Eleitor do Norte ‘varre’ esquerda do Congresso; Pará é exceção 

Pelo menos dez deputados federais dos sete estados da região não foram reeleitos em 2 de outubro. Somente o Pará elegeu nomes para o Senado e Câmara

Antônio Paulo, da Redação do BNC Amazonas 

Publicado em: 04/10/2022 às 14:54 | Atualizado em: 04/10/2022 às 15:22

Os eleitores dos sete Estados da região Norte “varreram” do Congresso Nacional 10 deputados federais que usavam seus mandatos para defender a Amazônia e seus graves problemas. 

Deixam de ter voz, luta e defesa a invasão às terras indígenas, o desmatamento da floresta, o garimpo ilegal, a grilagem de terras públicas, a violência no campo e tantas outras mazelas.  

Isto porque, no último domingo, 2 de outubro, não foram reeleitos os deputados federais José Ricardo (PT), do Amazonas; Perpétua Almeida (PCdoB) e Léo de Brito (PT), ambos do Acre. 

Também perderam o mandato progressista os deputados federais Camilo Capiberibe (PSB) e Professora Marcivânia (PCdoB), do Estado do Amapá. 

Com um único deputado federal da esquerda, entre os oito da bancada, o conservador Estado de Rondônia não reelegeu Mauro Nazif (PSB). 

Assim como Roraima perdeu a combatente deputada indígena Joênia Wapichana (Rede). Não reeleita, ela teve apenas 11.221 votos. 

E no Estado de Tocantins, o deputado federal Célio Moura (PT) também perdeu seu mandato na Câmara.

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Lideranças não eleitas 

Além dos deputados com mandatos não reeleitos, algumas lideranças e ex-parlamentares da Região Norte também não conseguiram se eleger. 

É o caso da ex-senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Ela tentou voltar à Câmara dos Deputados, não conseguiu votos suficientes para eleição. 

Ainda do Amazonas, o ex-deputado federal Francisco Praciano (PT) buscou uma vaga na Assembleia Legislativa (ALE-AM), mas não teve sucesso. 

Grande liderança no Estado do Amapá, o ex-governador e ex-senador João Alberto Capiberibe ficou em terceiro lugar na disputa pelo Senado

Ele obteve apenas 21.979 votos (5,37%), enquanto Davi Alcolumbre (União) foi reeleito com 47,88% da votação no Amapá. 

Indígena à direita 

Não bastasse derrotar toda a esquerda, nessas eleições, o amapaense fez uma opção um tanto intrigante. 

Inesperadamente, elegeu uma indígena da direita, do mesmo partido do presidente Bolsonaro. 

Sílvia Waiãpi, do PL, conseguiu o mandato de deputada federal com 5.431 votos. 

Já a deputada indígena da esquerda, Joênia Wapichana (Rede), foi derrotada em Roraima. 

Deputada Dilvanda Faro ao lado do marido, senador eleito Beto Faro, e deputado Airton Faleiro (ao fundo) do PT-Pará. Foto/redes sociais

Pará salva 

Apesar de não reeleger a deputada federal Vivi Reis (Psol), o Pará foi quem “salvou” a esquerda da Região Norte nessas eleições. 

Os eleitores do Estado mandaram ao Senado o deputado federal Beto Faro (PT), derrotando o bolsonarista Mário Couto (PL). 

Beto vai ocupar a vaga do atual senador Paulo Rocha (PT-PA), que nessas eleições não se candidatou à reeleição. 

Rocha coordenou a campanha do ex-presidente Lula no Pará, que venceu Bolsonaro por 52,22% a 40,27%. 

Casal da agricultura familiar

Da mesma forma, a deputada estadual Dilvanda Faro (PT) foi alçada à Câmara dos Deputados em Brasília.

Beto e Dilvanda Faro são casados, da zona rural e vêm de famílias de agricultores da região do Baixo Tocantins, no Pará. 

O Estado ainda reelegeu à Câmara dos Deputados Airton Faleiro (PT), fechando duas vagas federais. 

Eleições na Alepa 

Ao mesmo tempo, foram eleitos à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Lívia Duarte (Psol) e Maria do Carmo (PT).

Ao passo que foram reeleitos à Alepa os deputados estaduais  Bordalo e Dirceu Ten Caten, também do PT.  

Análise política

Ao analisar o fiasco da esquerda na Região Norte, o cientista social e professor da Ufam, Luiz Antônio, diz que esse resultado tem um conjunto de variáveis. 

Primeiramente, o fenômeno do bolsonarismo na Amazônia é bastante convincente, com formadores de opinião bancados pelas grandes companhias e benfeitores. 

Luiz Antônio cita os fazendeiros, grileiros, mineradores que têm interesse direto no desgoverno da Amazônia. 

“Isso implica no que disse e ex-ministro do Meio Ambiente e agora deputado federal por São Paulo, Ricardo Sales, em aproveitar o momento para passar a boiada”, disse o professor da Ufam. 

Tem ainda a questão dos reflexos, nos governos locais das prefeituras, que receberam recursos do orçamento secreto.  

Voto de cabresto

Para o cientista social, isso explica as medidas eleitoreiras dos governadore, prefeitos e vereadores que foram enquadrados para apoiar as candidaturas de direita. 

“Temos o exemplo do deputado José Ricardo [PT do Amazonas] que dedicou todo o seu mandato a enviar recursos de emendas ao interior, sem olhar cor partidária.  

E no final, essas prefeituras fecharam as portas para ele. Por outro lado, temos o caso do deputado Marcelo Ramos, que atuou sempre no campo de centro-direita.  

Mesmo não sendo eleito, recebeu 4 mil votos em São Paulo de Olivença onde foi umas poucas vezes. Uma votação de prefeito. 

Esses resultados, de um lado e de outro, nada mais são do que a representação da continuidade dos currais eleitorais, do voto de cabresto”, analisou Luiz Antônio. 

Contraponto 

Por outro lado, o cientista social citou eleições importantes dos movimentos sociais, sem-terra, como de Guilherme Boulos (Psol), Luiza Erundina (Psol), Eduardo Suplicy (PT), em São Paulo. 

Lembrou ainda de candidatas de mulheres trans em São Paulo e Minas Gerais. 

“Com certeza, essas candidaturas vão fazer o contraponto, vão ser as vozes em defesa da região amazônica contra os poderes locais”, concluiu. 

Fotomontagem: BNC Amazonas