Candidato à direção do Inpa é denunciado ao MPF; escolha na reta final

A disputa pela indicação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI) à direção do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) ganhou outro capítulo polêmico.

Um dos candidatos à direção do Inpa, professor Henrique dos Santos Pereira, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), sofre denúncia no Ministério Público Federal (MPF).

Isso ocorre no momento em que os candidatos acabam de fazer sabatina individual, pelo comitê de busca do MCTI (foto).

Dessa forma, um grupo de seis pesquisadores, sob liderança de Lucas Ferrante, da Ufam, entrou com representação junto ao MPF.

Eles alegam “más práticas científicas” por conta de um estudo de Henrique Pereira sobre covid-19.

Portanto, em 10 de maio de 2020, o boletim Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Atlas Amazonas (ODS), publicou estudo sobre a covid-19.

Nesse estudo, Pereira defendeu que o coronavírus sofreria uma remissão ‘por conta própria’.

Logo, essa afirmação fez com que gestores públicos afrouxassem as medidas sanitárias em Manaus.

Segundo a denúncia feita ao MPF, Pereira atentou não apenas contra a integridade científica, mas contra a tomada de decisão durante a pandemia de covid-19.

Com isso, teria induzido erroneamente decisões de gestores, como decisões individuais que resultaram na quebra precoce do isolamento social em Manaus, capital do Amazonas.

“Com base em artigo científico, com revisão dos pares, comprovou-se que os ‘estudos’ coordenados por Henrique dos Santos Pereira tiveram más práticas científicas”, afirma.

Manipulação de dados

Prosseguem os pesquisadores:

“Assim como houve manipulação de análises estatísticas, o que teve papel de influenciar tanto decisões pessoais como de tomadores de decisão em Manaus para o fim do isolamento social”.

O que, nos argumentos dos pesquisadores, contribuiu no recrudescimento da pandemia.

Além de Ferrante, assinaram a representação Alexandre Celestino Leite Almeida, Jeremias Leão, Ruth Camargo Vassão, Rodrigo Machado Vilani e Unaí Tupinambás.

Foram esses pesquisadores que publicaram, ainda em 2020, no Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, artigo científico contestando a pesquisa de Henrique Pereira.

Entre os autores dessa publicação estava o pesquisador Philip Fearnside, do Inpa, que agora não assinou a denúncia ao MPF.

Direção do Inpa

Dessa forma, o grupo ora denunciantes de suposta má conduta científica de Henrique Pereira, ressalta que o professor da Ufam consta na lista de candidatos a pleitear o cargo de diretor do Inpa.

“Sendo esse um importante instituto de pesquisas em âmbito nacional como a toda a região Amazônica, apontamos que é incompatível suas condutas com a ocupação deste cargo”.

A avaliação dos denunciantes é de que, sendo de interesse público, que se garanta a ocupação de tal cargo por alguém com histórico de boas práticas científicas.

“Injúria e calúnia”

Há duas semanas, cerca de 100 pesquisadores do Inpa divulgaram manifesto em favor do professor Henrique dos Santos Pereira, da Ufam, o favorito na disputa.

Tal documento, assinado por professores e pesquisadores de renome na pesquisa científica da Amazônia, classificou notícias veiculadas na mídia amazonense como injúrias e difamação contra Pereira.

Isso porque a revista Cenarium publicou reportagem tratando do estudo de Henrique Pereira e o artigo de Lucas Ferrante e pesquisadores.

Demonstrando assim os supostos erros na pesquisa do professor da Ufam.

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Negação

Porém, tanto Lucas Ferrante quanto a Cenarium refutaram a tese dos apoiadores de Henrique Pereira que a reportagem e o artigo dos pesquisadores traziam injúria ou difamação contra o candidato ao Inpa.

No último dia 13 de agosto, a revista Cenarium publicou extenso editorial traz o manifesto dos pesquisadores do Inpa assim e rebate ponto a ponto o documento.

Principalmente as acusações de injúria, calúnia e difamação contra o professor Henrique Pereira.  

Já Lucas Ferrante alega que no manifesto dos 100 pesquisadores, não há menção das injúrias o que não pode ser associado à denúncia ao Ministério Público Federal.

“Seis pesquisadores, da Ufam, não iriam comunicar um crime falso ao Ministério Público. Inclusive, nós estamos apresentando essas evidências de más práticas científicas”, argumenta.

Sem candidatura

O pesquisador da Ufam também refuta a vinculação a alguma candidatura ao Inpa assim como ter qualquer aproximação com candidatura bolsonarista que possa existir na disputa.

“Nós sequer temos um candidato nem estamos defendendo qualquer outro nome, pois, existem pelo menos outros três.

E continua:

“Mas, estamos demonstrando que um cargo de direção da instituição mais importante de pesquisa da Amazônia, essa pessoa não pode ter um histórico de más práticas científicas”, reiterou.

Antibolsonarismo

Do mesmo modo, Ferrante nega que em seu grupo haja bolsonarista tentanto “melar” a candidatura de Henrique Pereira à direção do Inpa.

“Eu tenho amplo histórico de bater no bolsonarismo visto que derrubei um decreto do Bolsonaro através de um artigo científico fazendo ciência de qualidade”, declarou.

Segundo ele, a Environment Conservation publicou artigo demonstrando desmonte ambiental de Bolsonaro e criticando as ações do ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles.

Fase final

A respeito de toda essa polêmica envolvendo seu nome em denúncia no MPF e na disputa pelo Inpa, o professor Henrique dos Santos Pereira não quis se manifestar.

Em processo de avaliação individual dos concorrentes, que está ocorrendo em Manaus, três candidatos disputam o cargo.

Além de Pereira, da Ufam, também estão sendo sabatinados nesta quinta-feira (24) os pesquisadores Bruce Rider Forsberg e Carlos Cleomir de Souza Pinheiro, ambos do Inpa.

Na última hora, a doutora em Ecologia e Biologia Evolutiva, Marina Anciães, desistiu de concorrer ao cargo de diretora do Inpa.

Por fim, após a avaliação, uma lista tríplice vai à ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. É ela quem vai escolher um dos três indicados.

Foto: Camila Barbosa/Ascom/Inpa