Estamos nos aproximando de mais uma eleição, motivo de alegria para a maioria da população, que entende ser este momento o mais importante da sociedade nacional, uma conquista civilizatória, fruto de muita luta e sofrimento.
O Brasil não possui uma longa tradição democrática, conforme já escrevi nesta coluna. Nossa República é marcada por crises e golpes de Estado. Com efeito, após vinte e cinco anos sem poder exercer o seu direito de voto, o povo brasileiro voltou a fazê-lo 1989, eleição com maior número de candidatos da história – 22 no total.
A atmosfera eleitoral de 1989 era de festa, de esperança, de crença na democracia e no estabelecimento de um Estado de Bem-Estar Social em nosso país a partir da Constituição de 1988.
Contudo, esse Estado de Bem-Estar Social não veio. Ao menos não como previsto na Constituição. Mesmo assim, o povo brasileiro se habituou a votar. E, apesar de todas as desilusões, sempre fez festa, vestindo a camiseta de seu(sua) candidato(a), colocando adesivos em carros, participando de caminhadas, de debates, levantando bandeiras, enfim, participando ativamente desse momento importantíssimo do país.
Sem dúvida, de 1989 até agora, temos o maior período de eleições diretas verdadeiramente democráticas em nosso país, nas quais todos podem exercer o seu direito de voto. Digo isso porque nem sempre foi assim. Outrora, as mulheres e os analfabetos, por exemplo, eram impedidos de votar.
Todavia, apesar da conquista democrática da eleição, desde 2014 o país tem enfrentado um clima de animosidade no percurso das campanhas eleitorais. A festa tem dado lugar à violência, paradoxalmente estimulada por aqueles que adentraram os espaços de poder pela via democrática.
À guisa de exemplo, temos Aécio Neves que, em 2014, estimulou o ódio contra a presidente Dilma Rousseff. Além dele, Jair Bolsonaro, em 2018 e, em 2022, sistematicamente, vem fomentando a violência com seu discurso de ódio.
É importante que se diga que sempre houve embates políticos nas eleições nacionais. Sempre houve discursos inflamados e até xingamentos, porém, nunca se viu um clima como o deste ano. A principal diferença da eleição de 2022 para as outras é que nesta os adversários políticos foram transformados em inimigos. Ocorre que a partir desse entendimento tudo muda, pois, com o inimigo, nisto insisto, não há convivência, uma vez que deve ser sempre abatido.
Nesse contexto, com relação às eleições de 2 de outubro de 2022, muitas lideranças políticas e outras autoridades brasileiras e estrangeiras têm manifestado preocupação e temor. É uma preocupação justa, afinal, em três décadas de eleições tranquilas no país, temos, pela primeira vez, forças atuando sistematicamente contra a realização do pleito.
Essas ações são realizadas com o intuito de desacreditar a justiça eleitoral, que comemora 90 anos este ano, e todo o processo comandado por ela. Isso inclui falácias sobre as urnas eletrônicas e o sistema de apuração dos votos.
Criou-se um verdadeiro clima de guerra e de terror, o que contraria o fato de a eleição nacional não ser um confronto, mas, pelo contrário, uma festa da democracia, seu ponto mais alto, no meu entendimento.
Contra tudo isso, os brasileiros, democratas e republicanos, precisam se unir e resgatar a atmosfera eleitoral de 1989, quando a democracia, a cidadania e a brasilidade tomaram conta do país. O clima de guerra e de terror não interessam ao povo brasileiro, ao menos à sua maioria. Entretanto, é útil a apenas um pequeno grupo de nazifascistas presentes na elite nacional que pregam golpe de Estado por meio de suas redes sociais.
O povo brasileiro, reitero, mesmo sem ter muito conhecimento do processo eleitoral, sem ter muita clareza da importância da democracia, da política e dos partidos políticos para a sua vida, gosta da eleição. Nesse sentido, dados do TSE revelam que cresceu o número de eleitores jovens e idosos aptos a votar em 2022, saltando de 147 milhões para 156.454.011 eleitores (aumento de 6,21%).
Portanto, aqueles que são contrários à democracia, às liberdades constitucionais, ao Estado de Direito, indo de encontro ao ordenamento jurídico do país, precisam ser rechaçados pelo(a) eleitor(a) no dia 2 de outubro.
Eu sei que parece clichê, mas a eleição é a festa da democracia, o seu ápice. Mesmo que seja uma democracia burguesa, ainda assim é muito melhor do que qualquer ditadura supostamente nacionalista.
*Sociólogo
Foto: Facebook/Percurso – Da esquerda para a direita: Lula, Ulysses Guimarães, Orestes Quércia, Leonel Brizola, Franco Montoro, Tancredo Neves, Osmar Santos e Fernando Henrique Cardoso