Por Lúcio Carril*
Presidente Lula,
É um absurdo o governo querer manter o Amazonas em isolamento terrestre porque o Estado brasileiro não tem poder para deter o crime ambiental e de grilagem.
Nós, amazonenses, já pagamos caro por essa ineficiência do Estado.
Querer fazer do nosso estado um santuário ecológico, presidente, não é política de preservação. É nos colocar como cidadãos e cidadãs de segunda categoria.
Se não quer a conclusão da pavimentação da BR 319, que nos apresente um plano de barateamento dos alimentos e de passagens aéreas com menores preços, dois benefícios que teremos com a ligação terrestre do Amazonas ao restante do Brasil.
Se o Amazonas têm mais de 98% de cobertura natural, não é pelo nosso isolamento terrestre. É porque nós temos uma relação de vida com a floresta e com os rios.
Mas isto, senhor presidente, não pode ser objeto de punição da nossa gente. Nós queremos um olhar diferenciado do governo e do Estado brasileiro, porque somos povos da floresta. Somos parte dos 180 povos indígenas da Amazônia e mais de mil comunidades quilombolas.
Somos quase 4 milhões de moradores no Amazonas e mais de 2 milhões só em Manaus. Quando queremos e precisamos sair da nossa cidade, as passagens aéreas são exorbitantes, seja do interior para a capital ou da capital para outro estado.
Os alimentos que consumimos vêm todos de fora, por via aérea, o que faz do custo de vida do Amazonas um dos maiores do país. Se houvesse um caminho terrestre, isso diminuiria.
Segundo o IBGE, em 2020, cerca de 2,7 milhões de pessoas que moram no Amazonas viviam em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, o resultado coloca nosso estado na segunda pior posição do país, atrás apenas do Amapá.
É claro, presidente, que a BR-319 não é uma panaceia, mas o modal terrestre iria baratear o preço dos alimentos e nos dar condições de nos interligar com outros estados irmãos.
Se o Estado brasileiro não tem condições de manter a integridade do nosso território e nos proteger contra o crime da grilagem e do desmatamento, nos apresente uma saída, presidente. Nós queremos cidadania. É um direito nosso.
Seja bem-vindo, presidente Lula. O Amazonas lhe abraça.
*O autor é sociólogo
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil