Para mostrar que rompeu de vez com o grupo que o colocou na política em 2006, o deputado estadual e candidato a governador do Amazonas pelo PSB, David Almeida, disse que, em um eventual segundo turno na eleição para o Governo do Amazonas entre o atual governador Amazonino Mendes (PDT) e o senador Omar Aziz (PSD), já decidiu sua posição:
“Eu vou logo afirmar aqui: no segundo turno eu não acompanho nem o Amazonino nem o Omar. Eu estou falando o que eu afirmo”.
Em seguida, David completou, prevendo o que pode acontecer caso ele próprio esteja no segundo turno:
“Então, para que fique claro, eu não apoio. Mas, na verdade, eu vou para o segundo turno. E vocês vão ver que eles que vão se juntar contra mim”.
David fez a conjectura desses cenários ao participar nesta quarta, dia 16, do programa BNC Sabatina, realizado pelo site BNC Amazonas para entrevistar os candidatos a governador do estado. Dos seis que registraram candidaturas, apenas o atual governador declinou do convite para ser sabatinado. Em nota, disse que não participará de entrevistas exclusivas nem de debates eleitorais até o dia 31 de agosto.
O BNC Sabatina é transmitido ao vivo do auditório Professora Vânia Pimental, da Universidade Nilton Lins, parceira do projeto juntamente com o provedor de internet LogicPro, hospital e planos de saúde Samel e restaurante Toreador.
A primeira entrevista foi com o candidato do Psol, Berg da UGT , no dia 13; no dia seguinte foi a vez de Omar Aziz (PSD); ontem foi com David Almeida (PSB); e hoje será com Sidney Cabral (PSTU). O fechamento das sabatinas na sexta-feira é com Wilson Lima, candidato do PSC. Sempre às 16h.
Críticas a Rebecca, caso Suhab, veto a Vanessa…
Sabatinado pelos jornalistas Neuton Corrêa, Rosiene Carvalho e Israel Conte, do BNC Amazonas , e Lúcio Pinheiro, do site Estado Político, o candidato do PSB falou sobre plano de governo, a conturbada aliança com o PT, o problema com a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) e diz que não se deixará ser cooptado no processo político.
David criticou sua ex-aliada Rebecca Garcia e foi explorado em contradições de sua fala sobre sua origem política e a acusação de ter participado de um golpe de R$ 27 bilhões na Superintendência de Habitação do Amazonas (Suhab).
Leia e assista o terceiro episódio do BNC Sabatina:
Neuton Corrêa – Gostaria que o senhor falasse sobre sua candidatura e, imediatamente, respondesse para nós qual seria seu primeiro ato que vai tomar, caso seja eleito governador do Amazonas?
David Almeida – Nessa oportunidade, quero agradecer o convite e me colocar à disposição de todos os senhores, para, juntos, aqui debatermos. É uma oportunidade que eu tenho de poder falar, de poder expressar a minha vontade e o meu desejo em função da minha candidatura ao governo do Amazonas.
Em relação à minha primeira ação, meu primeiro ato, no dia primeiro de janeiro, ou no dia 2, vamos chegar chegando, para mudar e resolver. Resolver os grandes problemas que o Estado do Amazonas tem, no menor espaço de tempo possível, Neuton. Eu me proponho, como candidato a governador, e isso vai fazer parte da conversa que vamos ter, da entrevista, de apresentar as soluções para os problemas que se colocam no Estado do Amazonas.
Nós temos as melhores propostas e temos também as melhores soluções para todos os problemas que nós estamos enfrentando. Problemas esses que avolumaram durante os últimos anos, durante os últimos 36 anos, diga-se de passagem. Esse que está falando aqui é alguém que esteve à frente do governo do estado por pouco mais de quatro meses, aproximadamente 144 dias, e eu quero poder participar desta eleição para poder levantar, para poder dar novamente ao povo do Estado do Amazonas o orgulho de ser morador desse lugar. Aos nossos irmãos do interior, dizer que não se desesperem, não deixe de acreditar, não deixe que a desesperança possa lhe pegar. Porque nós estamos vivendo um momento muito difícil na história política do Brasil e do Amazonas.
Nós tivemos, no ano passado, Neuton, a você que nos assiste, uma eleição suplementar, em que, no segundo turno, mais de um milhão de amazonenses não compareceu a urna, votou branco ou anulou seu voto. São pessoas que não acreditam mais na política, pessoas que não acreditam mais no político, pessoas que acham que não tem jeito para os problemas e não têm soluções para os problemas que estão enfrentando.
Eu sou exatamente a (…) desse pensamento, já pensei assim, achava que tudo era difícil. Que não dava para fazer nada, e quem está falando aqui esteve em um lugar, eu sentei numa cadeira. Eu estive em um lugar onde todos que estiveram antes de mim diziam que era só problemas. Não dá para resolver o problema do professor, não dá para resolver o problema da saúde, não dá para resolver o problema da infraestrutura, não dá para resolver o problema da produção rural. Eu vi exatamente o contrário. Eu também acreditava, eu também acreditei. Eu quero dizer a você quees tá me ouvindo nesse momento, que a cadeira de governador onde eu estive sentado por 144 dias, no ano passado, nesse período eu era governador interino…
Neuton – Qual será o primeiro ato?
David Almeida – Meu primeiro ato é repactuar todos os contratos do governo do Amazonas. Todos os contratos em todas as secretarias. Fazer gestão, fazer mais com menos. Otimizar os recursos, eu digo, o Amazonas é um estado rico, nós temos muito dinheiro, nós temos esse ano, previsto, 16 bilhões de reais para o nosso orçamento. Só que nós vamos chegar no final do ano, com aproximadamente 19 bilhões de reais. Só no primeiro semestre, Neuton, nós arrecadamos a mais do que no mesmo período do ano passado, 20% de arrecadação. Nós precisamos fazer com que esse recurso, essa riqueza, chegue ao homem do interior, chegue ao nosso irmão da capital, da zona Norte, da zona Leste, em melhores serviços públicos. E eu sei como fazer. Nós temos uma proposta, várias propostas, e é isso que tentarei fazer.
Primeiro ato: Fazer a repactuação de todos os contratos, em todas as secretarias, e se eu tiver tempo, e puder aqui exemplificar, eu vou demonstrar que é possível termos recursos, recursos da ordem de um bilhão de reais, vou repetir, do orçamento do estado, de 16 a 19 bilhões, nós temos como destinar um bilhão e meio de reais, por ano, somente para investimento em saúde, educação, segurança, infraestrutura, em todas as áreas, em produção rural , em todas as áreas. Vou estar à disposição de todos vocês para discorrer sobre esses tópicos.
Lúcio Pinheiro – Em 2017 o senhor foi governador por um tempo do ano, quase cinco meses. Nesse ano de 2017, o Amazonas teve um crescimento tanto no número de homicídios e, principalmente, no número de roubos, principalmente no de furto e roubos de veículos. Eu queria saber do senhor que medida concreta o senhor vai fazer na segurança pública do Amazonas para reduzir um índice tão alto (…) em toda a sociedade nesse momento?
David Almeida – Primeiramente eu quero te dizer que o pior momento para a segurança pública nós estamos vivendo hoje. Vamos analisar. Eu assumi o governo no ano passado, no dia 9 de maio. Não, não pedi votos para ser governador, não planejei para ser governador, por uma circunstância constitucional, eu assumi o governo no momento em que a economia era negativa, nós estávamos no dia 9 de maio e estávamos no vermelho em 698 milhões de reais. O estado já tinha utilizado seu orçamento e ainda não tinha arrecadado, então o estado estava devendo 698 milhões de reais.
Tinha 136 mil pessoas à espera de um exame, de uma consulta, ou de uma cirurgia. Tínhamos, lá quando assumi, uma iminente greve da Polícia Militar, quatro anos que não pagaram suas promoções, Corpo de Bombeiros na mesma toada, Polícia Civil não se pagava, é…, a terceira parcela do escalonamento. Eu assumi o estado nessa condição. Com isso que assumi o estado. Eu tive, que, com o carro andando, trocar a roda do carro. Nós recuperamos a economia.
A segurança pública que você falou, naquela época, nós tínhamos essa iminente greve da Polícia Militar. Na segurança, nós tivemos a maior promoção da história da Polícia Militar, na época, a maior promoção da história do Corpo de Bombeiro Militar, tivemos o pagamento da terceira parcela do escalonamento da Polícia Civil. Em 144 dias colocamos 291 novas viaturas à disposição do serviço da segurança pública. Colocamos dois helicópteros a serviço da Polícia Civil, compramos armamento, cem, cem motocicletas colocamos à disposição, e eu fiz o meu trabalho, aquilo que eu me propus.
Eu não fui para televisão dizer que eu ia diminuir furto, que eu ia resolver problemas da segurança pública, em função de, naquele momento, ser o governador. Eu assumi o governo nessa circunstância. Nós evitamos uma greve em que o Amazonas deveria entrar, na mesma rota, no mesmo caminho do Estado do Espírito Santo, e o que tinha para o momento, naquela oportunidade, eu fiz e dei o meu melhor.
Só que a segurança pública, da época em que eu saí, para cá, piorou consideravelmente. Por exemplo, por 100 mil habitantes, o índice que até o ano passado era de 36 mortos por 100 mil habitantes, hoje nós estamos chegando a 50. É, o Ipea, acho que é o Ipea, somente na segurança pública, somente esse ano, nós já tivemos mais de cem, seiscentos homicídios. Está morrendo gente todo dia na cidade de Manaus, uma… o estado perdeu o controle. Para você entrar para fazer uma campanha de vacinação, você tem que pedir autorização do crime organizado.
O estado não tem mais controle sobre a segurança pública. O que adianta você colocar muitas viaturas para funcionar e não ter o incentivo? O estado precisa de ações rápidas, céleres e concurso público, urgente, para que possa aumentar o efetivo. Trabalhar com tecnologia, trabalhar com inteligência, valorizar o policial, premiar o policial, distritos policiais como se faz (…) por desempenho, para que o policial possa ter uma maior motivação para trabalhar.
Os índices alarmantes que nós estamos vivendo hoje, tudo são frutos, frutos da indicação feita pelo governo do estado, em que foi aparelhada a Secretaria de Segurança Pública. A Secretaria de Segurança Pública foi transformada em nada mais e nada menos do que um comitê eleitoral, aonde se deixou de fazer gestão, e passou a ser… e colocar, em vez de técnicos, assessores políticos. Todo mundo sabe disso.
Eu penso é que precisa fazer investimentos, rapidamente, na segurança pública, com aumento de efetivos, polícia na rua, motivação ao policial, tecnologia, usar também inteligência, para poder diminuir os índices de criminalidade tanto no estado, na cidade de Manaus, quanto no interior. Nunca esteve tão ruim. A segurança andou para trás nesses últimos dez meses.
Israel Conte – Candidato, o tema é emprego e renda. O Brasil começou o ano com 13 milhões de desempregados, sendo 250 mil só no Amazonas. Nosso estado, apesar das abundâncias em riquezas naturais, ainda é altamente dependente da Zona Franca de Manaus. Chegando ao governo, o senhor tem alguma ideia, aí, para libertar o Amazonas da dependência da Zona Franca? Queria ouvi-lo. Quais são suas propostas?
David Almeida – Boa pergunta. Nós precisamos desenvolver verdadeiramente o interior. O desenvolvimento do estado passa pela desburocratização, investir em logística e infraestrutura.
Olha só: um empresário no Distrito Industrial, ou qualquer empresário que esteja no comércio, o estoque em trânsito desses empresários, dessas empresas, que precisam trazer os produtos para Manaus é entre 12 e 15 dias. Por quê? Pela distância, pela logística. Se nós asfaltarmos a BR-319, e é possível asfaltar, depois eu falo sobre isso, esses estoques em trânsito vão diminuir para dois dias, diminuindo o custo amazônico, dando assim ao empresário, àquele investidor, maiores condições de abrir espaço. Maiores oportunidades para o emprego.
Se eu conseguir asfaltar a [BR] 319, o grande eixo do desenvolvimento do Estado do Amazonas, o estado tendo R$ 1,5 bilhão/ano para investir em saúde, infraestrutura, tecnologia, segurança, educação, nós vamos fazer do estado o maior vetor do desenvolvimento e da geração de emprego, como eu fiz quando fui governador interino.
Eu estava numa crise e comecei a dar ordem de serviço. Mas asfaltamos estradas vicinais em vários municípios, em vários municípios do Amazonas: em Autazes, no Castanho, em Itacoatiara, em Manacapuru, no Rio Preto da Eva, em Borba, em Nova Olinda, em Lábrea, em Manaquiri, em vários municípios.
Nós criamos a oportunidade, o ambiente favorável para que o emprego volte, a atividade econômica se recupere.
Se nós investíamos em infraestrutura e o desenvolvimento do Amazonas, a total dependência da Zona Franca de Manaus passa pela pavimentação do eixo do trecho do meio da BR-319.
Eu vou criar o clima e o ambiente favoráveis: desburocratização, dando oportunidade ao empresário de ter uma celeridade na questão de geração de emprego, para que nós possamos atrair novos investimentos.
É vender o Amazonas como porto seguro dos investimentos com a segurança jurídica que nos é concedida através da Zona Franca de Manaus. Isso é muito mal vendido.
Se nós dermos as condições favoráveis, criarmos os ambientes favoráveis aos empresários, nós vamos ter muito mais empregos sendo gerados aqui na Zona Franca de Manaus, a partir do desenvolvimento do interior, a partir do zoneamento. Isso eu estou falando de emprego na capital.
Como nós vamos desenvolver o interior? Até hoje, o Estado do Amazonas ainda não tem um zoneamento ecológico-econômico. Nós não sabemos quais são as potencialidades dos nossos municípios.
Eu deixei pronto quando eu saí, em quatro meses, um estudo para fazer zoneamento econômico-ecológico, onde você vai identificar as potencialidades de cada município e fazer com que esse município possa ser um produtor.
Por exemplo, temos produtos maravilhosos. A farinha do Uarini ainda é produzida da forma que se fazia há 50, 60 anos. Ela é transportada naqueles sacos de 50 quilos e ela nem pode ser, muitas vezes, aproveitada pelas 35 empresas de alimentos que nós temos no Distrito.
Nós temos que certificar essa farinha, nós temos que montar mais, pôr indústria lá em Uarini, em Tefé e trazer esse produto para ser exportado.
Hoje, tem tantos programas de culinária no Brasil, esses programas que aparecem na televisão, que nós podemos usar esse produto para exportar, para colocar nos grandes restaurantes, para colocarmos nos grandes hotéis e assim nós temos um selo amazônico naquele produto, na farinha.
Por exemplo, proteína animal: 40% do nosso pescado é jogado fora, enquanto a China, eu estive governador, a China nos procurou querendo comprar toda a proteína do nosso estado.
O nosso açaí, para vocês terem uma ideia, o açaí produzido em Manaus sabe onde é “Sifado”? Em Belém e em Goiânia. A maior empresa de beneficiamento de açaí é em Goiânia. Eles pegam o nosso produto e vão beneficiar lá, enquanto nós vendemos in natura . Se nós agregarmos mais valor ao nosso açaí, nós vamos ter uma condição de exportar.
Eu estava conversando com os produtores daqui e aí eles disseram: Olha, para eu tirar o açaí daqui, eu tenho que mandar para Goiânia, porque eu tenho comprador que tem um cliente lá nos Estados Unidos.
Então, eu preciso fazer o zoneamento ecológico-econômico no nosso estado e identificar as potencialidades turísticas, de produção aqui na área da indústria. E aí eu vou criar um clima e um ambiente favorável para geração de emprego e renda.
Quer saber uma outra geração de emprego? Os pequenos manejos. Os pequenos manejos, os de uma fazenda que cria 2, 3 empregos, isso obedecendo as regras ambientais, têm mais de 5 mil projetos de manejo parados no Ipaam e na Sema, que precisam que o estado possa trabalhar, criar um parque onde se resolva todo o problema, todos os assuntos relacionados ao primeiro setor, o setor rural. E aí, sim, criar esse ambiente favorável. Aí eu tenho 5 mil projetos parados. Se eu colocar esses projetos em andamento em um ano, gero 15 mil novos empregos. É assim que se vai fazer o desenvolvimento do Estado do Amazonas e sair da dependência total do Polo Industrial de Manaus.
Investir em tecnologia, investir em logística e investir na desburocratização, dando ao investidor o ambiente seguro e dando a ele a segurança jurídica, que é Zona Franca de Manaus.
Rosiane Carvalho – Em sua resposta para o Lúcio Pinheiro, eu não consegui compreender quais as medidas concretas, que propostas concretas o senhor tem para enfraquecer as facções criminosas relacionadas ao tráfico de drogas que atuam em Manaus e que causam terrorismo no interior do estado e colocam o Amazonas em manchetes negativas.
David Almeida — Manchetes internacionais. Eu recebo mensagem de fora do Brasil. “Poxa Manaus virou isso?
Rosiene Carvalho — Tem medidas concretas?
David Almeida — Ontem, eu recebi um garoto na minha casa, filho de uma diarista. Esse garoto mora numa área de risco, numa área de vulnerabilidade. Esse garoto conseguiu vencer e sabe onde ele está morando, com 21 anos de idade? É professor de jiu-jitsu! Em Nova York, o Tales. Assim como Tales, têm centenas de garotas. E nós somos um estado, o estado com maior potencial esportivo jiu-jitsu.
Nós exportamos mão de obra. Nós temos que fazer com que os nossos jovens possam ter oportunidade de não ser cooptados pelo crime organizado. Nós temos que combater a criminalidade não somente com polícia. É com políticas públicas de integração do esporte no lazer, na cultura, fazer e botar as igrejas, tanto as católicas quanto evangélicas, de programas musicais, em que essa juventude possa ter uma perspectiva de futuro.
Nós temos uma Arena da Amazônia, nós temos um ginásio Amadeu Teixeira, em que nós podemos fazer grandes centros de treinamento, o Carlos Zamith, lá na zona Leste. Na cidade, nós temos lá na zona Norte, no Osvaldo Frota. Nós temos que dar oportunidade, nós temos que fazer o jovem ter uma ocupação através de políticas públicas feitas não somente com segurança, mas de uma maneira transversal, para que ele possa resistir a uma tentação. Ele possa resistir a um convite de um traficante.
Agora, o narcotráfico, [é] uma atribuição federal, guarnecer as fronteiras, todos os crimes, todos são alimentados pelo tráfico de drogas. Se nós não aumentamos o efetivo na fronteira, atribuição federal fortalecida com o governo estadual, nós não vamos tirar esses problemas da cidade Manaus.
E aí eu digo, na segurança, aumentar efetivo; investir em tecnologia, motivar o policial, e aí você vai trabalhar com essas políticas públicas, fazer com que o policial seja um pouco mais que policial, que ele possa estar presente na sociedade, na comunidade, nas escolas, nas igrejas, mostrando que é possível se viver numa realidade diferente.
Eu sou fruto disso. Eu sou de um bairro. Tive muitos amigos de infância que se perderam na criminalidade, mas tem muita gente que optou, teve uma nova oportunidade e é essa oportunidade que nós queremos dar para os filhos de Manaus, para os nossos irmãos do interior, uma oportunidade de viver no estado.
Nós temos recursos para isso, em que o estado pode oferecer um futuro melhor para os jovens e para toda a população.
Portanto, investir em mais policiais, em tecnologia, fazer parcerias com as igrejas, com entidades, investir em esporte, cultura e lazer. Tudo isso faz parte de políticas públicas que possam dar melhores oportunidades.
Roseane Carvalho — O senhor acha que isso é suficiente para combater o grau de articulação a que essas facções chegaram? Inclusive, investigações do Ministério Público Federal mostram que têm tentáculos até no Judiciário.
David Almeida — Eu fui governador e eu inaugurei um centro de Detenção Provisória, o CDPM2. O que acontece? Um preso por pensão alimentícia e um preso por um crime de menor potencial ofensivo vai para o mesmo lugar onde está o traficante. O estado só tem presídios de segurança mínima e média. Não tem de segurança máxima.
Se você coloca um iniciante lá com os professores do crime, ele vai ser cooptado para não ser morto, para não ser, ele vai acabar fazendo algo que ele não queria.
Então você tem que diminuir dividir separar, criar as cadeias de segurança máxima e tirar aqueles que são os mais perigosos do ambiente daquele que cometeu um crime de menor potencial ofensivo.
Aí, é você trabalhar as políticas públicas e eu, aqui, eu enumerei para você: diminuir os índices e a cooptação dessa juventude pelo crime organizado. O jovem acabou indo para esse caminho por não haver uma perspectiva. E o estado tem que criar essa perspectiva, o estado tem que ser aquele que possa oferecer à juventude um caminho diferente daquilo que está sendo proposto, como eu tive e como muitos dos que estão comigo, que moram na periferia, tiveram.
Eu quero dizer para vocês, para você que mora na periferia, no interior: é possível você ter melhores políticas públicas, é possível você ter uma nova oportunidade, e é possível se combater segurança pública, não somente com segurança, mas com esporte, com lazer, com cultura, e, acima de tudo, com parcerias com as igrejas católicas e evangélicas, que são as entidades que mais recuperam jovens, que mais recuperam pessoas em situação de vulnerabilidade.
Neuton Corrêa – A poucas horas da campanha eleitoral, o senhor ainda está com problema na sua coligação e com um partido importante, que é o PT, que, por sua vez, tem um problema para acomodar um aliado, que é o PCdoB e a senadora Vanessa Grazziotin. No momento em que a gente está aqui, a coisa lá fora está acontecendo. Como explicar isso para o seu eleitor o que está acontecendo? Está fechada ou não está fechada a sua aliança?
David Almeida – (risos) Eu estou muito tranquilo, muito tranquilo mesmo. Olha só: no ano passado, eu era governador interino e era presidente da Assembleia. Eu estava num partido e o partido não deixou eu ser candidato. Eu tinha condições de sair candidato e não fui candidato, porque o partido não me permitiu.
Hoje eu sou candidato, porque eu estou no partido que me permite ser candidato. Eu já tenho até mais do que eu imaginava que pudesse ter. Eu já tenho um partido para disputar, já tem uma coligação. Eu tenho todo ambiente necessário.
O que acontece é o seguinte: nós temos uma aliança nacional. O presidente nacional do meu partido, o Dr. Carlos Siqueira, nos ligou e disse: nós vamos fechar uma aliança nacional que o PT vai apoiar o PSB no Amazonas e no Amapá. Olha! Legal! O Partido dos Trabalhadores, o grande legado para o Amazonas, 73 anos de prorrogação da Zona Franca, Luz para todos, Proama. Tudo bem. Fechamos aliança com PT e o PT referendou meu nome em nível local em que indicaria um vice. Composta a chapa de federal de estadual, tudo dentro dos conformes.
A presidente nacional do PT vem, liga para o presidente do meu partido e diz: Olha, o PCdoB precisa entrar na aliança. Eu disse: olha, o acordo não contemplava o PCdoB e esse impasse vem se estendendo por esses dias. Nós fizemos uma aliança a nível nacional com PT. O PCdoB e o PT, a nível nacional, apoiam PCdoB para senador no Amazonas e o candidato ao Senado do PT era a senadora Vanessa, até porque em Manaus, a nível nacional, pediram para que não tivesse a candidatura do deputado Praciano e isso vem acontecendo.
No dia de ontem, o PT nacional mandou uma deliberação em que queria incluir o PCdoB na nossa coligação. Só que não nos cabe mais. O prazo era 5 de agosto, em que você tem que enviar a ata de sua convenção, o Drap, E ali está colocado.
Tanto é que a nível nacional a Manuela D’Ávila iria registrar sua candidatura a presidente no domingo, dia 5 desistiu, porque não poderia mais mudar se fosse registrado.
Rosiene Carvalho – O senhor deu sorte nessa desistência?
David Almeida – Não, a desistência dela foi em função de ir posteriormente poder compor com presidente Lula. Se ela…
Rosiene – Por que ela desistiu no instante em que o PT fechou com PSB.
David Almeida – Esse risco que eles não quiseram correr lá em Brasília, eles agora querem que nós possamos correr aqui. Então, o que os nossos assessores jurídicos disseram é: Olha não tem mais possibilidade jurídica de incluir um partido na coligação e é a isso que nós estamos nos atendo.
Com relação a tempo, pode usar o tempo. Ela é candidata do PT, tenho maior respeito pela senadora, pelos membros do PCdoB, mas na aliança…
Neuton Corrêa – Há risco?
David Almeida – Há risco para toda a coligação.
Lúcio Pinheiro – Mas não pode usar tempo se não houver coligação.
David Almeida – O tempo pode ser usado, existe a possibilidade de usar o tempo. Acontece que eles querem entrar na coligação. Só que a legislação eleitoral mudou, a legislação que permitia que fizesse a modificação até o dia 15, que é hoje, esse passo foi antecipado para o dia 5.
As mudanças e a ata deveriam estar juntas no dia cinco, 24 horas depois, no dia 6, e esse momento já passou, não existe mais possibilidade jurídica de mudança, de colocação de um outro partido na coligação, senão, vamos lá: Vamos colocar a coligação do Geraldo Alckmin. De repente, de uma hora para outra, o outro partido decidi desistir da candidatura e querer entrar na coligação para presidente. Não cabe mais. A coligação, as alianças já foram fechadas não mais tem possibilidade jurídica. É isso que se questiona. Eles vão fazer o registro de uma outra chapa e agora a questão não cabe mais a nós decidirmos. É uma questão agora da Justiça Eleitoral.
Lúcio Pinheiro – Mas a presidente nacional do PT, ela não está pressionando de agora, ela está para a Vanessa entrar na coligação antes do dia 5.
David Almeida – Não, até o dia 5 não tinha…
Lúcio Pinheiro – Não tinha conversa?
David Almeida – Não tinha nenhuma conversa, nenhuma orientação a nível nacional. Eu obedeço à orientação do meu partido. Eu não posso falar por outros partidos.
Olha, O partido disse: Vocês do Amazonas, o partido no Brasil vai ficar neutro, vocês não têm candidato a presidente. Tudo bem. No Amazonas a coligação vai ser com PT. Em nenhum momento disseram que seria com PCdoB. Tanto é que o PSB foi a nível nacional e disse: Não, não fizemos acordo com o PCdoB. A coligação não contemplava o PCdoB, o PCdoB está tentando. Eu acredito que vai conseguir o tempo do PT, que isso é possível fazer, essa composição, mas entrar na coligação não existe mais momento apropriado em função do prazo já está tudo esgotado. Esse é o meu entendimento e da equipe jurídica que me assessora.
Neuton Corrêa – Ou seja, o PSB vai estar com o PT, mas não vai estar com o PCdoB que terá Vanessa em sua aliança.
David Almeida : Essa é uma questão para Justiça. (Risos)
Neuton Corrêa – Funcionam que a Vanessa na sua aliança de nenhum jeito?
David Almeida – Olha só: nós temos os nossos aliados quando o PT veio conversar comigo eu já tinha conversado com aliança, com o deputado Chico Preto que vai ser o candidato a senador, que inclusive está aqui. O Praciano tinha sido indicado o candidato do PT. As duas vagas de senador estavam preenchidas até o dia 5. E dessa forma, no dia 6, quando veio a orientação para o Praciano retirar a candidatura, foi enviado senhor Praciano, sem a Vanessa. O time foi lá atrás, após isso, não pode mais se fazer nada. É isso que nós entendemos e é isso que eu estou recebendo a orientação. Então, o time foi perdido, o tempo foi perdido, não existe mais a possibilidade jurídica, no nosso entendimento, de entrar mais um partido na coligação.
Senão, eu vou sair daqui. E vou compor com outro partido do que está na coligação do Omar, do Amazonino. É a mesma coisa. Não tem mais como sair. Não tem mais como mudar. Esse é o entendimento da equipe jurídica que nos orienta.
Israel Conte – Eu quero fazer um rápido retrospecto nessa história de coligação. O senhor começou com 12 partidos, no começo do ano, e fechou a aliança com cinco partidos, perdendo inclusive o PP de Rebecca Garcia, hoje vice de Amazonino.
David Almeida – Não foram os lindos olhos dos meus adversários que tiraram os possíveis aliados do meu lado. Isso é fato.
Existiu aí um processo de cooptação, de assédio, de atração. Como é que eu vou explicar para o meu eleitor que ano passado queria renovação, queria mudança, um candidato, uma candidata vai para a TV e diz: “Eu não concordo, eu não vou apoiar porque é isso, é aquilo, eu não concordo com ele, eu não vou apoiar ninguém. Seis meses depois, eu estou compondo uma chapa com aquela pessoa que eu combatia. É por isso que a política está desacreditada.
As pessoas não acreditam mais nos políticos e as pessoas não acreditam mais que é possível se viver numa sociedade diferente e melhor. É por isso que tanta gente já desacreditou e não quer mais votar, voto em branco, anular o voto.
Como é que o cidadão que hoje falar uma coisa, vai para a televisão falar em nome da família, várias pessoas acreditaram, milhares, quase 20% das pessoas acreditaram. “Eu combato a velha política. Eu combato isso, eu combato aquilo”. Seis meses depois, se rende, muda de ideia, muda de posição.
No ano passado, Israel, eu fui convidado para ser vice na chapa do Amazonino. Eu disse que não concordava, e a candidata que hoje é vice dele saiu numa candidatura para o governo dizendo que também não acreditava e dizendo que queria mudança, queria renovação e nós acreditamos. Eu acreditei muito. Os eleitores do Amazonas acreditaram. Agora mudou, só que eu não mudei. Eu continuo com meu pensamento, com a minha coerência. Eu penso que o Amazonas é um lugar melhor para se viver e pode ser um estado melhor administrado, mas não com as pessoas que estão aí.
Como é que eu vou explicar para população que ano passado eu era presidente do partido, presidente do meu partido me negou aliança e foi apoiar o atual governador e agora esse ano ele vem dizer que está tudo errado. Com que cara eu vou para a televisão? Como eu vou ficar? Como eu vou ficar? Quer dizer que eu tenho que mudar de posição a cada eleição?
Lúcio Pinheiro – Mas, candidato, não é pela mesma circunstância, em que o mesmo momento, em que o senhor era líder do governo Melo na ALE-AM e no outro momento acabou de dizer que entrou no governo e encontrou uma situação de caos?
David Almeida – Veja bem! A eleição te coloca na posição, no lugar onde você vai ficar é o povo. Quem me colocou na posição que eu estou hoje foi o povo. Eu acreditei que no ano passado nós poderíamos mudar com uma candidata.
O povo disse não, não vai ter segundo turno. Então, quem perde vai fazer oposição, quem ganha vai administrar. Quem me colocou na condição que eu estou hoje, foi o povo e que me colocou ao lado do professor José Melo na eleição passada. Foi o povo que elegeu ele governador.
Então, quem tem que determinar é o povo. Existem alianças que não são feitas de forma política. Existem alianças que são feitas para fazer negócio e eu vou mostrar isso durante essa eleição.
Israel Conte – A Rebecca Garcia usou raciocínio semelhante. Ela disse que as pesquisas mostraram, até agora, que o povo quer Amazonino e por isso ela resolveu então aceitar ser vice dele.
David Almeida – Só se foi a pesquisa que fizeram lá dentro da casa do Amazonino, porque aonde eu vou, eu ouço todo mundo dizer que quer mudança. Por isso, eu sou candidato só por uma coisa.
Esse projeto não é meu. No ano passado mais de um milhão de pessoas não votaram, votaram em branco, não compareceram, anularam o voto. Quem ganhou eleição teve 700 mil. Então, eu presumo é o seguinte: o próximo governador do Amazonas não disputou o segundo turno do ano passado. Ele foi eleito com 35% dos votos de todo eleitorado do Amazonas. Tem 65% que não concorda com ele.
Eu faço parte desses 65% e quem me colocou nessa condição foi o povo. Eu quero dizer para o povo que existe possibilidade de vivermos num estado melhor. Essa pesquisa que foi falada…
Neuton Corrêa – Acho que não é pesquisa que falou de resultado eleição. Diz que o resultado da eleição que determinou a vontade do povo.
Israel Conte – A pesquisa…
David Almeida – Pesquisa que diz que ele teve 25%, tem 75% contra. Isso é conversinha que não dá para entrar, não. Se 25% quer o cara, tem 75% que não quer. É nisso que eu estou me baseando numa eleição de sentimento.
Se fosse um projeto meu, eu sairia candidato à minha reeleição de deputado estadual e federal.
Talvez eu acho que me reelegeria, mas esse é um projeto que fugiu. É um projeto do povo do Amazonas, que não aguenta mais sofrer, que não aguenta mais ser lembrado só de quatro em quatro anos. Nós estamos vendo agora os caras só trabalham de quatro em quatro anos, para dar a falsa impressão de que estão ajudando povo e eu vou provar, durante o processo eleitoral, de que é possível você viver no estado com melhores serviços públicos, com melhor gestão, com melhor planejamento e com melhores resultados. Eu sou a prova disso.
Sabe porque eu sou candidato a governador? Porque, no ano passado, eu peguei o estado em frangalhos na economia. Recuperamos a economia: 136 mil pessoas na fila de espera de exame, de uma consulta, de uma cirurgia. Eu fiz a maior promoção da história da Polícia Militar na época, paguei o maior abono da história da educação, dos professores; asfaltei o maior número de estradas e vicinais.
Nós tiramos o Amazonas, o estado, livre da febre aftosa depois de 60 anos. Eu inaugurei o único centro de hemodiálise, desse estado. Nós temos, pela primeira vez, a oportunidade para o plantio de soja no Estado do Amazonas.
Nós zeramos muitas das filas que estavam represadas nos hospitais, nós colocamos remédio nos hospitais da capital e do interior.
É por isso que eu sou candidato. Eu quero dizer para as pessoas que estão sofrendo nas filas, estão esperando remédio. Eu recebi agora, antes de vir para cá, não tem Dipirona nos hospitais, não tem remédio para dor lá no SPA do Coroado.
Você… foi uma pessoa sua no João Lúcio, não tem ressonância. Você sabe quanto custa uma ressonância, um aparelho? R$ 1,6 milhão. O Amazonino deu 5 milhões e meio para o Rudolph Giuliani. Ele poderia ter comprado três ressonâncias e as pessoas não poderiam mais ficar esperando na fila. É contra isso que eu estou lutando.
Eu quero dizer para as pessoas que estão no interior que é possível se viver no estado melhor e nós vamos provar isso através dos nossos planos, das nossas propostas, porque político que só trabalha em época de eleição é igual àquele filho ingrato que só visita a sua mãe no segundo domingo de maio. Nós queremos mostrar para esse estado. Foi possível mostrar nos quatro meses que eu administrei, que é possível se viver no estado, melhor.
Rosiene Carvalho – O senhor iniciou sua fala para a última questão que foi apresentada pelo Lúcio a respeito da Rebecca Garcia, criticando a opção dela nessa eleição em relação ao discurso tão recente da eleição passada, em resumo, o senhor diz que dessa água nunca mais beberá?
David Almeida – No Amazonas existe uma fábrica. Deixa eu ver o termo mais adequado, existe uma lógica: cooptação. Vejam bem, todas as lideranças emergentes que surgiram no Amazonas nos últimos 15 anos, todas foram compradas. Eu não vou citar nomes, porque fica muito ruim. Todos foram captados. E tentaram fazer isso comigo.
Rosiene Carvalho — Mas o senhor saiu de lá.
David Almeida – Eu acreditava, como todos acreditavam, que não tinha dinheiro para pagar professor, que não tinha dinheiro para fazer obra, que não tinha dinheiro para melhorar a vida das pessoas, que não tinha dinheiro para pagar hospital, para comprar remédio. Eu acreditava nisso. Só que, quando sentei na cadeira de governador, vi exatamente o contrário. Eh pá! Está errado!
Neuton Corrêa – O senhor não conseguiu ver isso? O senhor é deputado de três mandatos.
David Almeida — Deputado não é Executivo. Não tinha caneta. Tu não tens as informações. Hoje eu tenho as informações.
Neuton Corrêa — Mas o senhor já foi presidente da Assembleia (Legislativa).
David Almeida — Mas olha só, eu fui presidente da Assembleia, eu estava com dois meses como presidente da Assembleia. Eu sou Legislativo. Legislador, legisla.
Lúcio Pinheiro — Mas fiscaliza?
David Almeida — Fiscaliza, mas você não tem acesso aos números, como eu tenho hoje.
Rosiene Carvalho — Ou não fiscalizava?
David Almeida — Sempre fiscalizou, sempre fiscalizou. Sempre mostrou. Olha só, isso aqui não está certo, isso aqui, não é possível, recua nisso. Queriam fechar os hospitais, (eu disse) não é uma boa medida, não faça isso, ouça sua base. É assim que a gente trabalha.
Agora, você ser, baixar a cabeça para tudo. Por exemplo, porque faltou remédio nos hospitais? Tem 570 dispensas de licitação em dez meses.
Isso é um crime. Numa dispensa só, os caras iam comprar livro de R$ 50, que custa um, R$ 2,18. É por isso que vai faltar remédio nos hospitais. É por isso que vai faltar asfalto no interior. É por isso que vai faltar recursos para investir na segurança e a gente vai sempre falar porque estão sempre fazendo aquilo que fizeram.
Rosiene Carvalho — O senhor não bebe mais dessa água?
David Almeida — Eu estou focado em mudar o Estado do Amazonas. Já não aceitei estar com eles no ano passado. Estou tendo a oportunidade de poder disputar contra eles este ano e eu quero dizer que, com eles, eu não me aliançarei. Escreva aí. Eu falo aqui para você. Não vou me aliançar.
E outra: no segundo turno eu vou estar presente. Você vai ver onde vão estar todos eles: juntos, porque eles nunca estiveram separados. Essa é uma lógica de dividir para enfraquecer.
Eles vão potencializar os dois para fazer o que fizeram no ano passado. Quem foi para o segundo turno? Potencializaram dois ou três candidatos para justamente aquela que pregava renovação, que era Rebecaa não ir para o segundo turno.
Estão todos juntos.
Eu vou provar nessa eleição que o diferente sou eu, quem não quer continuar sou eu. No segundo turno, vocês vão ver muito claro, inclusive, eu serei atacado por todos eles. Você vai ver.
Neuton Corrêa — Numa hipótese de que o senhor não esteja no segundo turno, o senhor ficar fora da eleição.. .
David Almeida — Eu vou logo afirmar aqui: no segundo turno, eu não acompanho nem o Amazonino nem o Omar. Eu estou falando o que eu afirmo.
Rosiene Carvalho — Poxa, o Omar disse aqui que é seu amigo.
David Almeida — Ele é meu amigo.
Roseane Carvalho — Ele fez uma sinalização.
David Almeida — Meu amigo, gosto dele, mas eu vou falar categoricamente. O que o governante precisa para mudar o seu estado? Precisa de tempo, dinheiro e apoio político. O Amazonino já teve todo tempo do mundo, o Omar também. É preciso se dar uma nova oportunidade. Se eu prego a mudança, a renovação por que eu vou ter que retromarchar para apoiar novamente eles?
Então para que fique claro, eu não apoio. Mas, na verdade, eu vou para o segundo turno. E vocês vão ver que eles que vão se juntar contra mim.
Lúcio Pinheiro — O senhor até já explicou em várias ocasiões [sobre acusação de ter participado de um golpe bilionário na Superintendência de Habitação do Amazonas (Suhab)], mas o fato que chama atenção é o senhor dizer que ficou sabendo do contrato pela imprensa. Isso não é um pouco contraditório com essa habilidade que o senhor julga ter na gestão pública? O governador ter conhecimento de um contato que, segundo informações, renderia mais de R$ 20 bilhões para o governo?
David Almeida — R$ 27 bilhões!
Lúcio Pinheiro — E o governador só ter informação que o secretário está trabalhando num contrato dessa natureza ao terminar o mandato?
David Almeida — Aquilo que se quer pregar como grande problema, na verdade, é a grande solução para tudo o que o estado tem enfrentado. A Suhab tem autonomia administrativa, jurídica, tudo isso. Os atos do superintendente da Suhab não precisam passar pelo governador. Ele tem uma assessoria jurídica. Os contratos do estado, sim, precisam da anuência da Procuradoria Geral.
Esse contrato foi feito à revelia do governo do estado, no caso do governador. A empresa procurou a Suhab e disse: olha, nós recuperamos ativos. E, segundo a empresa, existem R$ 27 bilhões em ativos. É o que ela diz ter.
Se esse dinheiro existir, uma das primeiras medidas que eu vou fazer, Neuton, voltando para a sua primeira pergunta, é ir atrás desse dinheiro.
É um contrato de risco. Se eu recuperar, encontrar esses ativos, que não são recursos, se esses ativos entrarem, eu tenho direito a 20%. O superintendente disse: tudo bem. Se entrarem, não tem risco nenhum para o estado. O estado volta, não vai sair um centavo dos cofres do estado e não vai sair.
Se a empresa recuperar, ela tem direito a 20%. São R$ 5 milhões. Ainda sobram R$ 27 bilhões para o estado. Se esse dinheiro existe, como essa empresa está falando, é a solução para todos os nossos problemas do estado. E eu vou atrás.
Sabe o que está acontecendo. É porque a empresa entrou na Justiça. Não sabe? É que chamaram a empresa e queriam distratar para contratar outra empresa, para fazer esse serviço. A empresa disse: quem encontrou os ativos fui eu. Se vocês recuperarem, os 20% são meus. Eu vou entrar na Justiça, porque é direito nosso.
Sabe o que pode fazer com esse dinheiro? Pagar toda a dívida consolidada do estado: R$ 6,5 bilhões. Sobra dinheiro para fazer a BR-319, a BR-230, a Transamazônica. Dá para duplicar A AM-070, AM-010. Dá para se fazer 80 mil casas populares. Dá para você asfaltar todo o interior, fazendo saneamento básico em todo o interior também na capital.
Se governador eleito for, se esse dinheiro existe, isso que estão querendo jogar em cima de mim que é um problema, é solução para tudo e todos os problemas do estado do Amazonas.
Lúcio Pinheiro — Mesmo secretário não informado dessa ação, ele fez um bom negócio com o senhor avalia isso?
David Almeida — Se esse dinheiro existir, se entrar, foi um bom negócio.
Rosiene Carvalho – Acho questões relacionadas ao seu palanque são bem polêmicas, então eu vou aqui arriscar mais uma perguntinha a respeito disso. Inclusive, nesse momento, está acontecendo agora uma coletiva da senadora Vanessa Grazziotin a respeito destas confusões todas, de última hora, em relação a possibilidade de saída do PT. E aí o senhor tem uma postura muito clara, não tem vergonha nenhuma, assume com muita espontaneidade sua posição religiosa. E os evangélicos, no Congresso Nacional, eles têm uma postura muito conservadora, reacionária até, em relação a descriminalização do aborto, relacionada aos direitos do LGBT, relacionadas a uma série de questões que a esquerda abraça muito claramente, inclusive o PT, que está na sua coligação, tem posicionamentos muito claros a esse respeito. Como o senhor vai lidar com isso ou essa aliança é apenas para tentar lhe favorecer no jogo político, na questão do tempo, ou o senhor acha que vai conseguir agregar essas bandeiras do seu possível aliado?
David Almeida – Vamos lá. Eu estou fazendo uma aliança política para salvar o Estado do Amazonas, para revolucionar o Estado do Amazonas. Essa é a proposta da nossa aliança. Com relação ao conteúdo programático, as ideologias do partido, os meus princípios e valores são inegociáveis.
Agora, vamos falar de direitos civis. Respeito todos os pensamentos, respeito todas as minorias. Eu sou de um bairro aonde, na esquina da minha casa, tem um batuque, uma casa de macumba. Sou amigo deles de infância, inclusive, ontem, almocei lá no restaurante da neta da dona Zulmira. Convivo e respeito todos eles.
A 100 metros da minha casa tem uma igreja católica e eu tomava benção do padre quando era criança. Ia para minha igreja, sempre fui, mas sempre respeitando a Igreja Católica. Sou apoiado pela escola de samba do meu bairro, sem frequentar a escola de samba.
O político tem que saber discernir, tem que saber respeitar, eu tenho que saber me comportar em sociedade para poder aceitar o contrário, o pensamento diverso do meu, até para que ele aceite o meu.
É assim que eu vejo. Com relação aos meus princípios, eles são inegociáveis, porém eu vivo numa sociedade onde estamos debaixo dos ditames da lei. E direitos civis todos têm o seus, precisamos respeitar, desde que respeitem os meus também. É assim que eu penso.
Rosiene Carvalho – Como é que um LGBT desrespeitaria o seu direito ao lutar pela ampliação do direito dele?
David Almeida – Eu não vejo. Eu não vejo. Ele poderia desrespeitar meu direito se quisesse contrair matrimônio dentro da minha igreja. Isso aí é inconcebível para mim, mas eu respeito tanto, que eu tenho muitos que trabalham comigo, convivem comigo, andam na minha casa, eu respeito todos eles. Gosto deles.
São pessoas queridas, amadas, pessoas que têm o sofrimento e precisam da acolhida do estado. E nós temos políticas públicas para abrigá-las, para ajudá-las. Nós temos na doutora Graça Prola, que me ajudou a escrever o plano de governo, políticas públicas para as minorias, de inclusão social, que não discrimina ninguém. Eu preciso respeitar e eles me respeitarem.
Rosiene Carvalho – Eu tenho uma dúvida em relação ao seu posicionamento e a pesquisa interna que foi feita mostrando uma rejeição da Vanessa Grazziotin, em função das bandeiras que ela defende e do seu eleitorado evangélico. A gente tem exemplo de políticos, que também são da ala evangélica, que eles acabam agregando, somando, digamos assim, outros segmentos, não só do voto evangélico, porque eles, apesar de uma massa muito grande das pessoas que se declaram evangélicas, eles consideram que não é o suficiente para elegê-los e aí acabam alcançando pecadores, pessoas com outras convicções religiosas. Eu lhe pergunto, os adventistas, a sua religião, eles ainda são uma quantidade menor aí pelo censo, pelas pesquisas aí do IBGE. O senhor acha que o seu discurso não exclui ou pode criar uma rejeição em relação ao outro eleitorado? O senhor abre mão desses votos?
David Almeida – Eu não abro mão de voto nenhum. Eu sou de uma igreja que não tem projeto político e partidário. É uma igreja apolítica e apartidária. Não se faz política. Eu não sou candidato da igreja, sou membro da igreja, somente isso. E, dentro da igreja, não existem filosofias políticas nem correntes partidárias nenhuma.
Para você ter uma ideia, eu nunca nem reuni com o grupo de pastores da minha igreja para pedir orientação política do que eu faço, no que eu vou votar, no que eu vou defender, não precisa disso, não precisa disso.
Eu preciso me comportar como um cidadão que respeita o direito das pessoas, direito das minorias, que trata bem a todos, que respeita evangélicos, católicos, espíritas, que professam religiões africanas. Inclusive me dou muito bem com eles, eu respeito e participo na Assembleia [Legislativa] de solenidade com eles.
Consigo conviver tranquilamente. Esse rótulo não cabe em mim, de posição fundamentalista.
Israel Conte – Plano nacional. Presidência da República. Tem candidato na sua chapa que apoia o Bolsonaro e tem o PT, que é Lula de corpo e alma. O seu partido, o PSB, orientou a neutralidade nos estados. Eu queria que o senhor avaliasse rapidamente esses dois nomes. Lula, que o PT insiste em colocá-lo na eleição, mesmo já sendo inelegível pelo TSE, e o Jair Bolsonaro, que é líder nas pesquisas quando o ex-presidente Lula não está entre as opções. Como é que o senhor avalia Jair Bolsonaro e Lula?
David Almeida – Vamos lá. Na minha coligação ainda tem o Podemos, que tem o candidato Álvaro Dias. Respeito o Álvaro Dias. O partido do Bolsonaro, o PSL, não está na minha coligação, está na coligação do Amazonino. Vou ser bem claro.
O que existe é uma manifestação de um aliado nosso que manifestou voto, ele é livre para manifestar o voto dele. O que eu vejo hoje é um Brasil que está muito nos extremos. É muito esquerda ou é muito direita.
Eu não estou preocupado com essa questão. Eu estou preocupado com uma proposta de mudança para o nosso estado. Quem tem o seu candidato a presidente que o faça, porque eu vou seguir a orientação do meu partido, de estar neutro na eleição.
Eu vou decidir o melhor candidato que eu vou votar e eu não tenho nem como indicar, porque o partido me orienta a não me manifestar. Então, nesse meio, muito esquerda muito direita, temos de convergir numa ideia que possamos ajudar o Estado do Amazonas. É assim que eu vou me comportar.
O partido do Bolsonaro é o PSL está na coligação do Amazonino. Não na minha. Então quiseram colocar, rotular, nós temos sim uma pessoa que expressou seu voto com relação ao Bolsonaro, que eu respeito, como tem gente que vota no Álvaro Dias que nós respeitamos. E tem gente na nossa coligação que vai votar em outros candidatos como a Marina, não tem problema nenhum.
Professor Anísio Felipe (internauta) – Quais são as suas propostas para a educação?
David Almeida – Olha só, eu tenho uma ideia muito boa para educação. Os melhores índices de educação, no Amazonas, são das escolas militares. Nós queremos poder fazer uma parceria com as empresas do Distrito Industrial. As empresas, por exemplo, como a Samsung, a Moto Honda, Yamaha, a LG, adotando uma escola numa área de vulnerabilidade social e assim darmos as mesmas condições de ensino que têm as escolas militares. Portanto, é uma das nossas propostas, além de fazer parceria no interior, aonde existam unidades do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Fazer com que essas unidades também possam assumir as escolas que estão lá no interior é uma das nossas propostas para educação, para melhorar os nossos índices.
Veja o vídeo da sabatina de David Almeida:
BNC SABATINA | Episódio com David Almeida (PSB)
Posted by BNC on Wednesday, August 15, 2018
Foto: BNC Amazonas