก fazer acrรฉscimos a ela, rejeitรก-la e oferecer denรบncia substitutiva. No caso de negligรชncia do querelante, o รณrgรฃo poderรก retomar a aรงรฃo como parte principal.
O ofendido terรก o prazo de seis meses, contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denรบncia, para entrar com a aรงรฃo privada.
O projeto prevรช tambรฉm que as penas criminais sรฃo aplicadas independentemente das sanรงรตes de natureza civil ou administrativa, mas a sentenรงa penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legรญtima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercรญcio regular de direito faz coisa julgada em รขmbito cรญvel, assim como no administrativo-disciplinar.
Em outras palavras, se a pessoa for inocentada na esfera criminal nรฃo poderรก ser condenada na esfera cรญvel (indenizaรงรฃo) ou administrativo-disciplinar (sanรงรตes previstas em outras normas especรญficas).
Prisรฃo temporรกria
O projeto muda a Lei 7.960/89 para estabelecer novas regras sobre a prisรฃo temporรกria.
Atualmente, a lei prevรช que o preso deverรก ser posto imediatamente em liberdade depois do prazo de cinco dias fixado para esse tipo de prisรฃo, exceto se ela tiver sido convertida em preventiva.
Com a nova regra, exige-se que o mandado de prisรฃo temporรกria deverรก conter necessariamente o perรญodo de sua duraรงรฃo e o dia em que o preso deverรก ser libertado. Apรณs esse prazo, a autoridade responsรกvel pela custรณdia deverรก pรดr imediatamente o preso em liberdade, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, exceto se jรก tiver sido comunicada da prorrogaรงรฃo da prisรฃo temporรกria ou da decretaรงรฃo da prisรฃo preventiva.
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Fonte: Agรชncia Cรขmara
Foto: Agรชncia Cรขmara/Pablo Valadares